quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Peido, o novo elixir do amor

Um estudo científico confirma que cheirar peidos previne o câncer e alarga o seu tempo de vida Todos o fazemos. Ricos, pobres, jovens, velhos, reis ou até o Papa. Aos peidos ninguém escapa. 
É uma função natural perfeitamente normal e necessária para o nosso corpo; no entanto, há poucas coisas tão socialmente estigmatizadas como peidar.  Um peido fora de tempo pode estragar uma relação, uma reunião de família e até mesmo deixar-nos sem trabalho. 
Até agora.

Um estudo da Universidade de Exeter, na parte antiga da cidade de Devon, no sudoeste de Inglaterra, publicou um relatório inovador que demonstra, com argumentos científicos, que os peidos ajudam a reduzir o risco de câncer, previne a demência, são bons para evitar enfartes, curar a artrite e são o melhor antídtiodo contra os ataques ao coração. 

Aparentemente, os gases libertados do anus alheio podem mesmo aumentar a longevidade. 
Embora pareça uma brincadeira de mau gosto, trata-se de um sério achado científico que encontrou uma grande correlação entre o fato de estar exposto a estes gases e um significativo aumento na expectativa de vida das pessoas. A descoberta surpreendeu a comunidade científica

O aumento na expectativa de vida é semelhante ao que ocorre nas pessoas que mudaram seus hábitos em aspectos tão revolucionários como dieta balanceada, atividade física, ou deixaram de fumar. 
O mesmo se poderia afirmar, sem temor de errar, que cheirar peidos poderia ter um impacto semelhante na regeneração celular que experimentaria um ex fumador após mais de uma década sem experimentar um cigarro.

O responsável é o sulfeto de hidrogênio, um dos componentes dos gases intestinais. 
Ao contrário do que se acreditava, os pesquisadores afirmaram que não são os micróbios gástricos os responsáveis pelo mau cheiro, mas a molécula da bosta apodrecida.  Aparentemente, este químico tem inúmeros efeitos benéficos sobre o organismo do quem o inala. Quando as células estão "setressadas" produzem enzimas para criar sulfureto de hidrogénio de forma natural. Graças a isso, preservam as mitocôndrias, que regula a inflamação e aumenta a produção de sangue em todo o nosso organismo.

Cheirar peidos alheios seria uma forma natural de doparnos com produção de importação. 
É uma sensação semelhante à que regularía o bem-estar emocional e a atividade cerebral, e explicaria a incidência directa entre a esperança de vida dos que vivem sozinhos, e dos casais.

Então, já sabem.  
Se amam realmente outra pessoa, brinde-a com uma boa sessão de flatulência. 
E  não há nada mais bonito na vida do que compartilhar tudo isso. Barato, natural e do mais profundo da alma. 
Mover o lençol para que faça o upload de uma bafurada de madrugada, deixou de ser uma guerra para se tornar numa mostra de generosidade e de amor sem limites. 
É o que diz a ciência.

domingo, 5 de novembro de 2017

Partidocracia inoperante

A eternização no poder pelo poder tem tornado as máquinas partidárias gradualmente mais pragmáticas. A identidade tem dado lugar ao oportunismo e a seriedade à conveniência.
Em Portugal, dentro dos partidos políticos, sobretudo dos que integram o arco da governação, mantém-se um sistema de aparência democrática na elegibilidade dos seus dirigentes. O défice democrático começa na profissionalização das elites e pessoal partidário, que não conseguem viver de outra atividade senão da própria política. A começar nos que precisam de lugares eletivos ou de nomeação para sustentarem a família e, por isso, obrigados a caucionar a sua designação para as listas partidárias.
A garantia de estabilidade da classe dirigente conduz ao controlo pertinaz das estruturas de base, levando às relações de vassalagem. A cadeia tem a sua lógica: quem ainda não tem poder torna-se próximo dos influentes e passa a contribuir para os fortalecer de forma a também ser escolhido mais tarde. E, assim, começam a levedar as oligarquias internas que filtram os seus elementos, de modo a ficarem só os que não as ponham em causa. Todos os que representarem ameaça serão ostracizados e tendencialmente eliminados. Generaliza-se o comportamento de cartel, constituindo-se um casulo fechado, apenas recetivo àqueles que o beneficiarem.
O funcionamento interno dos partidos chegou a um tal ponto de corrupção que põe em cheque a legitimidade do sistema partidário. A promiscuidade entre o apoio político e a compensação de cargos no Estado determina os jogos de poder. A ocupação dos lugares com base numa lógica de pagamento de favores e distribuição de sinecuras, em vez de se ter em conta a qualidade, o mérito ou a prossecução das políticas públicas prometidas em campanha aos eleitores, vai descredibilizando a política e os seus agentes. Cada vez mais a energia interna dos partidos provém de práticas sem ética, que se normalizaram no sistema e que vão estimulando populismos irresponsáveis a despontar um pouco por toda a Europa.
Está na altura dos partidos começarem a mudar por dentro e terem a coragem de abrir o corpo do monstro. A perpetuação das oligarquias e a generalização da sucessão dinástica ao nível das distritais, das concelhias ou das juventudes partidárias impede a conflitualidade interna e permite passar uma imagem de coesão partidária útil ao marketing político. A eternização no poder pelo poder tem tornado as máquinas partidárias gradualmente mais pragmáticas. A identidade tem dado lugar ao oportunismo e a seriedade à conveniência. Enquanto não se partir para uma reforma profunda, responsável e rigorosa do sistema político português, em que todos estes temas são tratados sem peias, não poderemos ambicionar por representantes que defendam genuinamente o interesse coletivo.
Com todos os seus defeitos, os partidos continuam a ser o pilar da democracia, mas o desvirtuamento dos seus métodos e princípios também pode transformá-los num perigo para a sustentabilidade da mesma.

Pedro Borges de Lemos
Advogado e Militante do CDS-PP.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Fernando Rosas: a impostura do marxista que nega Marx.

1. Corre presentemente na RTP-2 um programa da autoria de Fernando Rosas intitulado História a História - África e que se apresenta com a pretensão de oferecer um quadro terrífico do impacto da presença portuguesa em África nos séculos XIX e XX. Confiado a um historiador ideologicamente comprometido e que pouco ou nada sabe de África, História a História é um exercício desonesto, anti-científico e declaradamente anti-português na análise do último século do sistema luso-africano. Para Rosas, ferido de parcialidade, cegueira, incontida má-fé e pobreza extrema nas fontes historiográficas e bibliografia datada de que se socorre, a colonização portuguesa constituiu um desastre para o conjunto dos povos por ela tocados.
2. Rosas é um marxista - que o seja - mas o seu discurso, feito de respingos de Basil Davidson (autor de O Fardo do Homem Negro) e de clichés retirados do movimento da chamada negritude, corrente literária e emocional que entre as décadas de 1940 e 1960 fez furor entre os independentistas africanos, constituiu, afinal, uma profunda contradição com o método de análise marxista, sua periodização histórica, tipos de sociedade, modos de produção e dinâmicas que o materialismo histórico oferecia para a compreensão evolutiva das sociedades. É sabido que Marx e Engels tinham de África uma visão eurocêntrica, própria do século XIX, considerando as culturas e sociedades africanas estáticas, petrificadas, despóticas e irrelevantes, pelo que a colonização europeia surgia como uma necessidade para a integração do continente negro nos sendeiros do progresso. Se fosse coerente, Rosas entenderia a colonização como um processo de integração de África na vida planetária e veria nos métodos da colonização um queimar de etapas que levaria à mudança do modo de produção primitivo, antigo ou feudal (consoante as regiões africanas) em modo de produção capitalista. Rosas parece querer esquecer que, em Marx, a chamada acumulação primitiva de capital accionada pela colonização - implicando uso da força de trabalho, instituição da propriedade privada e monetarização económica - teriam necessariamente efeitos chocantes nas sociedades expostas a súbita mudança. Marxista, Rosas deixa de o ser para carpir as dores de um processo. Fá-lo, porém, com evidente má-fé.
3. Para um marxista coerente - que Rosas não é - não seria necessário ir a África para estudar as dores dos períodos de transição de formas "arcaicas" de organização social e económica para o capitalismo. Seria importante lembrar que a Inglaterra exerceu sobre o seu próprio povo aquilo de que Rosas vem cinicamente acusar os portugueses. O povo inglês foi, lembremo-lo, submetido durante mais de duzentos anos ao processo de acumulação primitiva de capital pelos industriais capitalistas, embaratecimento do custo do trabalho e até a formas de trabalho forçado a extremos que nunca se verificaram em África. Na Grã-Bretanha, durante quase dois séculos, as "mais-valias" que os capitalistas retiraram do trabalho dos trabalhadores excederam largamente as práticas colonialistas. Ao quadro de exploração oferecido por Charles Dickens nos seus romances, importa lembrar as famosas workhouses, centros de detenção destinados a pobres, onde milhões de britânicos foram confinados sem retribuição salarial e onde cerca de três milhões terão perecido por doença, maus-tratos e fadiga extrema.
4. Ora, na colonização da África portuguesa, tal "processo primitivo de acumulação primitiva" de capital foi curto. Terá começado por volta do início do século XX com o chamado regime do indigenato e terminou em inícios da década de 1960. Portugal conseguiu em sessenta anos em África aquilo que os britânicos realizaram ao longo de 200 anos; realizar uma dupla revolução económica e social que tratou de instaurar o capitalismo e a cidadania plena, finalmente alcançada em 1961, quando o bilhete de identidade de cidadão português foi atribuído a todas as populações dos territórios portugueses africanos. A passagem da uma economia de grandes lucros para os detentores dos meios de produção para uma economia distributiva, ou seja, de repartição da riqueza e dos bens em benefício das populações, alcançou na África portuguesa resultados nunca alcançados em economias africanas. Nem mesmo a África do Sul, o país mais rico de África, o conseguiu, dadas as características segregacionistas e racistas próprias do regime do Apartheid. A análise estatística do desenvolvimento social e humano atingido em Angola e Moçambique no início da década de 1970, oferece o quadro de um imenso sucesso de integração. Portugal tinha, em 1970, o melhor sistema de ensino do continente, o melhor sistema de saúde, a melhor legislação de inclusividade, as melhores práticas de favorecimento e ascensão social e, até, o mais rápido processo de harmonização social."
Miguel Castelo-Branco