segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A Lenda de São Nicolau (St. Nicolas, Santa Claus, Pai Natal, Papai Noel)

Nicolau, filho de cristãos abastados, nasceu na segunda metade do século III, em Patara, uma cidade portuária muito movimentada.

Conta-se que foi desde muito cedo que Nicolau se mostrou generoso. Uma das histórias mais conhecidas relata a de um comerciante falido que tinha três filhas e que, perante a sua precária situação, não tendo dote para casar bem as suas filhas, estava tentado a prostituí-las. Quando Nicolau soube disso, passou junto da casa do comerciante e atirou um saco de ouro e prata pela janela aberta, que caiu junto da lareira, perto de umas meias que estavam a secar. Assim, o comerciante pôde preparar o enxoval da filha mais velha e casá-la. Nicolau fez o mesmo para as outras duas filhas do comerciante, assim que estas atingiram a maturidade.

Quando os pais de Nicolau morreram, o tio aconselhou-o a viajar até à Terra Santa. Durante a viagem, deu-se uma violenta tempestade que acalmou rapidamente assim que Nicolau começou a rezar (foi por isso que tornou também o padroeiro dos marinheiros e dos mercadores). Ao voltar de viagem, decidiu ir morar para Myra (sudoeste da Ásia menor), doando todos os seus bens e vivendo na pobreza.
Quando o bispo de Myra da altura morreu, os anciões da cidade não sabiam quem nomear para bispo, colocando a decisão na vontade de Deus. Na noite seguinte, o ancião mais velho sonhou com Deus que lhe disse que o primeiro homem a entrar na igreja no dia seguinte, seria o novo bispo de Myra. Nicolau costumava levantar-se cedo para lá rezar e foi assim que, sendo o primeiro homem a entrar na igreja naquele dia, se tornou bispo de Myra.

S. Nicolau faleceu a 6 de Dezembro de 342 (meados do século IV) e os seus restos mortais foram levados, em 1807, para a cidade de Bari, em Itália. É actualmente um dos santos mais populares entre os cristãos.
S. Nicolau tornou-se numa tradição em toda a Europa. É conhecido como figura lendária que distribui prendas na época do Natal. Originalmente, a festa de S. Nicolau era celebrada a 6 de Dezembro, com a entrega de presentes. Quando a tradição de S. Nicolau prevaleceu, apesar de ser retirada pela igreja católica do calendário oficial em 1969, ficou associado pelos cristãos ao dia de Natal (25 de Dezembro)

A imagem que temos, hoje em dia, do Pai Natal é a de um homem velhinho e simpático, de aspecto gorducho, barba branca e vestido de vermelho, que conduz um trenó puxado por renas, que esta carregado de prendas e voa, através dos céus, na véspera de Natal, para distribuir as prendas de natal. O Pai Natal passa por cada uma das casas de todas as crianças bem comportadas, entrando pela chaminé, e depositando os presentes nas árvores de Natal ou meias penduradas na lareira. Esta imagem, tal como hoje a vemos, teve origem num poema de Clement Clark More, um ministro episcopal, intitulado de “Um relato da visita de S. Nicolau”, que este escreveu para as suas filhas. Este poema foi publicado por uma senhora chamada Harriet Butler, que tomou conhecimento do poema através dos filhos de More e o levou ao editor do Jornal Troy Sentinel, em Nova Iorque, publicando-o no Natal de 1823, sem fazer referência ao seu autor. Só em 1844 é que Clement C. More reclamou a autoria desse poema.

Hoje em dia, na época do Natal, é costume as crianças, de vários pontos do mundo, escreverem uma carta ao S. Nicolau, agora conhecido como Pai natal, onde registam as suas prendas preferidas. Nesta época, também se decora a árvore de Natal e se enfeita a casa com outras decorações natalícias. Também são enviados postais desejando Boas Festas aos amigos e familiares.
Actualmente, Há quem atribuía à época de Natal um significado meramente consumista. Outros, vêem o Pai Natal como o espírito da bondade, da oferta. Os cristãos associam-no à lenda do antigo santo, representando a generosidade para com o outro.

Festas Felizes!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Pobre Portugal

Que país é este? 
Que povo é que somos? 
Que raio de momento histórico andamos a registar por estes tempos? 

Um povo meio indiferente às tragédias dos fogos e às inúmeras trapalhadas interpretadas por um sem número de figuras tristes do Estado e que não grita bem alto “assim não”. 

Onde pelas sondagens recentes cerca de 60% se revê num pacote que inclui Chico-espertos, comunistas e uma agremiação desmiolada. 
Onde o Chico-esperto-mor sobrevive num jogo equilibrista e sem rumo, e onde a distribuição de amendoins cuida de elevar o agachamento em lugar da fibra e do brio. 
Onde se confundem conceitos básicos como a ilusão e esperança. E de como o primeiro ultrapassa com facilidade a razão. 
Onde uma coligação negativa e que se diz positiva mais não é do que uma ressonância fiel das caixas de comentários na internet e que se regozijam com uma hipotética azia dos outros (desespero, digo eu). 
Onde o descaramento perante o assalto à coisa pública não provoca tumultos e onde a discricionariedade dos dirigentes encontra abundante complacência nos demais. Antes fossem Raríssimas estas situações. 
Onde a mentira e o ludíbrio têm livre-trânsito. Sim, não é o consumo privado que puxa pela economia (nem pode). São antes as exportações e o turismo, coisa que bem sabiam. Mas como para isso nada contribuíram trataram de inventar uma narrativa. A treta do consumo privado serve simultaneamente essa narrativa e de engodo útil para iludir o pagode. 
Onde a hipocrisia perdeu a vergonha. O que antes era pecado finge-se agora que não se vê. Sim, onde antes muitos viam o ruir do Estado Social agora fingem-se surpresos com as cativações e com o consequente estrebuchar do próprio Estado Social. 
Onde o desabafo é elevado à condição de argumento. 
Onde o mérito é olhado de soslaio e onde quem mais berra e ameaça é referência. 
Onde poucos teriam coragem e independência para dizerem Não a Ricardo Salgado. Não se duvide que com este governo não faltariam acrobacias para tudo acabar num Sim. 
Onde não se debate seriamente ao nível político mais alto temas tão relevantes e abrangentes como o suicídio demográfico em curso ou a sustentabilidade da segurança social. Ao invés privilegiam-se temas exóticos e corrosivos que afectam somente pequenas franjas da sociedade. 
Onde o deslumbramento pelo elogio quente e de ocasião do turista é suficiente para a satisfação do ego. E como que por oposição, onde a confrontação fria a crua com a realidade incomoda muito mais do que a medida comum. Será que somos assim mesmo? 

Os portugueses conseguem oferecer coisas maravilhosas. 
A segurança, o desenrascanço, as amêijoas à bulhão pato, os pastéis de nata, o peixe grelhado, o vinho, etc, são tudo coisas extraordinárias. Mas como medida do valor de um povo convenhamos que estão longe de esgotar os mínimos. 

Onde está a fibra? 
E o brio? 
E a honra? 

Sem outras exigências e sem outro estar, sem aquele incómodo assente em sólidos princípios e não no berro de circunstância corremos sérios riscos de nos tornarmos naquilo que se calhar já somos: uma mole indiferente, macilenta, vendida, acrítica, agachada, reles, e incauta. 

Perdidos no tempo que voa, no acontecimento que nos ultrapassa, na inveja que nos corrói, na mentira que nos trai, e na ilusão que nunca se concretiza, de que nos servem meia dúzia de cavalos que querem correr e forjar novos caminhos se só lhes atrelamos um sem número de carroças e ainda por cima lhes colocamos obstáculos pela frente? 

Tolhidos por uma maioria desesperada que se move em torno de grupos de pressão sem qualquer réstia de pudor em exigir o que não se pode dar e sempre prontos a pendurarem-se, vou-me interrogando sobre quais as soluções para aquela minoria que quer jogar o jogo pelo jogo e viver dentro das possibilidades, sem ilusões mas com esperança, e que pensa que Portugal pode ser bem mais do que um bando de arrogantes inconscientes para quem a desfaçatez, o berro e o disparate são a medida de sucesso, e onde a razão mais não é do que um mero empecilho. 

Pedro Bazaliza, no Corta Fitas

domingo, 17 de dezembro de 2017

Pai Natal...Verde ou Vermelho ???

O Pai Natal tem uma origem muito antiga. Nos países nórdicos, era costume alguém vestir-se com peles e representar o "Inverno", visitando as casas onde lhe ofereciam de beber e de comer, pois, se o tratassem bem, iriam ter sorte. 

Mais tarde, esse Pai Natal foi associado a São Nicolau, juntando as duas figuras numa só, vestido de verde. 

Só no século XIX é que surgiu uma imagem definida do Pai Natal. O norte-americano Clement Moore, em 1822, escreveu o poema "Uma Visita de São Nicolau" em que o descrevia em pormenor : Um velhote gordinho alegre, de vestes verdes, que se desloca num trenó puxado por oito renas e que entra nas nossas casas pela chaminé. 

Por volta de 1930,a Coca-Cola contratou um publicitário para criar a campanha de Inverno. Então,este, troca a côr verde das vestes do velhinho, pelo encarnado e o branco que eram as cores da empresa ficando assim, essas cores, erróneamente associadas à figura do Pai Natal. 

Nunca é tarde, para corrigir e dar o seu ao seu dono. 

Merry Christhmas...Hô...Hô...Hô....Hôôô....

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Próclise e ênclise...o que é isso ?!?!?!

Próclise - pronome átono, antes do verbo
Ênclise - pronome átono depois do verbo

O pior dos erros do português: as ênclises (pronome átono depois do verbo, como em “torna-se”) acabam metendo o pronome após o verbo em casos em que todos os portugueses usam o pronome antes do verbo (“se torna”, como todo os brasileiros), porque a gramática obriga a próclise nesses casos.

Por exemplo, o advérbio “só” obriga a próclise (pronome antes do verbo)

No português brasileiro oral, praticamente só ocorre uma única colocação espontânea: o pronome antes do verbo (o que se chama próclise): eu me chamo; me diz uma coisa; eu te disse.
Todo brasileiro e todo o português sabe que uma das principais diferenças entre as variantes actuais do português brasileiro e do português lusitano diz respeito à colocação pronominal: 

Enquanto na Idade Média havia grande fluidez e portugueses ora usavam o pronome átono antes do verbo, ora depois, a situação acabou se definindo ao longo dos séculos, mas de modo diferente nos dois países: 

Em Portugal usa-se aproximadamente em 50% dos casos o pronome depois do verbo, mas deve vir obrigatoriamente antes do verbo (“também se manteve”) quando há na frase advérbios,
conjunções, etc. 

Já no Brasil, em situações naturais, o pronome vem sempre antes do verbo. Assim, todo brasileiro diz “Me dá”, “Nos vimos”, “Me queixei”, enquanto os portugueses dizem “Dá-me”, “Vimo-nos”, “Queixei-me”. 

Desde o século passado, que os melhores cronistas,poetas, músicos, brasileiros, usam próclises (pronomes antes do verbo), à brasileira (e que, na metade dos casos, coincidem com a forma “certa” em Portugal).

O mesmo não ocorre, porém, com a maior parte dos jornalistas brasileiros e de todos aqueles brasileiros que, querendo falar “chique” ou “difícil”, tentam imitar a colocação portuguesa – e que, nessa tentativa, sempre acabam cometendo erros ao usar mais ênclises (pronome após o verbo) do que os próprios portugueses.

Justamente por estarem simplesmente tentando imitar uma colocação pronominal que não lhes é natural, o que mais se vê nos jornais brasileiros hoje são ênclises erradas – erradas mesmo pela colocação gramatical portuguesa. 

Chovem casos, em que o jornalista escreve “também manteve-se” – erro feio, pois consegue ao mesmo tempo violar a gramática tradicional portuguesa  (que determina que advérbios como “também” exigem a próclise, e não a ênclise) e falha ao não reproduzir o uso natural de nenhum falante, nem português, nem brasileiro.

Os jornalistas brasileiros hoje incorrem no pior tipo de erro gramatical, pois acertariam se escrevessem exactamente como falam (usando a brasileiríssima próclise), mas erram simplesmente 
por tentar parecer chiques, por tentar falar difícil. Seguindo a concepção vira-lata de que “se eu falo assim, deve estar errado” e de que “quanto mais diferente da fala, mais correto deve estar”, acabam criando ênclises inexistentes em Portugal e em qualquer norma culta da língua portuguesa.

O mesmo ocorre com orações com a palavra “que“, ou “onde“, entre outras: a gramática portuguesa tradicional obriga, nesses casos, que se use o pronome antes do verbo (igual a como fazem sempre no Brasil); todo português falará sempre e escreverá “que se deu“, “onde se viu“; 

Mas alguns brasileiros, querendo escrever difícil, acabam inventando construções erradas como “que deu-se“, “onde viu-se” – erradas segundo toda e qualquer gramática portuguesa.

Por outras palavras: se não quiserem passar vergonha, na dúvida, não inventem, escrevam da maneira que lhes soar mais natural, da maneira que falariam. 

Quase sempre, estará certo.

Em dicionarioegramatica.com

domingo, 3 de dezembro de 2017

A Árvore de Natal

O costume de enfeitar árvores é mais antigo que o próprio Natal. 
Já antes de Cristo praticamente todas as culturas e religiões pagãs usavam enfeites em árvores para celebrarem a fertilidade da natureza.

Os romanos adornavam as árvores em honra de Saturno, que era o seu Deus da agricultura.
No Egipto era hábito, no solstício de Inverno, trazerem ramos verdes para dentro das suas casas, como forma de celebrarem a vitória da vida sobre a morte.
Os druidas Celtas, em épocas festivas, decoravam os carvalhos com maçãs douradas.

Os primeiros registos da  adopção da árvore de Natal pelo cristianismo surgem do norte da Europa no começo do século XVI, embora tudo indique que por essa altura já era uma tradição vinda da época medieval, pois há registos de “Árvores de Natal” na Lituânia cerca do ano de 1510.

No antigo calendário cristão, o dia 24 de Dezembro era dedicado a Adão e Eva e a sua  história costumava ser encenada nas igrejas. Como representação do paraíso era usada uma árvore carregada de frutos.
Os cristãos ganharam então o hábito de montarem essa alegoria em suas casas com árvores que, com o passar dos tempos, foram ficando cada vez mais decoradas: as estrelas simbolizando a Estrela de Belém, as velas simbolizando a luz de Cristo e as rosas em homenagem à Virgem Maria.

Durante os séculos XVII e XVIII este hábito tornou-se tão popular entre os povos germânicos, que estes atribuíram a criação da árvore de Natal ao seu congénere Martinus Luter, (Martinho Lutero), fundador do protestantismo. 
Reza a lenda germânica que Lutero ao passear durante uma noite limpa pela floresta, observou o efeito das estrelas no topo das árvores e trouxe essa imagem para a sua família na forma de uma árvore com uma estrela no topo e decorada com velas.

Mas foi só durante o século XIX que a árvore de Natal se começou a difundir pelo resto do mundo, muito graças à contribuição da monarquia britânica. O príncipe Alberto, o marido de origem alemã da rainha Vitória, montou uma Árvore de Natal no palácio real britânico. Foi então tirada uma fotografia da família real junto à árvore, fotografia essa que foi publicada na revista “Illustrated London News”, no Natal de 1846.

No entanto, como o uso de árvores adornadas tem origem pagã, a adopção da Árvore de Natal foi muito mais rápida nos países nórdicos e no mundo anglo-saxónico.
Já nos países católicos, como Portugal, a Árvore de Natal foi ganhando aceitação muito lentamente, pois a tradição de Natal eram os presépios, como única decoração da sua celebração.

Só a partir de meados do século XX é que a Árvore de Natal começou a ser mais aceite em Portugal, já que antes dessa altura era pouco popular nas cidades e completamente ignorada nas zonas rurais.

Mas o tempo não parou e o costume começou a enraizar-se ao ponto de, actualmente, já fazer parte da tradição natalícia portuguesa

Em "A Origem das Coisas"

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

1º de Dezembro de 1640-A Restauração da Nossa Independência

A morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir, sem deixar descendência e outras motivos de natureza vária que não cabem neste pequeno resumo, concorreram para a perda da Independência de Portugal. 

Sem um sucessor directo, a coroa passou para Filipe II de Espanha. Este, aquando da tomada de posse, nas cortes de Leiria, em 1580, prometeu zelar pelos interesses do País, respeitando as leis, os usos e os costumes nacionais. 

Com o passar do tempo, essas promessas foram sendo desrespeitadas, os cidadãos nacionais foram perdendo privilégios e passaram a uma situação de subalternidade em relação a Espanha. Esta situação leva a que se organize um movimento conspirador para a recuperação da independência, onde estão presentes elementos do clero e da nobreza. 

A 1 de Dezembro de 1640, um grupo de 40 fidalgos introduz-se no Paço da Ribeira, onde reside a Duquesa de Mântua, representante da coroa espanhola, mata o seu secretário Miguel de Vasconcelos e vem à janela proclamar D. João, Duque de Bragança, rei de Portugal. 

Termina, assim, 60 anos de domínio espanhol sobre Portugal. 
A revolução de Lisboa foi recebida com júbilo em todo o País. Restava, agora, defender as fronteiras de Portugal de uma provável retaliação espanhola. Para o efeito, foram mandados alistar todos os homens dos 16 aos 60 anos e fundidas novas peças de artilharia. Aclamação de D. João IV, da autoria de Veloso Salgado (Museu Militar, Lisboa) 

Parece não haver dúvida de que a ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista. 

Cinco séculos de governo próprio haviam forjado uma nação, fortalecendo-a até ao ponto de rejeitar qualquer espécie de união com o país vizinho. Para mais, a independência fora sempre um desafio a Castela e uma vontade de não ser confundido com ela. Entre os dois estados foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas que Portugal realmente travou na Europa. 

Para a maioria dos Portugueses, os monarcas habsburgos não eram mais do que usurpadores, os Espanhóis, inimigos, e os seus partidários, traidores. 

Mas a Restauração carece de ser explicada por grande número de outros elementos. Culturalmente, avançara depressa, entre 1580 e 1640, a castelhanização do País. Autores e artistas portugueses gravitavam nas órbitas da corte espanhola, fixavam residência em Espanha, aceitavam padrões espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para a riqueza do teatro, da música ou da arte pictórica espanhóis e dando hoje a impressão errada de uma decadência cultural a partir de 1580. 

A perda de uma individualidade cultural era sentida por muitos portugueses, com reacções diversas a favor da língua pátria e da sua expressão em termos de prosa e poesia. Contudo, os intelectuais que assim reagiam sabiam perfeitamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da independência política. 

D. Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo de Portugal com autoridade de vice-rei e capitão-general de 1634 a 1640 Economicamente, a situação piorara desde a década de 1620 ou até antes. Muitas das razões que haviam justificado a união das duas coroas ficaram ultrapassadas com a marcha da conjuntura económica. 

Todo o Império Português atravessava uma séria crise com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Portugal perdera o monopólio comercial na Ásia, África e Brasil, resultando daí que todos – a Coroa, a nobreza, o clero e a burguesia – haviam sofrido no montante das receitas. Os Espanhóis reagiam fortemente contra a presença portuguesa nos seus territórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição, situação que suscitou grande animosidade nacionalista tanto em Portugal como em Espanha, aprofundando o fosso já cavado entre os dois países. 

Mesmo em Portugal, a situação económica estava longe de brilhante. Os produtores sofriam com a queda dos preços do trigo, do azeite e do carvão, só para dar alguns exemplos. A crise afectava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces, como, aliás, em muitos outros países da Europa. O aumento dos impostos tornava a situação ainda pior. Para explicar os tempos difíceis e apaziguar o descontentamento geral, a solução apresentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males. 

 A conspiração a favor da independência começou em 1639, se não antes, congregando um grupo heterogéneo de nobres, clientes-funcionários da casa de Bragança, e elementos do alto e baixo clero. Em Novembro de 1640, a conspiração dos aristocratas conseguiu finalmente o apoio formal do duque de Bragança. 

Na manhã do 1º de Dezembro, um grupo de nobres atacou a sede do governo em Lisboa (Paço da Ribeira), prendeu a duquesa de Mântua, e matou ou feriu alguns membros da guarnição militar e funcionários, entre os quais o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos. Seguidamente, os revoltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado de coisas, secundados pelo entusiasmo popular. D. João foi aclamado como D. João IV, entrando em Lisboa alguns dias mais tarde. 

Por quase todo o Portugal metropolitano e ultramarino as notícias da mudança do regime e do novo juramento de fidelidade ao Bragança foram recebidas e obedecidas sem qualquer dúvida. Apenas Ceuta permaneceu fiel à causa de Filipe IV. 

Como “governadores”, para gerirem os negócios públicos até à chegada do novo rei, foram escolhidos o arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, o de Braga, D. Sebastião de Matos de Noronha, e o visconde de Vila Nova de Cerveira, D. Lourenço de Lima. D. João IV entrou em Lisboa a 6 de Dezembro, cessando nesta data as funções dos “governadores”. 

 Proclamar a separação fora coisa relativamente fácil. Mais difícil seria conseguir mantê-la. Tal como em 1580, os portugueses de 1640 estavam longe de unidos. Se as classes inferiores conservavam intacta a fé nacionalista e aderiram a D. João IV sem sombra de dúvida, já a nobreza, muitas vezes com laços familiares em Espanha, hesitou e só parte dela alinhou firmemente com o duque de Bragança. 

O mesmo se poderia afirmar em relação ao clero. O novo monarca português não gozava por certo de uma posição invejável. Do ponto de vista teórico, tornava-se necessário justificar a secessão: o novo monarca, longe de figurar como usurpador, reavera simplesmente aquilo que por direito legítimo lhe pertencia. 

Abundante bibliografia produzida em Portugal e fora dele a partir de 1640 procurou demonstrar os direitos reais do duque de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, tanto em 1580 como em 1640, não havia razões para qualquer tipo de eleição em cortes, o que retirava ao povo a importância que ele porventura teria, fosse o trono declarado vacante. literatura autonomista 

Numerosa literatura de pendor autonomista proliferou visando a legitimação da subida ao trono de D. João IV. Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Em primeiro lugar a reorganização do aparelho militar, com reparação de fortalezas das linhas defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de material e reforços no estrangeiro. 

Paralelamente, uma intensa actividade diplomática junto das cortes da Europa – no sentido de obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, e conseguir o reconhecimento da Restauração – e a reconquista do império ultramarino. 

A nível interno, a estabilidade do regime dependeu, antes de mais, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha. A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços que Portugal podia despender e absorveu enormes somas de dinheiro. Pior do que isso, impediu o governo de conceder ajuda às frequentemente atacadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, pelo menos na Ásia, teve de ser sacrificado, salvou pelo menos a Metrópole de uma ocupação pelas forças espanholas. 

Portugal não dispunha de um exército moderno, as suas forças eram escassas – sobretudo na fronteira terrestre –, as suas coudelarias haviam sido extintas, os seus melhores generais lutavam pela Espanha algures na Europa. Do lado português, tudo isto explica por que motivo a guerra se limitou em geral a operações fronteiriças de pouca envergadura. Do lado espanhol, é preciso lembrar que a Guerra dos Trinta Anos (prolongada em Espanha até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) demoraram quaisquer ofensivas de vulto. 

Regra geral, a guerra, que se prolongou por 28 anos, teve os seus altos e baixos para os dois contendores até ser assinado o Tratado de Lisboa, em 13 de Fevereiro de 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em que este último reconhece a independência do nosso País. 

(Adaptado de A. H. de Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de Portugal, vol. II, Do Renascimento às Revoluções Liberais, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pp. 176-201.)