A auréola de democrata que erradamente se insiste em atribuir ao dr. Mário Soares tem
sido contraditada pela sua própria conduta pública. Mas agora, velho,
incontinente verbal a dizer o que dantes o coarctava a ambição e a
evidenciar a sua verdadeira natureza, aí o têm a recandidatar-se a
presidente da República.
No que diz respeito ao Ultramar
português, Soares esforçou-se de forma empenhada para que o processo se
passasse como se passou. Contrariamente ao que diz e à fama que se
auto-atribui.
Em tempos de PREC, o dr. Soares cativava inocentes
com promessas de consultas populares, a serem feitas cá, e lá, mas a
verdadeira intenção era não perguntar nada a ninguém e entregar todo o
nosso território ultramarino a elementos directissimamente ligados ao
estalinismo soviético. Soares executou, objectivando-o, um desiderato do
Partido Comunista. É assim deste personagem a responsabilidade pelo que
considero ter sido, e ser ainda, a maior catástrofe nacional a
destruição, traiçoeira e vil, de um ideal eminentemente português e a
sequente, horrorosa e previsível mortandade que se seguiu.
A
gravidade deste horror indescritível vem ainda do facto de nunca ninguém
ter investido Soares de poderes para dispor de território nacional. Nem
mesmo isso seria jamais possível, por muito que invoque a legalidade
revolucionária (que substancialmente não foi legalidade alguma, por se
ter traduzido naquilo em que se traduziu destruição de Portugal). A
partir daqui, o que se passou é da enorme responsabilidade de uma pessoa
imputável há 81 anos e que dá pelo nome de Mário Soares. A
"descolonização exemplar" foi "exemplarmente" criminosa, e é
imperdoável, tendo em vista a sua enorme gravidade.
Na nossa
entrada na CEE o género continua. Depois de consultar técnicos, por si
escolhidos, e aqueles o terem esclarecido de que não seria naquela
altura, nem por aquele processo, que deveríamos entrar na então CEE,
Soares, à revelia de tudo e de todos, comprometeu-se com Bruxelas e
"implorou" que nos aceitassem. Segue-se a cedência de tudo a todos e o
desprezo olímpico pelos pareceres que iam no sentido oposto. Para
defesa do indefensável, Soares não se cansa de nos tentar convencer de
que não haveria alternativas. Só que havia. E várias. A que escolheu era
a pior. Todas eram melhores, incluindo a entrada na CEE, mas bem
negociada.
Soares, com o maior dos desaforos tem assumido atitudes
quase majestáticas, como se tudo lhe fosse devido, reivindicando
"direitos" que o têm colocado em ridículos patamares, como que a
cobrar-se por uma resistência que está longe de ser a tal desgraça de
que se queixa. Só que o que se deveria passar seria exactamente o
contrário. Por razões de gravidade infinitamente menor das que vêm
descritas em documentação vastíssima, e não desmentida, como na de Rui
Mateus, entre outra, e pelo que está gravado na memória de centenas de
milhares de espoliados do Ultramar, até o Ministério Público já, de
alguma forma, se pronunciou. Havendo mesmo um notável parecer do prof.
Cavaleiro Ferreira, eminente penalista, que por completo esclarece a
situação. Mas o Dr. Soares, estranha, presumida e humilhantemente para
todos, arroga- -se o direito de ter direitos que ninguém mais tem.
Mário
Soares está ainda longe de ter sido o responsável, como se diz, por
vivermos neste simulacro de democracia. O que se passou foi que, no
segundo 1.º de Maio depois de 74, quando Soares se pretendia juntar aos
comunistas, foi por estes rejeitado. Só mais tarde, e por ter percebido
que se não se afastasse do PC teria a sorte que tiveram as dezenas de
centros regionais daquele partido, que foi terem ido pelo ar na
sequência de reacções populares, aproveitou para inventar o chamado
socialismo democrático, que nunca ninguém percebeu muito bem o que é,
mas que é do que tem vivido até agora.
Soares, como governante,
foi ainda pouco menos que uma nulidade. Nos Governos Provisórios foi o
desastre que se sabe. Em 1978 foi demitido pelo gen. Eanes por má
governação. Em 1983-85 frustrou completamente os acordos de coligação
com o PSD, que permitiriam a Portugal desenvolver-se e modernizar a
economia. Em 1983-85, com Soares no poder, a inflação chegou a uns
impensáveis 24% e o défice desses governos alcançou a vergonhosa marca
de 12%! O País estava quase sufocado pela dívida externa e viveu, até
essa data (1985), praticamente com as estruturas do Estado Novo e com
empréstimos do FMI. Tudo por culpa da teimosia do dr. Soares que,
obstinadamente, se recusava a rever a Constituição que permitiria uma
liberalização da nossa economia. Facto este que estava previsto nos
acordos de coligação entre o PS e o PSD em 1983. O radicalismo de
esquerda, no Verão Quente, foi, mais uma vez, bem mais da
responsabilidade de Mário Soares do que do PC, realidade que está na
base do estado actual de Portugal.
Por todas estas, e por muitas
outras razões, Mário Soares é a figura política que mais e mais
gravemente prejudicou Portugal em toda a sua existência. Outros terão
tentado, como Afonso Costa, mas, graças a Deus, não conseguiram. Mário
Soares conseguiu. Assim, e usando a expressão que ele próprio usou com
um GNR que o servia, exijo-lhe dr. Mário Soares deixe-nos em paz.
Desapareça.
jmportugal@hotmail.com
In DN em 2005
In DN em 2005