quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Alfredo Barroso, o nepos, básico.

Nepos (nominativo singular), em latim, quer dizer sobrinho. 

Daí a palavra nepotismo, posição de relevo dada pelos papas a pessoas da família. 

Com o andar dos tempos, nepotismo passou a significar protecção de terceiros, amigos ou familiares, independentemente da valia pessoal de cada um. 

O nepotismo é, por cá, prática comum. Atingiu o auge com Mário Soares. 

Como é sobejamente sabido, o alegado pai da III República, o herói da descolonização exemplar, o grande socialista europeu, tem, ao longo da sua já longa vida, sabido compensar os seus próximos, tanto quanto, da forma mais cruel, os vota ao ostracismo quando, por qualquer motivo, lhe desagradam. 

Exemplos não faltam. Toda a gente sabe que a simpática bonomia do grande homem se transforma no mais radical desprezo com a maior das facilidades. Felizes os que lhe estão nas graças. Tremam os que o enfrentam! 

Vem isto a propósito da guerra movida pelo seu sobrinho Alfredo Barroso, que se queixa amargamente de ter sido esquecido no livro de memórias de Mário Soares, que não é um livro de memórias na opinião do autor, o que não quer dizer que não seja um livro de memórias. 

Alfredo Barroso, alcandorado por Mário Crespo à categoria de opinante permanente da SIC Notícias, é, nos nossos dias, conhecido pelo seu virulento esquerdismo, pela forma desagradável como trata quem tiver à frente, chegando a ser chocante o fel que brota do seu pensamento e das suas medonhas palavras. Aparte isto, ninguém já se lembra do que o homem foi, nem ninguém sabe quem é.

O seu protesto contra o tio - por exemplo, diz que quem inventou a “magistratura de influência” foi ele e não Soares, coisa que, na sua cabecinha, deve ter uma importância cósmica - veio despertar a curiosidade dos jornais. 

Uma das coisas que se publicou por aí foi a biografia “profissional” do ofendido. Através dela, podemos verificar que Alfredo Barroso foi “pescado” por Soares juntamente com um grupo de refractários - tipos que, por ter fugido da tropa, passaram a “exilados políticos" - para servir de jovens raminhos de salsa ao grupo de pessoas que, na Alemanha, anos sessenta, fundou o PS. 

À relação familiar vinha juntar-se a irmandade política. O jovem Alfredo nunca mais foi abandonado. Para além dos lugares que o tio lhe arranjou, jamais fez fosse o que fosse. O mais acabado exemplo de nepotismo que se pode imaginar. Deve ter-se zangado com o tio, ou o tio com ele, a ponto de tudo o que terá feito ter sido esquecido nas memórias do protector. A ponto de suscitar a ultra ridícula, risível e patética guerra de que os jornais foram eco.

O que não quer dizer que a independência e a moral socialista e republicana não dêem para o sobrinho perceber, já que nada foi na vida para além de sobrinho, que devia estar calado quando se apresenta, na televisão, a criticar aquilo a que chama nepotismo de terceiros.

Lata não lhe falta. O pior é o ridículo. 

Em,19.12.11 - António Borges de Carvalho

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