Ainda hoje me dá vómitos pensar que tive a desgraça de dormir umas
noites no Regimento de Infantaria 1, em Abrantes, ao lado de um tal
Aspirante Vasco Lourenço, à altura patriótico defensor do Império nos
precisos termos definidos pelo doutor Oliveira Salazar.
O homem fazia
gala da sua preparação para o combate em defesa dos altos ideais da
Nação e tratava com desdém a chusma de milicianos que o rodeavam, gente
cheia de dúvidas, chateada com a mobilização, apesar de tudo pronta a
ser fiel ao seu destino em vez de dar à sola não deixando que outros
fossem parar a África em seu lugar.
Gente que, de um modo geral, sabia
de ciência certa que o status quo era impossível de aguentar e que
alguma solução política devia ser encontrada que fizesse os impossíveis
para respeitar a honra de Portugal, os interesses dos portugueses que
mourejavam nas áfricas e a vida da generalidade dos africanos. Um bando
de traidores, na esclarecida opinião de Vasco Lourenço.
Quem havia de dizer que o jovem Aspirante Lourenço viria a dar no que deu!
Como é sabido, não carecendo de demonstração, em termos de consequências
tão grave foi o imobilismo psicótico do governo ditatorial de então
como o foi a forma estúpida, rasca e ultra ideológica como os vascos
lourenços trataram de fazer, à trouxe-mouxe, dumping dos territórios
ultramarinos. Os vascos lourenços gabam-se de ter feito “justiça” à
custa da destruição da vida de muitas centenas de milhar de portugueses,
a quem chamaram “retornados” – muitos deles não retornavam, eram de lá e
foram corridos à ponta da baioneta perante a indiferença de umas forças
armadas reduzidas pelos vascos lourenços à condição de escumalha - e
de sabe-se lá quantos mortos (centenas de milhar) em dezenas de anos de
guerras fratricidas entre os “libertados”. De tudo isto se orgulham os
vascos lourenços, em vez de pedir desculpa aos ofendidos, alegando
qualquer coisa tipo “ventos da história”.
Consumada tal nobre
tarefa, os vascos lourenços lá cederam à vontade de um país amachucado,
mal-tratado, arruinado, e resoveram dar-lhe a cenoura da democracia.
Correu-lhes mal: sete anos passados perderam a tutela da democracia e
dos portugueses e foram, finalmente, com vasto acréscimo de estrelas,
galões e ordenados, mandados para casa.
Mas não perderam a
jactância, a sede de tutelar os portugueses, o pendor militarista, a
ignorância crassa, a petulância, a patronização do Estado e do povo, a
noção de que a democracia “do 25 de Abril” é, ou era uma, as decisões do
povo só sendo válidas se de acordo com uma qualquer ideologia
castrense, abusiva, indefinida e bonca.
Hoje como ontem, Vasco
Lourenço é uma besta quadrada, os seus seguidores a mesma coisa, o que
fica demonstrado quando declaram que o governo já não é legítimo porque
os vascos lourenços acham. Nem sequer, como o colega civil chamado
Sampaio, se “baseiam” em sondagens. Declaram-no do altar em que se
querem manter alcandorados, e pronto. Que raio é isso de democracia se
os vascos lourenços não gostam?
Na quse pífia – em relação a
outras do género – manifestação de ontem, coisa que nem quantificaram
para não passar por tal vergonha, o que demonstrado ficou foi o desprezo
do povo em geral pela repetição bacoca de slogans que já pouco dizem
seja a quem for que não pertença à obsoleta tribo que os vascos
lourenços, os mários soares, os alegres, os arménios, os silvas, os
jerónimos os louças e os pataratas integram.
Felizmente, entre tanta desgraça, a esmagadora maioria dos portugueses está muito longe desta gente.
26.4.12
António Borges de Carvalho