segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A Lenda de São Nicolau (St. Nicolas, Santa Claus, Pai Natal, Papai Noel)

Nicolau, filho de cristãos abastados, nasceu na segunda metade do século III, em Patara, uma cidade portuária muito movimentada.

Conta-se que foi desde muito cedo que Nicolau se mostrou generoso. Uma das histórias mais conhecidas relata a de um comerciante falido que tinha três filhas e que, perante a sua precária situação, não tendo dote para casar bem as suas filhas, estava tentado a prostituí-las. Quando Nicolau soube disso, passou junto da casa do comerciante e atirou um saco de ouro e prata pela janela aberta, que caiu junto da lareira, perto de umas meias que estavam a secar. Assim, o comerciante pôde preparar o enxoval da filha mais velha e casá-la. Nicolau fez o mesmo para as outras duas filhas do comerciante, assim que estas atingiram a maturidade.

Quando os pais de Nicolau morreram, o tio aconselhou-o a viajar até à Terra Santa. Durante a viagem, deu-se uma violenta tempestade que acalmou rapidamente assim que Nicolau começou a rezar (foi por isso que tornou também o padroeiro dos marinheiros e dos mercadores). Ao voltar de viagem, decidiu ir morar para Myra (sudoeste da Ásia menor), doando todos os seus bens e vivendo na pobreza.
Quando o bispo de Myra da altura morreu, os anciões da cidade não sabiam quem nomear para bispo, colocando a decisão na vontade de Deus. Na noite seguinte, o ancião mais velho sonhou com Deus que lhe disse que o primeiro homem a entrar na igreja no dia seguinte, seria o novo bispo de Myra. Nicolau costumava levantar-se cedo para lá rezar e foi assim que, sendo o primeiro homem a entrar na igreja naquele dia, se tornou bispo de Myra.

S. Nicolau faleceu a 6 de Dezembro de 342 (meados do século IV) e os seus restos mortais foram levados, em 1807, para a cidade de Bari, em Itália. É actualmente um dos santos mais populares entre os cristãos.
S. Nicolau tornou-se numa tradição em toda a Europa. É conhecido como figura lendária que distribui prendas na época do Natal. Originalmente, a festa de S. Nicolau era celebrada a 6 de Dezembro, com a entrega de presentes. Quando a tradição de S. Nicolau prevaleceu, apesar de ser retirada pela igreja católica do calendário oficial em 1969, ficou associado pelos cristãos ao dia de Natal (25 de Dezembro)

A imagem que temos, hoje em dia, do Pai Natal é a de um homem velhinho e simpático, de aspecto gorducho, barba branca e vestido de vermelho, que conduz um trenó puxado por renas, que esta carregado de prendas e voa, através dos céus, na véspera de Natal, para distribuir as prendas de natal. O Pai Natal passa por cada uma das casas de todas as crianças bem comportadas, entrando pela chaminé, e depositando os presentes nas árvores de Natal ou meias penduradas na lareira. Esta imagem, tal como hoje a vemos, teve origem num poema de Clement Clark More, um ministro episcopal, intitulado de “Um relato da visita de S. Nicolau”, que este escreveu para as suas filhas. Este poema foi publicado por uma senhora chamada Harriet Butler, que tomou conhecimento do poema através dos filhos de More e o levou ao editor do Jornal Troy Sentinel, em Nova Iorque, publicando-o no Natal de 1823, sem fazer referência ao seu autor. Só em 1844 é que Clement C. More reclamou a autoria desse poema.

Hoje em dia, na época do Natal, é costume as crianças, de vários pontos do mundo, escreverem uma carta ao S. Nicolau, agora conhecido como Pai natal, onde registam as suas prendas preferidas. Nesta época, também se decora a árvore de Natal e se enfeita a casa com outras decorações natalícias. Também são enviados postais desejando Boas Festas aos amigos e familiares.
Actualmente, Há quem atribuía à época de Natal um significado meramente consumista. Outros, vêem o Pai Natal como o espírito da bondade, da oferta. Os cristãos associam-no à lenda do antigo santo, representando a generosidade para com o outro.

Festas Felizes!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Pobre Portugal

Que país é este? 
Que povo é que somos? 
Que raio de momento histórico andamos a registar por estes tempos? 

Um povo meio indiferente às tragédias dos fogos e às inúmeras trapalhadas interpretadas por um sem número de figuras tristes do Estado e que não grita bem alto “assim não”. 

Onde pelas sondagens recentes cerca de 60% se revê num pacote que inclui Chico-espertos, comunistas e uma agremiação desmiolada. 
Onde o Chico-esperto-mor sobrevive num jogo equilibrista e sem rumo, e onde a distribuição de amendoins cuida de elevar o agachamento em lugar da fibra e do brio. 
Onde se confundem conceitos básicos como a ilusão e esperança. E de como o primeiro ultrapassa com facilidade a razão. 
Onde uma coligação negativa e que se diz positiva mais não é do que uma ressonância fiel das caixas de comentários na internet e que se regozijam com uma hipotética azia dos outros (desespero, digo eu). 
Onde o descaramento perante o assalto à coisa pública não provoca tumultos e onde a discricionariedade dos dirigentes encontra abundante complacência nos demais. Antes fossem Raríssimas estas situações. 
Onde a mentira e o ludíbrio têm livre-trânsito. Sim, não é o consumo privado que puxa pela economia (nem pode). São antes as exportações e o turismo, coisa que bem sabiam. Mas como para isso nada contribuíram trataram de inventar uma narrativa. A treta do consumo privado serve simultaneamente essa narrativa e de engodo útil para iludir o pagode. 
Onde a hipocrisia perdeu a vergonha. O que antes era pecado finge-se agora que não se vê. Sim, onde antes muitos viam o ruir do Estado Social agora fingem-se surpresos com as cativações e com o consequente estrebuchar do próprio Estado Social. 
Onde o desabafo é elevado à condição de argumento. 
Onde o mérito é olhado de soslaio e onde quem mais berra e ameaça é referência. 
Onde poucos teriam coragem e independência para dizerem Não a Ricardo Salgado. Não se duvide que com este governo não faltariam acrobacias para tudo acabar num Sim. 
Onde não se debate seriamente ao nível político mais alto temas tão relevantes e abrangentes como o suicídio demográfico em curso ou a sustentabilidade da segurança social. Ao invés privilegiam-se temas exóticos e corrosivos que afectam somente pequenas franjas da sociedade. 
Onde o deslumbramento pelo elogio quente e de ocasião do turista é suficiente para a satisfação do ego. E como que por oposição, onde a confrontação fria a crua com a realidade incomoda muito mais do que a medida comum. Será que somos assim mesmo? 

Os portugueses conseguem oferecer coisas maravilhosas. 
A segurança, o desenrascanço, as amêijoas à bulhão pato, os pastéis de nata, o peixe grelhado, o vinho, etc, são tudo coisas extraordinárias. Mas como medida do valor de um povo convenhamos que estão longe de esgotar os mínimos. 

Onde está a fibra? 
E o brio? 
E a honra? 

Sem outras exigências e sem outro estar, sem aquele incómodo assente em sólidos princípios e não no berro de circunstância corremos sérios riscos de nos tornarmos naquilo que se calhar já somos: uma mole indiferente, macilenta, vendida, acrítica, agachada, reles, e incauta. 

Perdidos no tempo que voa, no acontecimento que nos ultrapassa, na inveja que nos corrói, na mentira que nos trai, e na ilusão que nunca se concretiza, de que nos servem meia dúzia de cavalos que querem correr e forjar novos caminhos se só lhes atrelamos um sem número de carroças e ainda por cima lhes colocamos obstáculos pela frente? 

Tolhidos por uma maioria desesperada que se move em torno de grupos de pressão sem qualquer réstia de pudor em exigir o que não se pode dar e sempre prontos a pendurarem-se, vou-me interrogando sobre quais as soluções para aquela minoria que quer jogar o jogo pelo jogo e viver dentro das possibilidades, sem ilusões mas com esperança, e que pensa que Portugal pode ser bem mais do que um bando de arrogantes inconscientes para quem a desfaçatez, o berro e o disparate são a medida de sucesso, e onde a razão mais não é do que um mero empecilho. 

Pedro Bazaliza, no Corta Fitas

domingo, 17 de dezembro de 2017

Pai Natal...Verde ou Vermelho ???

O Pai Natal tem uma origem muito antiga. Nos países nórdicos, era costume alguém vestir-se com peles e representar o "Inverno", visitando as casas onde lhe ofereciam de beber e de comer, pois, se o tratassem bem, iriam ter sorte. 

Mais tarde, esse Pai Natal foi associado a São Nicolau, juntando as duas figuras numa só, vestido de verde. 

Só no século XIX é que surgiu uma imagem definida do Pai Natal. O norte-americano Clement Moore, em 1822, escreveu o poema "Uma Visita de São Nicolau" em que o descrevia em pormenor : Um velhote gordinho alegre, de vestes verdes, que se desloca num trenó puxado por oito renas e que entra nas nossas casas pela chaminé. 

Por volta de 1930,a Coca-Cola contratou um publicitário para criar a campanha de Inverno. Então,este, troca a côr verde das vestes do velhinho, pelo encarnado e o branco que eram as cores da empresa ficando assim, essas cores, erróneamente associadas à figura do Pai Natal. 

Nunca é tarde, para corrigir e dar o seu ao seu dono. 

Merry Christhmas...Hô...Hô...Hô....Hôôô....

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Próclise e ênclise...o que é isso ?!?!?!

Próclise - pronome átono, antes do verbo
Ênclise - pronome átono depois do verbo

O pior dos erros do português: as ênclises (pronome átono depois do verbo, como em “torna-se”) acabam metendo o pronome após o verbo em casos em que todos os portugueses usam o pronome antes do verbo (“se torna”, como todo os brasileiros), porque a gramática obriga a próclise nesses casos.

Por exemplo, o advérbio “só” obriga a próclise (pronome antes do verbo)

No português brasileiro oral, praticamente só ocorre uma única colocação espontânea: o pronome antes do verbo (o que se chama próclise): eu me chamo; me diz uma coisa; eu te disse.
Todo brasileiro e todo o português sabe que uma das principais diferenças entre as variantes actuais do português brasileiro e do português lusitano diz respeito à colocação pronominal: 

Enquanto na Idade Média havia grande fluidez e portugueses ora usavam o pronome átono antes do verbo, ora depois, a situação acabou se definindo ao longo dos séculos, mas de modo diferente nos dois países: 

Em Portugal usa-se aproximadamente em 50% dos casos o pronome depois do verbo, mas deve vir obrigatoriamente antes do verbo (“também se manteve”) quando há na frase advérbios,
conjunções, etc. 

Já no Brasil, em situações naturais, o pronome vem sempre antes do verbo. Assim, todo brasileiro diz “Me dá”, “Nos vimos”, “Me queixei”, enquanto os portugueses dizem “Dá-me”, “Vimo-nos”, “Queixei-me”. 

Desde o século passado, que os melhores cronistas,poetas, músicos, brasileiros, usam próclises (pronomes antes do verbo), à brasileira (e que, na metade dos casos, coincidem com a forma “certa” em Portugal).

O mesmo não ocorre, porém, com a maior parte dos jornalistas brasileiros e de todos aqueles brasileiros que, querendo falar “chique” ou “difícil”, tentam imitar a colocação portuguesa – e que, nessa tentativa, sempre acabam cometendo erros ao usar mais ênclises (pronome após o verbo) do que os próprios portugueses.

Justamente por estarem simplesmente tentando imitar uma colocação pronominal que não lhes é natural, o que mais se vê nos jornais brasileiros hoje são ênclises erradas – erradas mesmo pela colocação gramatical portuguesa. 

Chovem casos, em que o jornalista escreve “também manteve-se” – erro feio, pois consegue ao mesmo tempo violar a gramática tradicional portuguesa  (que determina que advérbios como “também” exigem a próclise, e não a ênclise) e falha ao não reproduzir o uso natural de nenhum falante, nem português, nem brasileiro.

Os jornalistas brasileiros hoje incorrem no pior tipo de erro gramatical, pois acertariam se escrevessem exactamente como falam (usando a brasileiríssima próclise), mas erram simplesmente 
por tentar parecer chiques, por tentar falar difícil. Seguindo a concepção vira-lata de que “se eu falo assim, deve estar errado” e de que “quanto mais diferente da fala, mais correto deve estar”, acabam criando ênclises inexistentes em Portugal e em qualquer norma culta da língua portuguesa.

O mesmo ocorre com orações com a palavra “que“, ou “onde“, entre outras: a gramática portuguesa tradicional obriga, nesses casos, que se use o pronome antes do verbo (igual a como fazem sempre no Brasil); todo português falará sempre e escreverá “que se deu“, “onde se viu“; 

Mas alguns brasileiros, querendo escrever difícil, acabam inventando construções erradas como “que deu-se“, “onde viu-se” – erradas segundo toda e qualquer gramática portuguesa.

Por outras palavras: se não quiserem passar vergonha, na dúvida, não inventem, escrevam da maneira que lhes soar mais natural, da maneira que falariam. 

Quase sempre, estará certo.

Em dicionarioegramatica.com

domingo, 3 de dezembro de 2017

A Árvore de Natal

O costume de enfeitar árvores é mais antigo que o próprio Natal. 
Já antes de Cristo praticamente todas as culturas e religiões pagãs usavam enfeites em árvores para celebrarem a fertilidade da natureza.

Os romanos adornavam as árvores em honra de Saturno, que era o seu Deus da agricultura.
No Egipto era hábito, no solstício de Inverno, trazerem ramos verdes para dentro das suas casas, como forma de celebrarem a vitória da vida sobre a morte.
Os druidas Celtas, em épocas festivas, decoravam os carvalhos com maçãs douradas.

Os primeiros registos da  adopção da árvore de Natal pelo cristianismo surgem do norte da Europa no começo do século XVI, embora tudo indique que por essa altura já era uma tradição vinda da época medieval, pois há registos de “Árvores de Natal” na Lituânia cerca do ano de 1510.

No antigo calendário cristão, o dia 24 de Dezembro era dedicado a Adão e Eva e a sua  história costumava ser encenada nas igrejas. Como representação do paraíso era usada uma árvore carregada de frutos.
Os cristãos ganharam então o hábito de montarem essa alegoria em suas casas com árvores que, com o passar dos tempos, foram ficando cada vez mais decoradas: as estrelas simbolizando a Estrela de Belém, as velas simbolizando a luz de Cristo e as rosas em homenagem à Virgem Maria.

Durante os séculos XVII e XVIII este hábito tornou-se tão popular entre os povos germânicos, que estes atribuíram a criação da árvore de Natal ao seu congénere Martinus Luter, (Martinho Lutero), fundador do protestantismo. 
Reza a lenda germânica que Lutero ao passear durante uma noite limpa pela floresta, observou o efeito das estrelas no topo das árvores e trouxe essa imagem para a sua família na forma de uma árvore com uma estrela no topo e decorada com velas.

Mas foi só durante o século XIX que a árvore de Natal se começou a difundir pelo resto do mundo, muito graças à contribuição da monarquia britânica. O príncipe Alberto, o marido de origem alemã da rainha Vitória, montou uma Árvore de Natal no palácio real britânico. Foi então tirada uma fotografia da família real junto à árvore, fotografia essa que foi publicada na revista “Illustrated London News”, no Natal de 1846.

No entanto, como o uso de árvores adornadas tem origem pagã, a adopção da Árvore de Natal foi muito mais rápida nos países nórdicos e no mundo anglo-saxónico.
Já nos países católicos, como Portugal, a Árvore de Natal foi ganhando aceitação muito lentamente, pois a tradição de Natal eram os presépios, como única decoração da sua celebração.

Só a partir de meados do século XX é que a Árvore de Natal começou a ser mais aceite em Portugal, já que antes dessa altura era pouco popular nas cidades e completamente ignorada nas zonas rurais.

Mas o tempo não parou e o costume começou a enraizar-se ao ponto de, actualmente, já fazer parte da tradição natalícia portuguesa

Em "A Origem das Coisas"

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

1º de Dezembro de 1640-A Restauração da Nossa Independência

A morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir, sem deixar descendência e outras motivos de natureza vária que não cabem neste pequeno resumo, concorreram para a perda da Independência de Portugal. 

Sem um sucessor directo, a coroa passou para Filipe II de Espanha. Este, aquando da tomada de posse, nas cortes de Leiria, em 1580, prometeu zelar pelos interesses do País, respeitando as leis, os usos e os costumes nacionais. 

Com o passar do tempo, essas promessas foram sendo desrespeitadas, os cidadãos nacionais foram perdendo privilégios e passaram a uma situação de subalternidade em relação a Espanha. Esta situação leva a que se organize um movimento conspirador para a recuperação da independência, onde estão presentes elementos do clero e da nobreza. 

A 1 de Dezembro de 1640, um grupo de 40 fidalgos introduz-se no Paço da Ribeira, onde reside a Duquesa de Mântua, representante da coroa espanhola, mata o seu secretário Miguel de Vasconcelos e vem à janela proclamar D. João, Duque de Bragança, rei de Portugal. 

Termina, assim, 60 anos de domínio espanhol sobre Portugal. 
A revolução de Lisboa foi recebida com júbilo em todo o País. Restava, agora, defender as fronteiras de Portugal de uma provável retaliação espanhola. Para o efeito, foram mandados alistar todos os homens dos 16 aos 60 anos e fundidas novas peças de artilharia. Aclamação de D. João IV, da autoria de Veloso Salgado (Museu Militar, Lisboa) 

Parece não haver dúvida de que a ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista. 

Cinco séculos de governo próprio haviam forjado uma nação, fortalecendo-a até ao ponto de rejeitar qualquer espécie de união com o país vizinho. Para mais, a independência fora sempre um desafio a Castela e uma vontade de não ser confundido com ela. Entre os dois estados foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas que Portugal realmente travou na Europa. 

Para a maioria dos Portugueses, os monarcas habsburgos não eram mais do que usurpadores, os Espanhóis, inimigos, e os seus partidários, traidores. 

Mas a Restauração carece de ser explicada por grande número de outros elementos. Culturalmente, avançara depressa, entre 1580 e 1640, a castelhanização do País. Autores e artistas portugueses gravitavam nas órbitas da corte espanhola, fixavam residência em Espanha, aceitavam padrões espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para a riqueza do teatro, da música ou da arte pictórica espanhóis e dando hoje a impressão errada de uma decadência cultural a partir de 1580. 

A perda de uma individualidade cultural era sentida por muitos portugueses, com reacções diversas a favor da língua pátria e da sua expressão em termos de prosa e poesia. Contudo, os intelectuais que assim reagiam sabiam perfeitamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da independência política. 

D. Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo de Portugal com autoridade de vice-rei e capitão-general de 1634 a 1640 Economicamente, a situação piorara desde a década de 1620 ou até antes. Muitas das razões que haviam justificado a união das duas coroas ficaram ultrapassadas com a marcha da conjuntura económica. 

Todo o Império Português atravessava uma séria crise com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Portugal perdera o monopólio comercial na Ásia, África e Brasil, resultando daí que todos – a Coroa, a nobreza, o clero e a burguesia – haviam sofrido no montante das receitas. Os Espanhóis reagiam fortemente contra a presença portuguesa nos seus territórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição, situação que suscitou grande animosidade nacionalista tanto em Portugal como em Espanha, aprofundando o fosso já cavado entre os dois países. 

Mesmo em Portugal, a situação económica estava longe de brilhante. Os produtores sofriam com a queda dos preços do trigo, do azeite e do carvão, só para dar alguns exemplos. A crise afectava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces, como, aliás, em muitos outros países da Europa. O aumento dos impostos tornava a situação ainda pior. Para explicar os tempos difíceis e apaziguar o descontentamento geral, a solução apresentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males. 

 A conspiração a favor da independência começou em 1639, se não antes, congregando um grupo heterogéneo de nobres, clientes-funcionários da casa de Bragança, e elementos do alto e baixo clero. Em Novembro de 1640, a conspiração dos aristocratas conseguiu finalmente o apoio formal do duque de Bragança. 

Na manhã do 1º de Dezembro, um grupo de nobres atacou a sede do governo em Lisboa (Paço da Ribeira), prendeu a duquesa de Mântua, e matou ou feriu alguns membros da guarnição militar e funcionários, entre os quais o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos. Seguidamente, os revoltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado de coisas, secundados pelo entusiasmo popular. D. João foi aclamado como D. João IV, entrando em Lisboa alguns dias mais tarde. 

Por quase todo o Portugal metropolitano e ultramarino as notícias da mudança do regime e do novo juramento de fidelidade ao Bragança foram recebidas e obedecidas sem qualquer dúvida. Apenas Ceuta permaneceu fiel à causa de Filipe IV. 

Como “governadores”, para gerirem os negócios públicos até à chegada do novo rei, foram escolhidos o arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, o de Braga, D. Sebastião de Matos de Noronha, e o visconde de Vila Nova de Cerveira, D. Lourenço de Lima. D. João IV entrou em Lisboa a 6 de Dezembro, cessando nesta data as funções dos “governadores”. 

 Proclamar a separação fora coisa relativamente fácil. Mais difícil seria conseguir mantê-la. Tal como em 1580, os portugueses de 1640 estavam longe de unidos. Se as classes inferiores conservavam intacta a fé nacionalista e aderiram a D. João IV sem sombra de dúvida, já a nobreza, muitas vezes com laços familiares em Espanha, hesitou e só parte dela alinhou firmemente com o duque de Bragança. 

O mesmo se poderia afirmar em relação ao clero. O novo monarca português não gozava por certo de uma posição invejável. Do ponto de vista teórico, tornava-se necessário justificar a secessão: o novo monarca, longe de figurar como usurpador, reavera simplesmente aquilo que por direito legítimo lhe pertencia. 

Abundante bibliografia produzida em Portugal e fora dele a partir de 1640 procurou demonstrar os direitos reais do duque de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, tanto em 1580 como em 1640, não havia razões para qualquer tipo de eleição em cortes, o que retirava ao povo a importância que ele porventura teria, fosse o trono declarado vacante. literatura autonomista 

Numerosa literatura de pendor autonomista proliferou visando a legitimação da subida ao trono de D. João IV. Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Em primeiro lugar a reorganização do aparelho militar, com reparação de fortalezas das linhas defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de material e reforços no estrangeiro. 

Paralelamente, uma intensa actividade diplomática junto das cortes da Europa – no sentido de obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, e conseguir o reconhecimento da Restauração – e a reconquista do império ultramarino. 

A nível interno, a estabilidade do regime dependeu, antes de mais, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha. A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços que Portugal podia despender e absorveu enormes somas de dinheiro. Pior do que isso, impediu o governo de conceder ajuda às frequentemente atacadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, pelo menos na Ásia, teve de ser sacrificado, salvou pelo menos a Metrópole de uma ocupação pelas forças espanholas. 

Portugal não dispunha de um exército moderno, as suas forças eram escassas – sobretudo na fronteira terrestre –, as suas coudelarias haviam sido extintas, os seus melhores generais lutavam pela Espanha algures na Europa. Do lado português, tudo isto explica por que motivo a guerra se limitou em geral a operações fronteiriças de pouca envergadura. Do lado espanhol, é preciso lembrar que a Guerra dos Trinta Anos (prolongada em Espanha até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) demoraram quaisquer ofensivas de vulto. 

Regra geral, a guerra, que se prolongou por 28 anos, teve os seus altos e baixos para os dois contendores até ser assinado o Tratado de Lisboa, em 13 de Fevereiro de 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em que este último reconhece a independência do nosso País. 

(Adaptado de A. H. de Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de Portugal, vol. II, Do Renascimento às Revoluções Liberais, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pp. 176-201.)

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Peido, o novo elixir do amor

Um estudo científico confirma que cheirar peidos previne o câncer e alarga o seu tempo de vida Todos o fazemos. Ricos, pobres, jovens, velhos, reis ou até o Papa. Aos peidos ninguém escapa. 
É uma função natural perfeitamente normal e necessária para o nosso corpo; no entanto, há poucas coisas tão socialmente estigmatizadas como peidar.  Um peido fora de tempo pode estragar uma relação, uma reunião de família e até mesmo deixar-nos sem trabalho. 
Até agora.

Um estudo da Universidade de Exeter, na parte antiga da cidade de Devon, no sudoeste de Inglaterra, publicou um relatório inovador que demonstra, com argumentos científicos, que os peidos ajudam a reduzir o risco de câncer, previne a demência, são bons para evitar enfartes, curar a artrite e são o melhor antídtiodo contra os ataques ao coração. 

Aparentemente, os gases libertados do anus alheio podem mesmo aumentar a longevidade. 
Embora pareça uma brincadeira de mau gosto, trata-se de um sério achado científico que encontrou uma grande correlação entre o fato de estar exposto a estes gases e um significativo aumento na expectativa de vida das pessoas. A descoberta surpreendeu a comunidade científica

O aumento na expectativa de vida é semelhante ao que ocorre nas pessoas que mudaram seus hábitos em aspectos tão revolucionários como dieta balanceada, atividade física, ou deixaram de fumar. 
O mesmo se poderia afirmar, sem temor de errar, que cheirar peidos poderia ter um impacto semelhante na regeneração celular que experimentaria um ex fumador após mais de uma década sem experimentar um cigarro.

O responsável é o sulfeto de hidrogênio, um dos componentes dos gases intestinais. 
Ao contrário do que se acreditava, os pesquisadores afirmaram que não são os micróbios gástricos os responsáveis pelo mau cheiro, mas a molécula da bosta apodrecida.  Aparentemente, este químico tem inúmeros efeitos benéficos sobre o organismo do quem o inala. Quando as células estão "setressadas" produzem enzimas para criar sulfureto de hidrogénio de forma natural. Graças a isso, preservam as mitocôndrias, que regula a inflamação e aumenta a produção de sangue em todo o nosso organismo.

Cheirar peidos alheios seria uma forma natural de doparnos com produção de importação. 
É uma sensação semelhante à que regularía o bem-estar emocional e a atividade cerebral, e explicaria a incidência directa entre a esperança de vida dos que vivem sozinhos, e dos casais.

Então, já sabem.  
Se amam realmente outra pessoa, brinde-a com uma boa sessão de flatulência. 
E  não há nada mais bonito na vida do que compartilhar tudo isso. Barato, natural e do mais profundo da alma. 
Mover o lençol para que faça o upload de uma bafurada de madrugada, deixou de ser uma guerra para se tornar numa mostra de generosidade e de amor sem limites. 
É o que diz a ciência.

domingo, 5 de novembro de 2017

Partidocracia inoperante

A eternização no poder pelo poder tem tornado as máquinas partidárias gradualmente mais pragmáticas. A identidade tem dado lugar ao oportunismo e a seriedade à conveniência.
Em Portugal, dentro dos partidos políticos, sobretudo dos que integram o arco da governação, mantém-se um sistema de aparência democrática na elegibilidade dos seus dirigentes. O défice democrático começa na profissionalização das elites e pessoal partidário, que não conseguem viver de outra atividade senão da própria política. A começar nos que precisam de lugares eletivos ou de nomeação para sustentarem a família e, por isso, obrigados a caucionar a sua designação para as listas partidárias.
A garantia de estabilidade da classe dirigente conduz ao controlo pertinaz das estruturas de base, levando às relações de vassalagem. A cadeia tem a sua lógica: quem ainda não tem poder torna-se próximo dos influentes e passa a contribuir para os fortalecer de forma a também ser escolhido mais tarde. E, assim, começam a levedar as oligarquias internas que filtram os seus elementos, de modo a ficarem só os que não as ponham em causa. Todos os que representarem ameaça serão ostracizados e tendencialmente eliminados. Generaliza-se o comportamento de cartel, constituindo-se um casulo fechado, apenas recetivo àqueles que o beneficiarem.
O funcionamento interno dos partidos chegou a um tal ponto de corrupção que põe em cheque a legitimidade do sistema partidário. A promiscuidade entre o apoio político e a compensação de cargos no Estado determina os jogos de poder. A ocupação dos lugares com base numa lógica de pagamento de favores e distribuição de sinecuras, em vez de se ter em conta a qualidade, o mérito ou a prossecução das políticas públicas prometidas em campanha aos eleitores, vai descredibilizando a política e os seus agentes. Cada vez mais a energia interna dos partidos provém de práticas sem ética, que se normalizaram no sistema e que vão estimulando populismos irresponsáveis a despontar um pouco por toda a Europa.
Está na altura dos partidos começarem a mudar por dentro e terem a coragem de abrir o corpo do monstro. A perpetuação das oligarquias e a generalização da sucessão dinástica ao nível das distritais, das concelhias ou das juventudes partidárias impede a conflitualidade interna e permite passar uma imagem de coesão partidária útil ao marketing político. A eternização no poder pelo poder tem tornado as máquinas partidárias gradualmente mais pragmáticas. A identidade tem dado lugar ao oportunismo e a seriedade à conveniência. Enquanto não se partir para uma reforma profunda, responsável e rigorosa do sistema político português, em que todos estes temas são tratados sem peias, não poderemos ambicionar por representantes que defendam genuinamente o interesse coletivo.
Com todos os seus defeitos, os partidos continuam a ser o pilar da democracia, mas o desvirtuamento dos seus métodos e princípios também pode transformá-los num perigo para a sustentabilidade da mesma.

Pedro Borges de Lemos
Advogado e Militante do CDS-PP.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Fernando Rosas: a impostura do marxista que nega Marx.

1. Corre presentemente na RTP-2 um programa da autoria de Fernando Rosas intitulado História a História - África e que se apresenta com a pretensão de oferecer um quadro terrífico do impacto da presença portuguesa em África nos séculos XIX e XX. Confiado a um historiador ideologicamente comprometido e que pouco ou nada sabe de África, História a História é um exercício desonesto, anti-científico e declaradamente anti-português na análise do último século do sistema luso-africano. Para Rosas, ferido de parcialidade, cegueira, incontida má-fé e pobreza extrema nas fontes historiográficas e bibliografia datada de que se socorre, a colonização portuguesa constituiu um desastre para o conjunto dos povos por ela tocados.
2. Rosas é um marxista - que o seja - mas o seu discurso, feito de respingos de Basil Davidson (autor de O Fardo do Homem Negro) e de clichés retirados do movimento da chamada negritude, corrente literária e emocional que entre as décadas de 1940 e 1960 fez furor entre os independentistas africanos, constituiu, afinal, uma profunda contradição com o método de análise marxista, sua periodização histórica, tipos de sociedade, modos de produção e dinâmicas que o materialismo histórico oferecia para a compreensão evolutiva das sociedades. É sabido que Marx e Engels tinham de África uma visão eurocêntrica, própria do século XIX, considerando as culturas e sociedades africanas estáticas, petrificadas, despóticas e irrelevantes, pelo que a colonização europeia surgia como uma necessidade para a integração do continente negro nos sendeiros do progresso. Se fosse coerente, Rosas entenderia a colonização como um processo de integração de África na vida planetária e veria nos métodos da colonização um queimar de etapas que levaria à mudança do modo de produção primitivo, antigo ou feudal (consoante as regiões africanas) em modo de produção capitalista. Rosas parece querer esquecer que, em Marx, a chamada acumulação primitiva de capital accionada pela colonização - implicando uso da força de trabalho, instituição da propriedade privada e monetarização económica - teriam necessariamente efeitos chocantes nas sociedades expostas a súbita mudança. Marxista, Rosas deixa de o ser para carpir as dores de um processo. Fá-lo, porém, com evidente má-fé.
3. Para um marxista coerente - que Rosas não é - não seria necessário ir a África para estudar as dores dos períodos de transição de formas "arcaicas" de organização social e económica para o capitalismo. Seria importante lembrar que a Inglaterra exerceu sobre o seu próprio povo aquilo de que Rosas vem cinicamente acusar os portugueses. O povo inglês foi, lembremo-lo, submetido durante mais de duzentos anos ao processo de acumulação primitiva de capital pelos industriais capitalistas, embaratecimento do custo do trabalho e até a formas de trabalho forçado a extremos que nunca se verificaram em África. Na Grã-Bretanha, durante quase dois séculos, as "mais-valias" que os capitalistas retiraram do trabalho dos trabalhadores excederam largamente as práticas colonialistas. Ao quadro de exploração oferecido por Charles Dickens nos seus romances, importa lembrar as famosas workhouses, centros de detenção destinados a pobres, onde milhões de britânicos foram confinados sem retribuição salarial e onde cerca de três milhões terão perecido por doença, maus-tratos e fadiga extrema.
4. Ora, na colonização da África portuguesa, tal "processo primitivo de acumulação primitiva" de capital foi curto. Terá começado por volta do início do século XX com o chamado regime do indigenato e terminou em inícios da década de 1960. Portugal conseguiu em sessenta anos em África aquilo que os britânicos realizaram ao longo de 200 anos; realizar uma dupla revolução económica e social que tratou de instaurar o capitalismo e a cidadania plena, finalmente alcançada em 1961, quando o bilhete de identidade de cidadão português foi atribuído a todas as populações dos territórios portugueses africanos. A passagem da uma economia de grandes lucros para os detentores dos meios de produção para uma economia distributiva, ou seja, de repartição da riqueza e dos bens em benefício das populações, alcançou na África portuguesa resultados nunca alcançados em economias africanas. Nem mesmo a África do Sul, o país mais rico de África, o conseguiu, dadas as características segregacionistas e racistas próprias do regime do Apartheid. A análise estatística do desenvolvimento social e humano atingido em Angola e Moçambique no início da década de 1970, oferece o quadro de um imenso sucesso de integração. Portugal tinha, em 1970, o melhor sistema de ensino do continente, o melhor sistema de saúde, a melhor legislação de inclusividade, as melhores práticas de favorecimento e ascensão social e, até, o mais rápido processo de harmonização social."
Miguel Castelo-Branco

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Os meus filhos são socialistas



Não sei se são só os meus filhos que são socialistas ou se são todas as crianças que sofrem do mesmo mal. Mas tenho a certeza do que falo em relação aos meus. E nada disto é deformação educacional – eles têm sido insistentemente educados no sentido inverso. Mas a natureza das criaturas resiste à benéfica influência paternal como a aldeia do Astérix resistiu culturalmente aos romanos. Os garotos são estóicos e defendem com resistência a bandeira marxista sem fazerem ideia de quem é o senhor.
Ora o primeiro sintoma desta deformação ideológica tem que ver com os direitos. Os meus filhos só têm direitos. Direitos materiais, emocionais, futuros, ambíguos e todos eles adquiridos. É tudo, absolutamente tudo, adquirido. Ele dão como adquirido o divertimento, as férias, a boleia para a escola, a escola, os ténis novos, o computador, a roupinha lavada, a televisão e até eu. Deveres, não têm nenhum. Quanto muito lavam um prato por dia e puxam o edredão da cama para cima, pouco mais. Vivem literalmente de mão estendida sem qualquer vergonha ou humildade. Na cabecinha socialista deles não existe o conceito de bem comum, só o bem deles. Muito, muito deles.
O segundo sintoma tem que ver com a origem desses direitos. Como aparecem esses direitos. Não sabem. Sabem que basta abrirem a torneira que a água vem quente, que dentro do frigorífico está invariavelmente leite fresquinho, que os livros da escola aparecem forradinhos todos os anos, que o carro tem sempre gasolina e que o dinheiro nasce na parede onde estão as máquinas de multibanco. A única diferença entre eles e os socialistas com cartão de militante é que, justiça seja feita, estes últimos já não acreditam na parede – são os bancos que imprimem dinheiro e pronto, ele nunca falta. 
Outro sintoma alarmante é a visão de futuro. O futuro para os meus filhos é qualquer coisa que se vai passar logo à noite, o mais tardar. Eles não vão mais longe do que isto. Na sua cabecinha não há planeamento, só gastamento, só o imediato. Se há, come-se, gasta-se, esgota-se, e depois logo se vê. Poupar não é com eles. Um saco de gomas ou uma caixa de chocolates deixada no meio da sala da minha casa tem o mesmo destino que um crédito de milhões endereçado ao Largo do Rato: acaba tudo no esgoto. E não foi ninguém…
O quarto tique socialista das minhas crianças é estarem convictas de que nada depende delas. Como são só crianças, acham que nada do que fazem tem importância ou consequências. Ora esta visão do mundo e da vida faz com que os meus filhos achem que podem fazer todo o tipo de asneiras que alguém irá depois apanhar os cacos. Eles ficam de castigo é certo (mais ou menos a mesma coisa que perder eleições), mas quem apanha os cacos sou eu. Os meus filhos nasceram desresponsabilizados. A responsabilidade é sempre de outro qualquer: o outro que paga, o outro que assina, o outro que limpa. No caso dos meus filhos o outro sou eu, no caso dos socialistas encartados o outro é o governo seguinte.
Por fim, o último mas não menos aterrorizador sintoma muito socialista dos meus filhos é a inveja: eles não podem ver nada que já querem. Acham que têm de ter tudo o que o do lado tem quer mereçam quer não. São autênticos novos-ricos sem cheta. Acham que todos temos de ter o mesmo e se não dá para repartir ninguém tem. Ou comem todos ou não come nenhum. Senão vão à luta. Eu não posso dar mais dinheiro a um do que a outro ou tenho o mesmo destino que Nicolau II. Mesmo que um ajude mais que outro e tenha melhores notas, a “cultura democrática” em minha casa não permite essa diferenciação. Os meus filhos chamam a esta inveja disfarçada, justiça, os socialistas deram-lhe o nome de justiça social.
A minha sorte é que os meus filhos crescem. Já os socialistas são crianças a vida inteira.
Não sou eu o autor, mas gostaria. Está muito bom. Ou deprimente, dependendo do ponto de vista.Editado para acrescentar a autora: Inês Teotónio Pereira.

sábado, 3 de junho de 2017

O socialismo de estado, segundo Salazar

Esse socialismo de Estado, que muitos apregoam e aconselham como um regime avançado, seria, na verdade, o sistema ideal para lisonjear o comodismo nato e o delírio burocrático do comum dos portugueses. Nada mais cómodo, mais garantido, mais tranquilo, do que viver à custa do Estado, com a certeza do ordenado no fim do mês e da reforma no fim da vida, sem a preocupação da ruína e da falência.

O socialismo de Estado é o regime burguês por excelência. A tendência para esse regime, entre nós, deve, portanto, procurar-se mais no fundo, falho de iniciativas da nossa raça do que noutras preocupações de ordem social. O Estado não paga muito mal e paga sempre. É-se desonesto, além disso, com maior segurança, com segura esperança de que ninguém repare.

As próprias falências, os desfalques, as irregularidades, se há compadres na governação, são facilmente afastados e os défices cobertos – regalia única! – pelos orçamentos do Estado.

As iniciativas, por outro lado, não surgem, não progridem, porque o padrão é imaterial, quase uma imagem. As coisas marcham com lentidão, com indolência, com sono. É possível que essa socialização tenha dado ou possa vir a dar ótimos resultados em qualquer outro país. Entre nós, os resultados não podem ter sido piores nalgumas experiências já feitas. Basta citar os Transportes Marítimos, os Bairros Sociais, os Caminhos de Ferro do Estado… Apenas uma excepção, que me lembre: a Caixa Geral de Depósitos. Essa é, realmente, uma iniciativa admirável do Estado Português, que tem prestado ao País, ao desenvolvimento da sua economia, sobretudo nestes últimos anos, incalculáveis serviços. (…)

Sou absolutamente hostil a todo o desenvolvimento de actividade económica do Estado em todos os domínios em que não esteja demonstrada a insuficiência dos particulares. Admito, sim, e procuro a cada momento desenvolver a intervenção dos poderes públicos na criação de todas as condições internas ou externas, materiais ou morais, necessárias ao desenvolvimento da produção. Essa intervenção é, mercê das dificuldades da época e dos problemas postos pela economia moderna, não só necessária, como cada vez mais vasta e complexa. Qualquer economia nacional que se encontrasse desacompanhada e desprotegida soçobraria em pouco tempo. Mas isso dificilmente se pode chamar socialismo de Estado.
António Oliveira Salazar.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Dez razões para rejeitar o socialismo

1. Socialismo e comunismo são a mesma ideologia O comunismo não é senão uma forma extrema de socialismo. Do ponto de vista ideológico, não há diferença substancial entre os dois. Na verdade, a União Soviética, um país comunista, chamou-se “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” (1922-1991) e igualmente a China comunista, Cuba e Vietnam se definem como nações socialistas. 2. O socialismo viola a liberdade pessoal O socialismo visa eliminar a “injustiça” pela transferência de direitos e responsabilidades dos indivíduos e das famílias ao Estado. No processo, o socialismo realmente cria injustiças. Ele destrói a verdadeira liberdade: a liberdade de decidir todas as questões que estão dentro da nossa própria competência e de seguir o curso mostrado pela nossa razão, nos limites das leis morais, incluindo os ditames da justiça e da caridade. 3. O socialismo viola a natureza humana O socialismo é anti-natural. Ele destrói a iniciativa pessoal - fruto do nosso intelecto e livre arbítrio - e o substitui pelo controlo do Estado. Ele tende ao totalitarismo, com a repressão do governo e da polícia, onde é aplicado. 4. O socialismo viola a propriedade privada O socialismo apela à “redistribuição da riqueza”, tirando dos “ricos” para dar aos pobres. Impõe impostos que punem aqueles que foram capazes de tirar o maior partido dos seus talentos produtivos, capacidade de trabalho ou hábitos de poupança. Ele utiliza a tributação para promover o igualitarismo económico e social, um objectivo que será plenamente alcançado, de acordo com o Manifesto Comunista, com a “abolição da propriedade privada”. 5. O socialismo opõe-se ao casamento tradicional O socialismo não vê nenhuma razão moral para se restringirem as relações sexuais ao casamento, isto é, uma união indissolúvel entre um homem e uma mulher. Além disso, como ficou dito, o socialismo mina a propriedade privada, o que Friedrich Engels — fundador do socialismo e do comunismo modernos, juntamente com Karl Marx — considerava como o fundamento do casamento tradicional. 6. O socialismo opõe-se ao direito dos pais na educação O socialismo quer que o Estado, e não os pais, controle a educação dos filhos. Quase desde o nascimento, as crianças devem ser entregues a instituições públicas, onde lhes será ensinado o que o Estado quer, independentemente dos pontos de vista dos pais. A teoria da evolução deve ser ensinada [em oposição à doutrina da origem dos seres por criação]. A oração deve ser proibida nas escolas. 7. O socialismo promove a igualdade radical A suposta igualdade absoluta entre os homens é o pressuposto fundamental do socialismo. Por isso, ele vê qualquer desigualdade como injusta em si mesma. Assim, os empregadores privados são retratados como “exploradores”, cujos lucros realmente pertencem a seus empregados. Como consequência, rejeitam o sistema assalariado. 8. O socialismo promove o ateísmo A crença em Deus, que ao contrário de nós é infinito, onipotente e onisciente, choca-se de frente com o princípio da igualdade absoluta. O socialismo, por conseguinte, rejeita o mundo espiritual, alegando que só existe a matéria. Deus, a alma, e a vida futura são apenas ilusões, de acordo com o socialismo. 9. O socialismo promove o relativismo Para o socialismo, não existem verdades absolutas nem moral revelada, que estabelecem normas de conduta que se aplicam a todos, em todos os lugares e sempre. Tudo evolui, incluindo o certo e o errado, o bem e o mal. Não há lugar para os Dez Mandamentos, nem na esfera privada, nem na praça pública. 10. O socialismo zomba da religião De acordo com Karl Marx, a religião é o “ópio do povo”. Lênin, o fundador da União Soviética, vai mais longe: “A religião é o ópio do povo. A religião é uma espécie de má aguardente espiritual na qual os escravos do capital afogam a sua imagem humana, a sua procura por uma vida mais ou menos digna do homem.”

domingo, 14 de maio de 2017

Frases para pensar

  1. Não existem almoços grátis (Milton Friedman).
  2. Todo o problema complexo tem uma solução fácil, simples, óbvia e … errada.
  3. O problema não é o que você não sabe, mas o que você não sabe, que não sabe.
  4. Os governantes e as fraldas devem ser trocados periodicamente pelo mesmo motivo (Eça de Queiroz em As Farpas).
  5. O poder corrompe, quanto mais concentrado o poder maior a corrupção, quanto mais diluído menor a corrupção, o poder absoluto corrompe absolutamente (Lord Acton).
  6. A troca é um jogo de soma positiva. Numa troca voluntária há uma criação de valor, uma vez que ambos os participantes, pela sua própria avaliação subjetiva, tiveram um aumento de satisfação (Donald Stewart).
  7. No mundo atual o conhecimento é o principal recurso para os indivíduos e para a economia como um todo. Os recursos naturais, o trabalho e o capital – os fatores tradicionais de produção da economia – não desaparecem, mas  tornam-se secundários. (Peter Drucker).
  8. O objetivo da indústria não é apenas o lucro: o empresário deve sempre propor-se a produzir bens e serviços úteis… a negação desta ideia é a especulação. (Henry Ford).
  9. Não há vento favorável para quem não sabe aonde vai. (Sêneca).
  10. Não é o empregador que paga os salários: é o cliente. (Henry Ford).
  11. Sabedoria é a qualidade de ver as consequências de longo prazo das ações presentes, a disposição para sacrificar ganhos de curto prazo a fim de obter vantagens maiores no longo prazo, a capacidade de controlar o que é controlável e de não se preocupar com aquilo que não o é. Portanto, a essência da sabedoria é a preocupação com o futuro. (Russel Ackoff).
  12. Aquele que não prevê os acontecimentos no longo prazo expõe-se a infelicidades próximas. (Confúcio).
  13. Só o trabalho produtivo gera riqueza.
  14. Pela habilidade para lidar com pessoas pagarei mais do que por qualquer outra habilidade que se possa imaginar. (John D. Rockefeller).
  15. O forte rei faz forte a fraca gente. (Luiz Vaz de Camões).
  16. Não há nada mais difícil de executar, mais perigoso de conduzir e mais incerto no seu êxito do que introduzir uma nova ordem, porque esta transformação terá forte resistência dos que se beneficiavam das leis antigas e as leis novas não encontrarão, com igual ânimo e por timidez, defensores entre os que estas vierem a favorecer. (Macchiavelli em Il Principe).
  17. O livre comércio de mercadorias é inquestionavelmente benigno, pois favorece a especialização competitiva segundo vantagens comparativas, incentivando a eficiência do produtor e a satisfação do consumidor. (Roberto Campos em Na Virada do milênio).
  18. As leis económicas são tão correctas quanto as leis físicas. Não se pode ir contra elas impunemente. (Say).
  19. Não se devem fazer leis sobre o que pode ser mudado pelos costumes. (Montesquieu).
  20. Uma revolução faz em dois dias a obra de cem anos e perde em dois anos a obra de cinco séculos. (Paul Valéry).
  21. Uma experiência vale mais que mil teorias (André Gide).
  22. As leis inúteis enfraquecem as necessárias (Montesquieu).
  23. Não se deve deixar os intelectuais brincarem com fósforos (J. Prévert).
  24. Está bem pago aquele que está satisfeito com o que recebeu (Shakespeare).
  25. O homem superior é aquele que executa aquilo que fala e fala de acordo com o que faz (Confúcio).
  26. A melhor maneira de impor uma ideia aos outros é fazer-lhes crer que a ideia veio deles (Alphonse Daudet).
  27. São as ideias que conduzem o mundo (E. Renan).
  28. O grande segredo da ética consiste justamente em que o meio é mais importante que o fim. (Berdiaev).
  29. As próprias leis da justiça possuem alguma mistura de injustiça. (Montesquieu).

O liberalismo e o socialismo são dois sistemas opostos.

A essência do liberalismo, conforme diz o nome é o conceito de liberdade. 
O direito dos indivíduos sobre o seu corpo, sua mente e sobre a propriedade daquilo que cada um produz física e intelectualmente. 
Foram os liberais que se insurgiram contra a escravidão no século XIX, tanto na Europa quanto na América Latina, opondo-se ao desejo dos conservadores de manter esse regime. 
Os liberais sempre foram considerados progressistas, porque, de facto, a liberdade facilita o progresso e a criação de riquezas.
O liberalismo não é uma ideologia (não acredita nelas), segue a leitura da realidade, cujas comprovações mais elementares são as seguintes: a riqueza cria-se, e sua criação depende mais da iniciativa privada do que do Estado; para se avançar rumo à modernidade e deixar a pobreza para trás, são requeridos poupança, trabalho, educação, controle dos gastos públicos, investimentos nacionais e estrangeiros, multiplicação de empresas – grandes, médias e pequenas – bem como a eliminação dos monopólios públicos e privados, do clientelismo, da corrupção e da burocracia vegetativa; a supressão de trâmites, subsídios e regulações inúteis; uma Justiça rigorosa, segurança jurídica e, de forma geral, respeito à lei e à liberdade em todas as suas formas. Tais aspectos constituem os perfis do modelo liberal.

O liberalismo preza a competição, a meritocracia, a igualdade de oportunidades no ponto de partida e o respeito aos contratos e à propriedade. “O liberalismo tira conclusões das experiências bem-sucedidas de nações como Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura, Hong Kong, Espanha, Nova Zelândia e, mais recentemente, China, Índia, Irlanda, Estônia, República Tcheca e Chile, ao mesmo tempo em que observa o que falta aos países para seguir por esse rumo, encontrando aí, de passagem, uma explicação para os nossos persistentes níveis de pobreza. Olhar primeiro as realidades que nos possam servir de exemplo e só depois formular propostas parece algo mais sadio do que obedecer aos ditames, deformações ou superstições.”[2]


O socialismo é uma ideologia utópica, que deu errado sempre que foi aplicado na sua forma mais pura, conduzindo a regimes totalitários com privação completa da liberdade e resultados económicos ruins. Mesmo quando aplicado de forma mitigada, como no caso das sociais democracias européias, que já possuíam anteriormente alto nível de renda por habitante, o resultado económico ficou bem aquém dos obtidos pelos países que preferiram o modelo liberal. Por isso, vários países estão reformulando as suas regras.

A razão da superioridade do liberalismo sobre o socialismo é extremamente simples: se as pessoas podem se apropriar daquilo que produziram e criaram, a riqueza é gerada e aumenta sempre. Se o que for produzido tem que ser entregue a terceiros a riqueza não aumenta.

A razão pela qual os socialistas demonizaram o liberalismo é justamente esta: eles não se conformam com a realidade dos factos. Uma ideologia parte de hipóteses que se transformam em premissas e depois em dogmas, a seguir constrói uma teoria que se transforma numa verdadeira religião. Se os factos não estão de acordo com os dogmas, mudem-se os factos para preservar os dogmas.

[1] Vargas Llosa, Álvaro; Montaner, Carlos A.; Mendoza, Plínio A.; A Volta do Idiota.
[2] Idem."

Professor Francisco Lacombe

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Refugiados. O caos na Alemanha.

O texto abaixo é atribuído a uma médica checa que trabalha num hospital de Munique.
Tudo verdade?  
Penso que mentira não será, pois que o contado é similar a outras notícias que conseguem passar.
Mas quem se espanta que isto está (ou pode vir) a acontecer.
Procurei notícias sobre como teria se desenvolvido, este ano, a tradicional Oktoberfest, em Munique. Estava marcada para acontecer entre 19 e Setembro e 4 de Outubro de 2016. 
Ao mesmo tempo, estavam chegando, diariamente, 10 mil refugiados, à estação ferroviária central da cidade. 
Nada vi nos noticiários. 
Nem o Google esclarece alguma coisa.
Em compensação, encontrei o texto de uma carta que uma médica tcheca escreveu a um amigo. 
Ela é anestesiologista e trabalha num hospital de Munique. 
Vejam o que está acontecendo no atual ambiente multicultural da Alemanha, segundo o que ela relata.

“Ontem tivemos uma reunião sobre como a situação aqui e em outros hospitais de Munique ficou insustentável. As clínicas não conseguem lidar com emergências e assim começam a enviar tudo para os hospitais.
Muitos muçulmanos estão recusando ser tratados por funcionários do sexo feminino e, nós, as mulheres, estamos nos recusando a trabalhar entre animais, especialmente africanos. 
As relações entre a equipe e os migrantes está indo de mal a pior. 
Desde o último fim de semana, migrantes que vão a hospitais têm que ser acompanhados por policiais.
Muitos migrantes têm SIDA, sífilis, tuberculose aberta e muitas doenças exóticas que, aqui na Europa, nem sabemos como tratar. Se recebem uma receita, aprendem na farmácia que têm que pagar em dinheiro. Isto leva à explosão de insultos inacreditáveis, especialmente quando se trata de remédios para crianças. Eles abandonam as crianças com o pessoal da farmácia e dizem: Então, curem-nas vocês! Portanto, a polícia não tem que proteger apenas clínicas e hospitais, mas também grandes farmácias.

Só podemos perguntar: Onde estão todos aqueles que, nas estações ferroviárias e na frente das câmeras de TV, mostram os cartazes de boas-vindas?
Sim, por enquanto as fronteiras foram fechadas, mas um milhão deles já está aqui e, definitivamente, não seremos capazes de nos livrar deles.
Até agora, o número de desempregados, na Alemanha, era de 2,2 milhões. 
Agora vai ser 3,5 milhões. 
A maioria destas pessoas é completamente não-empregável. 
Um mínimo deles tem alguma educação.E mais: as suas mulheres não fazem coisa alguma. 
Estimo que uma em cada dez está grávida. Centenas de milhares trouxeram consigo lactentes e crianças menores de seis anos desnutridas e negligenciadas. Se isto continuar, e a Alemanha reabrir suas fronteiras, eu voltarei para casa, para a República Tcheca. Ninguém vai poder me segurar aqui, nem com o dobro do salário. Eu vim para a Alemanha e não para África ou Oriente Médio.
Mesmo o professor que dirige o nosso departamento falou da tristeza em ver a mulher da limpeza fazendo seu serviço, há anos por 800 Euros, e depois encontrar homens jovens estrangeiros, querendo tudo de graça e, quando não conseguem, agtredim verbal e fisicamente, quem lhes nega a doação.
Eu realmente não preciso disso! Mas estou com medo de, se voltar, encontrar o mesmo na República Tcheca. Se os alemães, com os seus recursos, não conseguem lidar com isto, lá seria o caos total. Ninguém que não tenha tido contacto com eles pode ter uma ideia que espécie de animais eles são, especialmente os da África, e como os muçulmanos agem com soberba religiosa sobre a nossa equipe.
Por ora, o nosso pessoal ainda não foi reduzido, em consequência das doenças trazidas para cá, mas, com centenas de pacientes todos os dias, isso é apenas uma questão de tempo.
Num hospital perto do Rheno, os migrantes atacaram a equipe a facadas, depois de trazerem um recém-nascido de 8 meses, que estava à beira da morte, arrastado através de meia Europa, durante três meses. A criança morreu, depois de de dois dias, apesar de ter recebido os melhores cuidados, numa das melhores clínicas pediátricas da Alemanha. O médico teve que passar por cirurgia e duas enfermeiras foram para a UTI. Ninguém foi punido. A imprensa local é proibida de noticiar. 
Nós ficamos sabendo por e-mail.

O que teria acontecido a um alemão, se ele tivesse esfaqueado um médico e duas enfermeiras? 
Ou se ele tivesse jogado sua própria urina, infectada por sífilis, no rosto da enfermeira e a ameaçado de contaminação? 
No mínimo, iria ser preso imediatamente e depois processado. 
Com esse povo,  até agora, nada aconteceu.
Então, pergunto: onde estão todos aqueles que saudaram sua vinda e os recepcionaram, nas estações ferroviárias? 
Sentados, sossegados em casa, curtindo as suas organizações não-lucrativas, aguardando ansiosamente os próximos combóios e o próximo lote de dinheiro em pagamento dos seus préstimos como recepcionistas???!!!
Se fosse por mim, eu arrebanharia todos esses recepcionistas e os traria primeiro aqui, para a ala de emergência do hospital, para agirem como recepcionistas, e depois para um alojamento de migrantes, para que possam cuidar deles lá mesmo, sem policiais armados, sem cães policiais, que hoje podem ser encontrados em todos os hospitais da Baviera, e sem ajuda médica.”
Eis o teor do desabafo desta profissional, que nos pode dar uma ideia do que está sendo preparado, como futuro, através da multiculturação, que está sendo impingida aos povos do velho continente, principalmente à Alemanha.
Toedter

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

RIP Sture...vitima da hipócrisia Sueca.



A "superpotência humanitária europeia'' a Suécia faz o seu melhor para agradar aos refugiados requerentes de asilo, fornecendo-lhes alimentos, roupas e abrigos, mas parece que os seus próprios cidadãos, suecos de origem, em necessidade, são de menor importância e esquecidos. 

Sture, um sem-abrigo de 60 anos foi encontrado morto na manhã de uma quarta feira passada, á porta do hospital de Nynashamn. Sture tinham procurado refúgio contra o frio no referidos hospital durante a noite. Mas não foi autorizado a entrar. Um segurança expulsou-o, e sem qualquer oferta de habitação do município, sem opções, foi forçado a passar a noite numa paragem de autocarros fora do hospital. De manhã, foi encontrado morto, congelado. 

Claro que em Nynäshamnsposten a noticia sobre a morte de Sture foi esquecida pelos media oficiais. Mas as redes sociais divulgaram esta tragédia humana. Sture era um homem descrito como um bom trabalhador ao longo de sua vida, tendo inclusive prestado seerviço nas forças armadas suecas e numa instituição hospitalar. Nos últimos anos, porém, passou a sair com as pessoas erradas e começou a beber, tendo-se rendido ao vicio do álcool. Sture, viveu num alojamento do município, mas foi despejado, para dar lugar aos imigrantes que agora chegam á Europa, especialmente á Suécia. 

Sendo uma pessoa cordata e prestável, não gostava de incomodar os outros, sendo ele mesmo um sem-teto . Foi-lhei prometido tratamento pra se livrar do vício, mas as recaídas criaram uma série de obstáculos no caminho, e o município, abandonou-o. Durante os últimos dias da sua vida, Sture manteve-se quente dentro do hospital, até que o segurança o expulsou do edifício, retirando-lhe os seus agasalhos, os seus pertences. 

Após ter sido expulso do hospital, Sture viveu num abrigo público, mas mesmo ai foi perseguido e expulso, afugentado por outros mendigos estrangeiros. Então, voltou ao hospital e sentou-se no banco da paragem do autocarro, aonde congelou até á morte durante a noite, quando a temperatura era de cerca de 12-14 graus abaixo zero. 
 RIP Sture.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Entrevista de um apátrida (Entrevista a Mário Soares, em 1974, quando Ministro dos Negócios Estrangeiros português.)


Do Jornal "Der Spiegel"

SP — Sr. Ministro, o Governo Provisório está em vias de conceder a independência às colónias da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. Há portugueses que se interrogam se este Governo de Transição, que não foi eleito pelo povo, mas empossado por um golpe militar, tem legitimidade para tomar uma decisão tão histórica.
MS — Isso nos perguntámos logo a seguir à revolução de 25 de Abril. Ponderamos se a descolonização se deveria fazer apenas após eleições regulares. Mas verificou-se que o problema era candente, que dificuldades e demoras surgiam no processo. E assim convencemo-nos que precisávamos de nos apressar.
SP — Há portugueses que julgam que o Sr. se tenha apressado demais — como em tempos os belgas ao se retirarem do Congo.
MS — Estamos há 3 meses no governo, e entretanto fizemos contactos e progressos, mas não creio que tenhamos sido demasiado apressados. Pelo contrário. A situação em Angola, que nos últimos tempos se tornou explosiva, prova que talvez não tivéssemos andado suficientemente depressa.
SP — Sobre as condições de independência o Sr. negoceia exclusivamente com os movimentos de libertação africanos. Na sua opinião eles são os únicos legítimos representantes das populações nas colónias?
MS — Bem, se quisermos fazer a paz — e nós queremos sem demora a paz — temos que falar com os que nos combatem. Isto não implica uma avaliação política ou ética dos movimentos de libertação, mas resulta da apreciação pragmática de determinada situação. E quem nos combate na Guiné? O PAIGC. Assim temos de falar com o PAIGC. Quem nos combate em Moçambique? A Frelimo. Assim temos de falar com a Frelimo.
SP — E com quem pode o Sr. negociar em Angola onde existem vários movimentos rivais?
MS – Em Angola há dois movimentos de libertação reconhecidos pela OUA – o
MPLA e a FNLA. Assim temos de negociar com ambos. Para avaliar qual dos dois é o mais representativo do povo é um problema que os Angolanos e as coligações que no futuro formarão governo terão de resolver mais tarde.
SP — Acredita que esses movimentos e em particular os ainda discutíveis têm suficiente autoridade de impor a solução que vai ser negociada.
MS — Esperamos que sim. Mas o processo de descolonização em Portugal, no formato, não deverá decorrer de modo muito deferente do da Inglaterra e França.
SP — Na Argélia havia um movimento de libertação muito forte, como no Kénia e sem dúvida também na Guiné-Bissau e Moçambique. Mas e em Angola?
MS — Sim, na verdade em Angola a situação é difícil devido às divisões dentro dos movimentos. E nós não podemos alterar aí quase nada. Estamos prontos a falar com cada uma das facções e, dentro das nossas possibilidades, procurar que se unam. Mas não temos muitas ilusões, as nossas possibilidades de intervir aqui são muito limitadas.


SP — Se o processo de descolonização português correr como o inglês ou o francês, na sua opinião qual será a tendência a seguir - como no Kénia que seguiu a via capitalista, ou como a Zâmbia que tenta uma espécie de socialismo africano?
MS — Eu julgo que é sempre perigosa a transposição de modelos estranhos. Mas, de momento, parece-me que a evolução em Moçambique será semelhante à da Zâmbia. Noutras regiões poderá haver outras soluções. Quando falei da semelhança do nosso processo de descolonização com o inglês ou o francês, pensei mais nas linhas gerais — que nós, como potência colonial, como os ingleses e os franceses, devíamos negociar com os movimentos fortes a operar nas colónias.
SP — E o que virá depois das negociações?
MS — Parece-nos importante que as populações sejam consultadas e que, depois do domínio português, não lhes seja imposto outro domínio que poderá não ter a maioria. Gostaríamos que a liberdade da população fosse garantida e assegurada. Mas temos nós, como antiga potência colonial, autoridade bastante para discutir isso? A nós parece-nos isso muito problemático. Por outro lado, o PAIGC e a Frelimo são movimentos de libertação que em anos de luta renhida pela independência ganharam indiscutível autoridade. Eles têm chefes muito qualificados e conscientes das responsabilidades. Com quem mais, a não ser com eles, deveremos negociar?
SP — Sente-se o novo governo português também responsável por aqueles milhares de africanos que, por motivos diversos, colaboraram com o anterior regime?
 MS — Certamente que nos sentimos responsáveis por essa parte da população e sobre o seu destino já se falou por diversas vezes nas conversações. No caso concreto da Guiné, onde o processo está mais avançado, tencionamos, por exemplo, repatriar para Portugal os ex-combatentes africanos que o queiram por não se conseguirem integrar na nova República independente.
SP — Quantas pessoas são essas?
MS — Sabemos de cerca de 3o antigos comandos que aos olhos do PAIGC representam um certo perigo. Para estas pessoas temos de encontrar uma solução qualquer — talvez integrá-los nas forças armadas portuguesas ou coisa semelhante.
SP — Acredita que do lado dos movimentos de libertação exista a boa vontade de não exercer represálias contra os colaboradores africanos do antigo regime?
MS — Sim, isso foi-me espontaneamente assegurado, mesmo antes de nós termos levantado o problema. Também nos deram certas garantias, os movimentos de libertação não são racistas. Eles estão conscientes dos imensos problemas que terão de enfrentar e não querem comprometer já a sua vida política com crueldades e actos de vingança.
SP — No entanto, a "Voz da Frelimo" emissora do movimento para Moçambique tem, nas passadas semanas, por diversas vezes apelado aos soldados pretos para desertarem das tropas portuguesas, sob pena de ajuste de contas após a independência.
MS — Uma guerra, infelizmente não é um jogo de cavalheiros nem um concurso hípico com regras éticas fixas. Tais excessos verbais e ameaças são lamentáveis, mas também muito naturais. Na verdade, não sei se essas ameaças foram feitas, mas considero-as possíveis. Mas até agora tivemos na Guiné e em Moçambique —em Angola ainda não — uma impressionante onda de confraternização e tudo tem corrido muito melhor do que seria de esperar depois de 13 anos de guerra.


SP — Muitos brancos nas colónias portuguesas sentem-se traídos por Lisboa. Com razão?
MS — Se acreditou nos slogans do antigo regime — que Angola é nossa e sê-lo-á para sempre, e que não são colónias mas simplesmente províncias ultramarinas —então terá razão em sentir-se traído. Mas, na realidade, a traição é do regime de Salazar e Caetano que quiseram fazer esta gente acreditar que seria possível oferecer resistência ao mundo inteiro e à justiça.
SP – Qual será o futuro destes brancos desiludidos, se, apesar de tudo, quiserem permanecer em África?
 MS — Se forem leais para com os novos Estados independentes na cooperação e respeitarem as suas leis, não têm nada a temer. Na Guiné, por exemplo, o próprio movimento de libertação exortou-nos a deixar os nossos técnicos, médicos, engenheiros e agrónomos, porque precisavam deles. É cómico: a extrema esquerda portuguesa exigia a nossa saída imediata, total e sem condições, mas os próprios movimentos de libertação não exigiram nada disso.
SP — O que será dos brancos que não querem ficar em África? Em Moçambique já se iniciou entre os brancos um grande movimento de fuga.
MS — É verdade. Mas estou certo que dois anos após a independência e quando as instituições do País funcionarem razoavelmente, haverá mais portugueses, em Moçambique, que hoje. Isto é, aliás, um fenómeno geral. O Presidente Kaunda da Zâmbia disse-me, quando estive em Lusaka: " Saiba que temos aqui na Zâmbia o dobro dos ingleses que tínhamos antes da independência".
SP — E o Sr. acredita que isso também acontecerá em Moçambique?
MS — Sim. Primeiro virão muitos para Portugal, porque têm medo, mas depois regressarão.
SP — E em Angola?
MS — Ali ainda não há muitos que abandonaram o País. Ali generaliza-se entre os brancos uma atitude perigosa. Precisamos de convencer os brancos, no seu próprio interesse, que fiquem, mas já não como patrões, como até agora.
SP — Apesar disso Portugal tem de contar com o regresso de muitos. Como irão resolver o caso?
MS — Isto é para nós um problema económico muito sério, pois não é apenas o regresso dos colonos brancos mas também os soldados — cerca de 150.000 a 200.000 homens que regressam duma assentada. Acrescem ainda os imigrantes que querem regressar desde que Portugal é livre. O assunto está a ser estudado pelo Ministério da Economia e Finanças. Temos de criar novos postos de trabalho, mas isso significa igualmente a reestruturação da totalidade da economia portuguesa, que vai precisar de se adaptar às sociedades industriais modernas.
SP — Não existem portanto planos concretos para absorver os retornados? 
MS — Há investigações adiantadas.
SP — Entre os brancos que não querem regressar a Portugal, tenta-se criar um exército de mercenários para se opor aos movimentos de libertação. Em Angola, nos últimos tempos, radicais brancos de direita provocaram confrontos raciais sangrentos. Pode Lisboa impedir que tais brancos, especialmente em Angola, tomem o poder?
MS — Eu penso que sim. 
SP — Como?


MS — O exército em Moçambique e em Angola é completamente leal para com os que fizeram a Revolução de 25 de Abril. E o exército não permitirá que mercenários brancos ou grupos semelhantes se levantem contra o exército. Tentativas haverá. Em Moçambique já as houve.
SP — E em Angola onde vivem mais do dobro dos brancos e um terço menos de pretos que em Moçambique?
MS — Em Angola haverá certamente uma série de situações mais ou menos desesperadas e tensões perigosas entre as raças. Apesar disso, julgo que por ora o exército pode e fará manter a ordem — a ordem democrática.
SP — Portanto, se necessário, o exército português fará fogo sobre portugueses brancos?
MS — Ele não hesitará e não pode hesitar. O exército já mostrou que tem mão forte e quer manter a ordem a todo o custo
SP — Apesar do exército, não se pode excluir a hipótese de os brancos se declararem independentes, como na Rodésia. Pelo menos Angola podia tentar mesmo economicamente uma tal solução.
MS — De princípio, nos primeiros momentos da Revolução tive muito receio que tal pudesse acontecer. Mas quanto mais o tempo passa, mais difícil se tornará uma tal tentativa.
SP — Suponhamos, no entanto, que tal venha a acontecer — reagiria Lisboa como Londres, na altura, tentando impor um bloqueio económico?
MS — Não creio que em Angola exista uma solução rodesiana, mas se tal acontecesse combatê-la-íamos com todas as nossas forças, pois uma tal solução seria para África e para o Mundo uma aventura inaceitável.
SP — Também se pensou isso no caso da Rodésia e, no entanto, não se pôde evitar.
MS — Para nós tal solução é improvável a não ser que tivéssemos um golpe de direita aqui em Portugal. Nós — este governo democrático — não permitirá que tal solução rodesiana aconteça em Angola ou Moçambique. Eu repito! Nós combatê-la-emos com todos os meios ao nosso dispor.
SP - Porquê?
MS — Porque isso poria em causa todo o nosso processo de descolonização, a nossa credibilidade, e a nossa boa vontade. E porque com uma tal solução até o regresso do fascismo poderia ser encaminhado em Portugal.
SP — Do ponto de vista económico a perda da Guiné e de Moçambique são um alívio para Portugal. Angola, no entanto, com os seus diamantes, petróleo, café trouxe para Portugal as tão necessárias divisas. Pode Portugal dar-se ao luxo de perder essa fonte de divisas?
MS — Todas estas receitas não compensavam os custos de guerra. Nós gastávamos cerca de 2 biliões de marcos por ano com a guerra. O que pouparmos com o fim da guerra compensa plenamente a perda dessas divisas, que de qualquer modo, acabavam na maior parte nos bolsos dos americanos, alemães e ingleses.
SP — Lisboa irá ajudar no futuro as suas antigas colónias? Concretamente: -Se Moçambique independente resolvesse impedir o trânsito de mercadorias da Rodésia para Lourenço Marques ou Beira para exercer pressão política sobre o regime branco de Salisbury, estaria Portugal disposto a compensar Moçambique pela perda de divisas que tal operação acarretaria?
MS — Os nossos meios são escassos, temos de ter em atenção a nossa muito tensa situação económica. Mas, dentro das nossas possibilidades, ajudaríamos, numa tal situação.
SP — No seu livro "Portugal e o Futuro", o general Spínola propunha uma espécie de comunidade portuguesa como forma de cooperação futura entre Lisboa e África. Os movimentos de libertação não deram qualquer importância à ideia. Como serão as futuras relações entre Lisboa e África?
MS — O discurso pragmático proferido pelo general Spínola em 27 de Julho sobre o futuro das colónias está muito distante da concepção do seu livro. Se, algum dia, uma espécie de comunidade dos países lusófonos se verificar, só na condição de todos os países serem realmente independentes. E seriam então os países africanos a dizer até que ponto tal associação poderia ir.
SP — Sr. Ministro, muito obrigado pela entrevista. in: "Der Spiegel" - N° 34/1974•


Não é passado muito tempo que Hans Magnus Enzensberger editor, autor, poeta e filósofo do "Der Spiegel", em conversa sobre este deslumbrado apátrida disse o seguinte:

"Trata-se de um homem com pouca cultura, desconhecimento total sobre política e o ódio contra os portugueses foi visível, tivesse o custo que tivesse pretendia a saída de todos os brancos das colónias portuguesas e tinha deliberadamente decidido matá-los caso não saíssem, ficou-nos a ideia de um homem ambicioso, pouco claro e disposto a tudo para atingir os seus objectivos, a história de Portugal para ele era qualquer coisa sem importância".
Em 2009, Hans Magnus Enzensberger recebeu o especial reconhecimento e confiança pela sua longa carreira e pelo seu excelente livro "The Griffin Poetry".