terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Próclise e ênclise...o que é isso ?!?!?!

Próclise - pronome átono, antes do verbo
Ênclise - pronome átono depois do verbo

O pior dos erros do português: as ênclises (pronome átono depois do verbo, como em “torna-se”) acabam metendo o pronome após o verbo em casos em que todos os portugueses usam o pronome antes do verbo (“se torna”, como todo os brasileiros), porque a gramática obriga a próclise nesses casos.

Por exemplo, o advérbio “só” obriga a próclise (pronome antes do verbo)

No português brasileiro oral, praticamente só ocorre uma única colocação espontânea: o pronome antes do verbo (o que se chama próclise): eu me chamo; me diz uma coisa; eu te disse.
Todo brasileiro e todo o português sabe que uma das principais diferenças entre as variantes actuais do português brasileiro e do português lusitano diz respeito à colocação pronominal: 

Enquanto na Idade Média havia grande fluidez e portugueses ora usavam o pronome átono antes do verbo, ora depois, a situação acabou se definindo ao longo dos séculos, mas de modo diferente nos dois países: 

Em Portugal usa-se aproximadamente em 50% dos casos o pronome depois do verbo, mas deve vir obrigatoriamente antes do verbo (“também se manteve”) quando há na frase advérbios,
conjunções, etc. 

Já no Brasil, em situações naturais, o pronome vem sempre antes do verbo. Assim, todo brasileiro diz “Me dá”, “Nos vimos”, “Me queixei”, enquanto os portugueses dizem “Dá-me”, “Vimo-nos”, “Queixei-me”. 

Desde o século passado, que os melhores cronistas,poetas, músicos, brasileiros, usam próclises (pronomes antes do verbo), à brasileira (e que, na metade dos casos, coincidem com a forma “certa” em Portugal).

O mesmo não ocorre, porém, com a maior parte dos jornalistas brasileiros e de todos aqueles brasileiros que, querendo falar “chique” ou “difícil”, tentam imitar a colocação portuguesa – e que, nessa tentativa, sempre acabam cometendo erros ao usar mais ênclises (pronome após o verbo) do que os próprios portugueses.

Justamente por estarem simplesmente tentando imitar uma colocação pronominal que não lhes é natural, o que mais se vê nos jornais brasileiros hoje são ênclises erradas – erradas mesmo pela colocação gramatical portuguesa. 

Chovem casos, em que o jornalista escreve “também manteve-se” – erro feio, pois consegue ao mesmo tempo violar a gramática tradicional portuguesa  (que determina que advérbios como “também” exigem a próclise, e não a ênclise) e falha ao não reproduzir o uso natural de nenhum falante, nem português, nem brasileiro.

Os jornalistas brasileiros hoje incorrem no pior tipo de erro gramatical, pois acertariam se escrevessem exactamente como falam (usando a brasileiríssima próclise), mas erram simplesmente 
por tentar parecer chiques, por tentar falar difícil. Seguindo a concepção vira-lata de que “se eu falo assim, deve estar errado” e de que “quanto mais diferente da fala, mais correto deve estar”, acabam criando ênclises inexistentes em Portugal e em qualquer norma culta da língua portuguesa.

O mesmo ocorre com orações com a palavra “que“, ou “onde“, entre outras: a gramática portuguesa tradicional obriga, nesses casos, que se use o pronome antes do verbo (igual a como fazem sempre no Brasil); todo português falará sempre e escreverá “que se deu“, “onde se viu“; 

Mas alguns brasileiros, querendo escrever difícil, acabam inventando construções erradas como “que deu-se“, “onde viu-se” – erradas segundo toda e qualquer gramática portuguesa.

Por outras palavras: se não quiserem passar vergonha, na dúvida, não inventem, escrevam da maneira que lhes soar mais natural, da maneira que falariam. 

Quase sempre, estará certo.

Em dicionarioegramatica.com

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