sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Reino da Lunda (Aruwund)


O Reino da Lunda (1050-1887), também conhecido como Império Lunda, foi uma Confederação africana pré-colonial de estados, desde o Katanga, desde o Rio Luio até Liambeji ou Zambeze e o noroeste da Zâmbia. O seu estado central ficava no actual Katanga ou a capital Imperial a famosa Mussumba.

O Reino da Lunda ficou dividido no século XIX, quando ocorreram as guerras intestinais na Corte da Família Real do Império Lunda, entre o século XIV, XV ou XVI e por causa do tabú da Soberana Lueji. 

O Reino dividiu-se em trés partes, sendo;
- Reino Lunda Luba
- Reino Lunda Ndembo
- Reino Lunda Tchokwe

De acordo com os registos conhecidos, os Tchokwes estabeleceram o seu próprio reino com a sua língua e costumes. Os chefes Lundas e o povo continuaram a viver na região da Lunda porém integrados, e a conviver com as outras tribos.

No início da era colonial (1884 - Conferência de Berlim) o coração da terra Lunda foi dividido entre a Provincia de Angola Portuguesa, o Estado Livre do Congo do rei Leopoldo II da Bélgica e o noroeste da Britânica Rodésia, que viriam a tornar-se em Angola, R.C.Congo e Zâmbia, respectivamente.

Em 1908, o Estado Livre do Congo deixa de ser propriedade da Coroa e torna-se colónia da Bélgica, sob o nome de Congo Belga, permanecendo assim por quase 60 anos. Por sua vez, o Império Lunda – inicialmente repartido entre o reino Portugal e o Estado Livre do Congo –, encontrava-se, desde meados do século XIX, em decadência, já que “o poder do Mwant Yaav, em larga medida apoiado no comércio de escravos, acabou por ser afectado pela abolição deste tráfico.
 
Terra de mistério antigo, parece ter sido primitivamente habitada pelos pigmeus, hoje encontrados um pouco mais a norte, na região dos grandes lagos. Esses primitivos habitantes viriam a ser deslocados definitivamente pelas várias tribos bantu que na sua migração para sul ocupariam a totalidade do território de Angola. 

Para além do rio Lalua, viviam várias comunidades de um povo vindo do nordeste - os bungos - subordinados a chefes, que, não obstante independentes, ouviam e respeitavam o mais velho chamado Lala Mácu, estando assim em embrião a formação de um novo estado, o da Lunda ou Runda. 

Este velho Laia foi agredido, um dia, por dois dos seus filhos, Quingúri e Lala - quando embriagados e dessa agressão sobreveio-lhe a morte. Antes de morrer, porém, indicou a sua filha Lueji como sucessora e pediu aos outros chefes que a amparassem e aconselhassem, visto ser ela ainda nova e inexperiente, evitando que os irmãos se apoderassem do lucano (bracelete insígnia usada pelo chefe).

Mwene Dumba Watembo, Rei dos Lunda Tchokwes 1874 

O Reino Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos grandes potentados de Africa, foi fundado no início do Séc.XVI, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.

Segundo a tradição Lunda, Mwatiânvua era descendente de Lweji, filha de Kondo grande chefe Lunda, que era casada com o grande caçador Luba Tyibinda Ilunga. Depois da morte de sua mãe, Muatiânvua, submeteu várias tribos Lundas e formou um Reino, nos finais do séc. XVI.

Embora fosse um Reino só era coeso em todos os aspectos e sentidos. Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois, ajudados pelo conselho de séculos (velhos).

Era um Reino economicamente muito forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e tecidos.
 
É no auge da sua governação que todo o mal acontece ao Estado do Reino Lunda, a formação do Império, e a decadência do mesmo e practicamente o desmoronamento do grande pontentado de Africa.

No Séc. XVIII, uma parte do povo decidiu migrar para a região do actual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé (Kiôco). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do Reino.

As lutas com os Tchokwé, que se haviam sublevado, em finais do século XIX, alargaram as barreiras do Reino Lunda, levando á sua expansão para norte e sul.  
 
Devido à inexistência de registos escritos que precedem a presença europeia -- as primeiras referências aos Lundas ou Moluas surgem em textos portugueses do séc. XVIII . Muito do que sabemos sobre a história da Lunda provém da tradição oral. Os mitos referem a existência de um grupo anterior aos Lundas centrais, os Bungos, os quais só utilizavam
material lítico. Os Lundas seriam os seus descendentes. Em finais do séc. XIX, este grupo ocupava uma vasta mancha no nordeste do território Angolano, compreendida sensivelmente entre os rios Cuango e Cassai. 
 
A Norte, no então Reino do Congo, encontravam-se povos do mesmo grupo cultural – os chamados Lunda centrais. Pensa-se que os Lunda centrais submeteram os Bungos, prosseguindo depois para o Nordeste de Angola, onde dominaram militarmente as populações locais, formando progressivamente um estado de grandes dimensões – o chamado Império Lundacentrado, chefiado pelo soberano máximo ou Muatiânvua, “senhor de riquezas”. O Império Lunda era uma estrutura político-administrativa complexa e centralizada, controlada a partir da capital, Mussumba do Muatiânvua.

Esta não era fixa, mudava frequentemente de região, comforme as migrações e as guerras, mas albergava sempre o soberano e a corte. A Mussumba exercia o domínio sobre um mundo de pequenas e médias povoações, controladas por chefes locais. 
 
Os Tchokwe são um povo aparentado dos Lunda. Em finais do séc. XIX, encontravam-se estabelecidos a Sul destes entre os rios Cuanza e Cuangu, tendo durante largo tempo estado submetidos ao poder do Império Lunda.

São coisas de uma África que já não existe. Coisas de um povo, coisas de sanzala, segredos, mistérios da magia africana... Memórias, que a memória do tempo não apagará!
 
Dom Mwata Jamwo Kauma Rei da Lunda, 1928
 Fonte: FFSA-Federation of the Free States of Africa

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