sexta-feira, 28 de outubro de 2016

No tempo do Caparandanda


O povo de Quissange era refractário ao serviço de ganho,  velhaco, desconfiado e muito propenso ao roubo. 

Havia nesta região muitos bandos de salteadores que viviam a emboscar e a assaltar os viajantes, no «Bundianoi» e na «Alunga». 

Estes casos eram frequentissimos em todas as epocas. Estes assaltos veem desde antigos tempos, n'elles se tornou celebre o liame de Caparandanda, do quarto para o quinto periodo, filho do soba Culembe. 

Caparandanda, moço de grande robustez física e de genio arrebatado, levava uma vida de ladrão á mão armada, feito chefe de salteadores. Esperava as comitivas na sua passagem por Quissange e aassaltava-as, roubando-as, sendo o seu principal fito as vazilhas de aguardente que levavam. 

De nada serviam as queixas do gentio e dos negociantes ao soba pai, nem as  admoestações d'este. 

Por fim, Caparandanda chegou ao ponto de se tornar um insubordinado e desobediente á autoridade paterna, chegando a  ameaçar de morte o 'proprio pai. 

Culembe, que era um bom soba, muita estimado peloo seu povo e por todo o povo de Catumbella, mandou dizer ao negociante Antonio Pinto dos Santos, dono do talho da Catumbella, e de quem era muito amigo, que em seu nome pedisse ao Governo a prisão de seu filho Caparandanda, afim de põr termo ás suas tropelias, promptificando-se ele, Culembe, a ajudar o Governo na prisão do filho.

O pedido do soba foi immediatamente atendido, organizando-se uma expedição composta por elementos  militares e civis, e que ficou conhecida entre os indigenas por «Guerra do Caparandanda», efectuando-se a sua prisão em Quissaange, e deportando-se. para fora da província o celebre salteador.

Texto de Augusto Bastos, Maio de 1909