domingo, 22 de julho de 2012

Apelo ao protesto - O Pão Nosso de Cada Dia

São cada vez mais comuns e frequentes os apelos ao protesto dos cidadãos vindo dos mais diversos sectores. 

Políticos com responsabilidades, jornalistas, comentadores, autoridades civis e religiosas, figuras mais ou menos públicas, “animadores” de redes sociais, etc… o apelo ao protesto é o “pão nosso de cada dia”!

O governo cortou nos subsídios? Malvados!!!... Protestem!

O governo aumentou o preço dos transportes? Indecente!!!... Protestemos!!!...

O governo cortou regalias sociais? Malformados! Impreparados! Proteste-se!

O Estado não tem dinheiro para concluir a obra A, B, C ou D? Vergonhoso! Bandidos! Protestemos!...

O país não tem dinheiro? Não aceitemos mais esta manifestação de perigosa agenda política que pretende destruir as conquistas de não sei quantas gerações!

É neste clima de protesto variado e instantâneo que alguns esperam despoletar e alimentar convencidos que estão a prestar um grande serviço a si próprios e às suas causas.

Ainda não perceberam que o Estado (ao contrario do que nos quiseram fazer crer durante anos a fio!!!...) não tem dinheiro para fazer face a tudo? … Que não pode construir mais estradas, autoestradas, pontes, hospitais, centros de saúde, de emprego e de formação, pavilhões desportivos, estádios de futebol, piscinas, centros recreativos e culturais, e ainda por cima pagar reformas, providenciar saúde de graça para todos, educação sem custos para todos, e toda a parafernália de direitos e garantias que o Estado foi dando a todos (em razão também do medo de protestos e da necessidade de ganhar eleições)…????...

Será que ainda não perceberam que o Estado afinal não pode tudo e que da forma como foi gerido não é sequer sustentável…???... Isto é que, o Estado, não tem condições de pagar sequer o elementar (os ordenados dos seus próprios funcionários) e por isso se recorreu (tardiamente!!!!...) à ajuda externa????

Será que ainda não perceberam que continuar a viver (e a alimentar) nessa ilusão é o pior que se pode fazer, porque é o melhor contributo para continuarmos na mesma deriva de loucura e de alheamento…????...

Será que ainda não perceberam que o tipo que protesta contra o aumento dos transportes em Lisboa pede exactamente o oposto do que quer transportes públicos em Coimbra (ou em Guimarães, ou em Faro)????

Será que ainda não perceberam que o tipo que grita na rua em protesto contra as novas regras do mercado laboral, exigindo mais protecção ao seu posto de trabalho, quer exactamente o contrário do jovem que grita porque quer uma oportunidade de emprego e vê fechadas as portas do mercado de trabalho…????...

Será que ainda não perceberam que o que uns sentem como um direito inalienável é o oposto do que outros sentem como seu direito também…???...

Esquecer isto não é só mais uma mentira e uma conveniente ilusão. É uma tremenda hipocrisia e um erro capital que, enquanto povo, nos preparamos para cometer (de novo!!!...).

Não é só acreditar que o Estado tudo pode e a todo o lado chega (e que caro estamos a pagar essa ilusão!!!..), é impedir o confronto natural e salutar de ideias, de perspectivas e opções.

Um país que não tem dinheiro para tudo (não tem para quase nada!!!...) tem que saber, PELO MENOS, encontrar o caminho e a forma para definir as suas prioridades. E a única forma transparente e séria de o fazer é colocar em confronto as diferentes opções e ambições dos diferentes grupos que compõem a sociedade de modo a que sejam claras as opções que, enquanto povo (enquanto nação) fazemos.

Com os olhos postos no futuro! Com coragem! Mas também com verdade e transparência! 

Por: Marcelo Nuno Gonçalves Pereira

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