segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os vascos lourenços por António Borges de Carvalho

Ainda hoje me dá vómitos pensar que tive a desgraça de dormir umas noites no Regimento de Infantaria 1, em Abrantes, ao lado de um tal Aspirante Vasco Lourenço, à altura patriótico defensor do Império nos precisos termos definidos pelo doutor Oliveira Salazar. 

O homem fazia gala da sua preparação para o combate em defesa dos altos ideais da Nação e tratava com desdém a chusma de milicianos que o rodeavam, gente cheia de dúvidas, chateada com a mobilização, apesar de tudo pronta a ser fiel ao seu destino em vez de dar à sola não deixando que outros fossem parar a África em seu lugar. 
Gente que, de um modo geral, sabia de ciência certa que o status quo era impossível de aguentar e que alguma solução política devia ser encontrada que fizesse os impossíveis para respeitar a honra de Portugal, os interesses dos portugueses que mourejavam nas áfricas e a vida da generalidade dos africanos. Um bando de traidores, na esclarecida opinião de Vasco Lourenço.

Quem havia de dizer que o jovem Aspirante Lourenço viria a dar no que deu!

Como é sabido, não carecendo de demonstração, em termos de consequências tão grave foi o imobilismo psicótico do governo ditatorial de então como o foi a forma estúpida, rasca e ultra ideológica como os vascos lourenços trataram de fazer, à trouxe-mouxe, dumping dos territórios ultramarinos. Os vascos lourenços gabam-se de ter feito “justiça” à custa da destruição da vida de muitas centenas de milhar de portugueses, a quem chamaram “retornados” – muitos deles não retornavam, eram de lá e foram corridos à ponta da baioneta perante a indiferença de umas forças armadas reduzidas pelos vascos lourenços à condição de escumalha - e de sabe-se lá quantos mortos (centenas de milhar) em dezenas de anos de guerras fratricidas entre os “libertados”. De tudo isto se orgulham os vascos lourenços, em vez de pedir desculpa aos ofendidos, alegando qualquer coisa tipo “ventos da história”.

Consumada tal nobre tarefa, os vascos lourenços lá cederam à vontade de um país amachucado, mal-tratado, arruinado, e resoveram dar-lhe a cenoura da democracia. Correu-lhes mal: sete anos passados perderam a tutela da democracia e dos portugueses e foram, finalmente, com vasto acréscimo de estrelas, galões e ordenados, mandados para casa.

Mas não perderam a jactância, a sede de tutelar os portugueses, o pendor militarista, a ignorância crassa, a petulância, a patronização do Estado e do povo, a noção de que a democracia “do 25 de Abril” é, ou era uma, as decisões do povo só sendo válidas se de acordo com uma qualquer ideologia castrense, abusiva, indefinida e bonca.

Hoje como ontem, Vasco Lourenço é uma besta quadrada, os seus seguidores a mesma coisa, o que fica demonstrado quando declaram que o governo já não é legítimo porque os vascos lourenços acham. Nem sequer, como o colega civil chamado Sampaio, se “baseiam” em sondagens. Declaram-no do altar em que se querem manter alcandorados, e pronto. Que raio é isso de democracia se os vascos lourenços não gostam?

Na quse pífia – em relação a outras do género – manifestação de ontem, coisa que nem quantificaram para não passar por tal vergonha, o que demonstrado ficou foi o desprezo do povo em geral pela repetição bacoca de slogans que já pouco dizem seja a quem for que não pertença à obsoleta tribo que os vascos lourenços, os mários soares, os alegres, os arménios, os silvas, os jerónimos os louças e os pataratas integram.

Felizmente, entre tanta desgraça, a esmagadora maioria dos portugueses está muito longe desta gente.

26.4.12
António Borges de Carvalho

Sem comentários: