domingo, 9 de agosto de 2009

Love Is Blue...

O azul é uma das três cores primárias (as outras são o amarelo e o vermelho), ou seja, não resulta de uma mistura de outras. O azul puro, sobretudo usado nas gráficas, designa-se cião. Antes dos pigmentos sintéticos utilizados no fabrico desta cor, os pigmentos azuis eram raros e caros, daí que o azul simbolizasse a riqueza. Eva Heller, psicóloga e autora do livro "Psicologia das Cores", garante que é a cor que tem mais adeptos no mundo ocidental.

Porque é que o céu é azul?
Durante o dia, o céu parece sempre azul, embora com intensidades que variam de dia para dia. No Verão, são frequentes os períodos em que o céu parece muito menos azulado do que noutras ocasiões do ano. Portanto, a coloração do céu não pode resultar de luz vinda de fora da atmosfera - se fosse, não haveria variações, e o céu à noite não seria escuro. Após várias hipóteses lançadas e estudadas por alguns físicos, concluiu-se que a luz solar que atinge as moléculas gasosas da atmosfera terrestre é absorvida e, depois, difundida em todas a direcções e com comprimentos de onda que vão do vermelho ao violeta. Descobriu-se que um fotão de luz vermelha provoca a emissão de oito fotões "azuis", razão pela qual somos inundados por luz azul vinda de todas as direcções. Na verdade, as outras cores também chegam aos nossos olhos, só que o azul é muito mais intenso. A explicação é do astrónomo Máximo Ferreira, director do Centro Ciência Viva de Constância.

E o mar?
Não, o mar não é azul por reflectir a cor do céu. Como explica a presidente do Instituto de Oceanografia da Universidade de Lisboa, Isabel Ambar, a luz solar (composta pelas cores do arco-íris, a que correspondem radiações com diferentes comprimentos de onda) penetra no mar e é, em parte, reenviada para fora, mas já sai com características diferentes das que tinha ao entrar. A água absorve a luz vermelha e amarela logo nos primeiros metros do oceano. A fracção da luz que resta corresponde aos azuis e aos verdes.Por outro lado, as partículas existentes na água (as próprias moléculas ou, por exemplo, sedimentos em suspensão) difundem a luz que nelas incide, com as cores não absorvidas: o azul e o verde. Destas duas cores, a que sofre maior difusão é precisamente o azul, que, reenviado através da superfície do mar, chega aos nossos olhos. Se houver pigmentos de clorofila ou outras substâncias orgânicas dissolvidas na água, elas absorvem grande parte dos azuis e a cor que resta para ser difundida é o verde.Chama-se Planeta Azul à Terra porque os oceanos cobrem 71% da superfície do globo terrestre, onde, como se explica acima, o azul é a cor dominante.

E o lápis Azul dos censores, do regime Salazarista?
Não parece haver (ou, pelo menos, não se conhece) uma explicação para a escolha da cor do lápis da censura que, desde o golpe militar de 28 de Maio de 1926 até ao fim dos regimes de Salazar e Marcello Caetano, em 1974, riscou notícias, livros, peças de teatro e até anúncios publicitários.No entanto, sabe-se que os censores não podiam usar o vermelho, já que esta era a cor utilizada nas redacções para fazer correcções. Segundo Joaquim Cardoso Gomes, autor da obra "Os Militares e a Censura", "desde o início da censura prévia institucionalizou-se a adopção de cores diferenciadas, consoante a função: o azul para os censores e o vermelho para os jornais".
Mais tarde, o vermelho passou a ser utilizado no aparelho da censura pelos próprios censores com funções de fiscalização sobre a matéria já publicada. Em 1970 e 1971, no período marcelista, determinou-se que os cortes não cumpridos ou a matéria não submetida a censura deveriam ser assinalados a vermelho. Mas cores como o preto ou o verde eram utilizadas no tratamento interno das provas dos jornais, codificando, assim, o "visionamento por um chefe ou por um adjunto".

Porque é que se chama "menino azul" a Emanuel Silva?
Este jovem, de 13 anos, é conhecido como o "menino azul" por sofrer de uma doença chamada tetralogia de Fallot, uma cardiopatia congénita que causa uma cor azulada (cianose), já que o sangue que circula pelo corpo não está suficientemente oxigenado.
Esta patologia é uma combinação de anomalias cardíacas. A criança é ainda afectada pela síndrome de Alagille, uma doença rara que afecta o fígado, o coração e outros órgãos.

Os Blues.
O blues - uma forma de música afro-americana de grande importância, oriunda do sul dos Estados Unidos, no final do século XIX - nasce de um sentimento de tristeza e melancolia típico dos escravos das plantações de algodão que o usavam para embalar uma vida sofrida.
A designação significa, evidentemente, 'azul'. No entanto, na língua inglesa, 'blue' (que é uma cor fria) significa igualmente 'tristeza' e 'melancolia'. Daí que exista mesmo uma forma leve de depressão que os anglo-saxónicos designam 'blues'.

Porque é que há a tendência de vestir os meninos de azul?
Contactados, vários sociólogos e antropólogos não souberam responder à pergunta. No entanto, uma hipótese avançada no "Dictionary of Omens and Supersticions ("Dicionário de Lendas e Superstições", sem tradução em português) é que os meninos já eram vestidos de azul na era pré-cristã, quando se acreditava que algumas cores podiam afastar os maus espíritos que cercavam os recém-nascidos.Como os bebés do sexo masculino eram considerados mais valiosos, passaram a usar roupas azuis, uma cor associada aos espíritos do bem (por ser a cor do céu). Uma lenda europeia do século XIX diz que as meninas nascem de rosas e os meninos de repolhos azuis.

A palavra azulejo deriva de azul?
A palavra "azulejo" vem do árabe "al zulaycha" ou "zuleija", que significa "pedra polida". Em Portugal, foram empregues inicialmente no fabrico de azulejos diversas técnicas e motivos oriundos da cultura islâmica, Segundo Alexandre Pais, do Museu Nacional do Azulejo, "no século XVI desenvolveu-se uma nova técnica, chamada majólica ou faiança, que tornou possível pintar os motivos decorativos directamente sobre o azulejo sem que as cores, cozidas a alta temperatura, se misturassem".A majólica teve uma importante repercussão em Portugal, "estando na génese da vasta produção azulejar que caracteriza a cultura decorativa nacional".Inicialmente pintados a azul e amarelo sobre branco, por vezes com apontamentos a laranja, a partir de meados do século XVI alargou-se ao manganés e ao verde. Após a Restauração da Independência, em 1640, o cromatismo foi-se alterando progressivamente. "Os motivos começam a ser contornados a roxo, de manganês, até que, no último quartel do século XVII, a paleta reduz-se ao azul".As encomendas holandesas alteraram o gosto da clientela nacional, influenciada pela paleta azul e branca da porcelana chinesa.Assim, "a ideia que o azulejo português é todo a azul e branco é um mito, correspondendo, de facto, a um período muito curto da manufactura nacional, cerca de 40 anos", explica Alexandre Pais.

As bandeiras azuis
As bandeiras azuis são um símbolo de uma união pacífica e tornaram-se populares em todo o mundo. A bandeira da Europa, que existe desde 1986, tem sobre o fundo azul (que representa o céu do mundo ocidental) doze estrelas douradas.
A bandeira das Nações Unidas tem a mesma cor de fundo, com um globo terrestre e dois ramos de oliveira, que simbolizam a paz. E os "capacetes azuis", da mesma organização, são uma força de manutenção da paz.

Eva Heller refere, na sua obra "Psicologia das Cores", que "sendo o azul uma cor passiva e a mais sossegada de todas", é natural que tenha presença assídua nas caixas de calmantes e de medicamentos indutores de sono. O azul é igualmente uma cor muito usada nas roupas de cama e peças de roupa nocturna. Heller afirma ainda que "azul-verde-branco é a combinação característica do descanso", sendo o azul o descanso passivo, o verde o ócio activo e o branco a ausência de toda a excitação, por simbolizar a ausência de todas as cores.

No entanto, a psicóloga garante que a ideia de que as cores têm um efeito curativo e que os doentes das clínicas psiquiátricas levados para quartos azuis se acalmam imediatamente não passa de uma ilusão. E é categórica ao afirmar que dizer que as cores podem curar, sem que haja provas disso, é uma irresponsabilidade.

Cristina Morais - Texto publicado na edição do Expresso de 8 de Agosto de 2009

1 comentário:

helena de sousa disse...

porque se chama emanuel o menino azul.
antes que não se chama-se.
sinal que era saudável oxigénio e o sangue é acausa da cor o azul
vejam o blog
www.menino-azul.blogspot.com