São cada vez mais comuns e frequentes os apelos ao protesto dos
cidadãos vindo dos mais diversos sectores.
Políticos com
responsabilidades, jornalistas, comentadores, autoridades civis e
religiosas, figuras mais ou menos públicas, “animadores” de redes
sociais, etc… o apelo ao protesto é o “pão nosso de cada dia”!
O governo cortou nos subsídios? Malvados!!!... Protestem!
O governo aumentou o preço dos transportes? Indecente!!!... Protestemos!!!...
O governo cortou regalias sociais? Malformados! Impreparados! Proteste-se!
O Estado não tem dinheiro para concluir a obra A, B, C ou D? Vergonhoso! Bandidos! Protestemos!...
O país não tem dinheiro? Não aceitemos mais esta manifestação de
perigosa agenda política que pretende destruir as conquistas de não sei
quantas gerações!
É neste clima de protesto variado e
instantâneo que alguns esperam despoletar e alimentar convencidos que
estão a prestar um grande serviço a si próprios e às suas causas.
Ainda não perceberam que o Estado (ao contrario do que nos quiseram
fazer crer durante anos a fio!!!...) não tem dinheiro para fazer face a
tudo? … Que não pode construir mais estradas, autoestradas, pontes,
hospitais, centros de saúde, de emprego e de formação, pavilhões
desportivos, estádios de futebol, piscinas, centros recreativos e
culturais, e ainda por cima pagar reformas, providenciar saúde de graça
para todos, educação sem custos para todos, e toda a parafernália de
direitos e garantias que o Estado foi dando a todos (em razão também do
medo de protestos e da necessidade de ganhar eleições)…????...
Será que ainda não perceberam que o Estado afinal não pode tudo e que
da forma como foi gerido não é sequer sustentável…???... Isto é que, o
Estado, não tem condições de pagar sequer o elementar (os ordenados dos
seus próprios funcionários) e por isso se recorreu (tardiamente!!!!...) à
ajuda externa????
Será que ainda não perceberam que continuar a
viver (e a alimentar) nessa ilusão é o pior que se pode fazer, porque é
o melhor contributo para continuarmos na mesma deriva de loucura e de
alheamento…????...
Será que ainda não perceberam que o tipo que
protesta contra o aumento dos transportes em Lisboa pede exactamente o
oposto do que quer transportes públicos em Coimbra (ou em Guimarães, ou
em Faro)????
Será que ainda não perceberam que o tipo que
grita na rua em protesto contra as novas regras do mercado laboral,
exigindo mais protecção ao seu posto de trabalho, quer exactamente o
contrário do jovem que grita porque quer uma oportunidade de emprego e
vê fechadas as portas do mercado de trabalho…????...
Será que
ainda não perceberam que o que uns sentem como um direito inalienável é o
oposto do que outros sentem como seu direito também…???...
Esquecer isto não é só mais uma mentira e uma conveniente ilusão. É uma
tremenda hipocrisia e um erro capital que, enquanto povo, nos preparamos
para cometer (de novo!!!...).
Não é só acreditar que o Estado
tudo pode e a todo o lado chega (e que caro estamos a pagar essa
ilusão!!!..), é impedir o confronto natural e salutar de ideias, de
perspectivas e opções.
Um país que não tem dinheiro para tudo
(não tem para quase nada!!!...) tem que saber, PELO MENOS, encontrar o
caminho e a forma para definir as suas prioridades. E a única forma
transparente e séria de o fazer é colocar em confronto as diferentes
opções e ambições dos diferentes grupos que compõem a sociedade de modo a
que sejam claras as opções que, enquanto povo (enquanto nação) fazemos.
Com os olhos postos no futuro! Com coragem! Mas também com verdade e transparência!
Por: Marcelo Nuno Gonçalves Pereira
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