Vocês já devem ter reparado na nova brincadeira que está a
acontecer no Facebook, Instagram e Twitter.
A ideia do novo jogo é comparar a vossa aparência em duas fotos,
com uma diferença de 10 anos entre elas.
Na legenda é recomendado que se use as hashtags #10yearschallenge
ou #10yearchallenge (“desafios dos 10 anos”) para identificar a brincadeira.
O desafio caiu no "goto" dos usuários das redes
sociais no mundo inteiro.
Até á noite da passada terça-feira (15) havia mais de 1 milhão
de publicações no Instagram sobre o desafio dos 10 anos.
No Twitter o número de publicações com as duas tags só crescem,
ultrapassando as 40.000 publicações por hora.
Inclusive várias celebridades entraram na brincadeira.
A popstar, Madonna, participou no desafio, inovando
criativamente a brincadeira, tendo modificado criativamente o hash tag para
“#thechallengeissurviving” (“odesafioésobreviver”).
O post de Madonna gerou mais de 200 mil likes e ultrapassou os
três mil comentários.
Brincadeiras como estas são muito comuns entre os usuários de
redes sociais, como forma de interagir com os seus amigos. O problema é que,
para participar estamos a ceder livremente os nossos dados.
Justamente com o desafio dos 10 anos, estamos a ceder a nossa
imagem que entre outras coisa, serve para treinar algoritmos de reconhecimento
facial. De forma simplificada, essa tecnologia pode ser usada para analisar e
demonstrar a forma como uma pessoa ficaria quando mais velha.
E o uso disso é o “X” da questão.
A suspeita começou após a especialista em tecnologia e
transformação digital centrada no ser humano, Kate O’Neill, se manifestou no
Twitter sobre o desafio dos 10 anos.
“10 anos atrás: provavelmente entraria na brincadeira do meme de
retrato do perfil no Facebook e Instagram. Agora: Pondero como todos esses
dados podem ser extraídos para treinar algoritmos de reconhecimento facial na
progressão da idade e reconhecimento de idade.”
A tecnologia, apesar de todo o seu
avanço, depende do ser humano para ser treinada e futuramente funcionar.
Para que um algoritmo seja capaz de,
através do reconhecimento facial, determinar a progressão da idade, por
exemplo, como as pessoas tendem a ficar à medida que envelhecem, é necessário
treinar a tecnologia.
Isso faz-se da seguinte maneira:
mostra-se ao algoritmo uma enorme quantidade de imagens de pessoas jovens e
como elas ficam mais velhas.
Idealmente, esse conjunto de dados
precisam de algumas especificidades, digamos que todas as imagens precisam ter
uma diferença de dez anos entre elas.
A refutação mais comum, segundo Kate,
é:
“Esses dados já estão
disponíveis. O Facebook já tem todas as fotos do perfil” – mas, no seu artigo para o Wired, Kate rebate:
“Claro, vocês poderiam usar o Facebook
para fotos de perfil e ver datas de publicação ou dados EXIF. Mas todo
esse conjunto de fotos de perfil pode acabar gerando muito ruído
inútil. As pessoas não fazem upload de imagens de forma confiável em ordem
cronológica, e não é incomum os usuários postarem fotos de algo diferente de si
mesmos como uma foto de perfil. Uma rápida olhada nas fotos de perfil de
meus amigos do Facebook mostra o cachorro de um amigo que acabou de morrer,
vários desenhos animados, imagens de palavras, padrões abstratos e muito mais.”
Por outras palavras, graças a essa
nova brincadeira, agora há um conjunto gigantesco de fotos
criteriosamente selecionadas de pessoas com uma diferença de dez anos
atrás e agora.
Segundo a especialista em Marketing
Digital e Facebook Ads, Camila Porto:
“Existem várias empresas que usam os
testes como ferramenta de coleta de dados de pessoas que estão interessadas em
determinada coisa. A partir do momento que eu tenho pessoas que se interessam
por esse tema, eu vendo essa base de dados”,
explicou em entrevista à BBC Brasil.
Nos últimos anos, vários jogos e
memes sociais foram criados para extrair e colectar dados. As informações
cedidas, muitas vezes sem ler os “termos de uso”, são extremamente valiosas
para empresas direccionarem melhor os seus anúncios.
“Muitas vezes essa ferramenta de
coleta de dados pode não ser para uma coisa positiva. E há um risco que as
pessoas correm quando começam a libertar dados, fotos delas, sem saber para
quem esses dados estão indo e o que pode ser feito depois”, acrescentou Camila.
Outro teste que viralizou no Facebook
foi o “como você seria se fosse do sexo oposto”. Com ele, usuários cederam
dados pessoais para empresas com fins lucrativos.
Como tudo na vida, o reconhecimento
facial pode ser usado de forma boa ou má.
De forma positiva, a tecnologia de
reconhecimento facial e a sua capacidade de demonstrar a progressão da idade, poderia
ajudar a encontrar crianças desaparecidas.
Segundo o artigo de O’Neill, em 2018 a
polícia de Nova Delhi, na Índia conseguiu rastrear quase 3 mil crianças desaparecidas,
em apenas quatro dias, usando tecnologia de reconhecimento facial.
Essa investigação foi uma
demonstração de como a tecnologia pode e deve ser nossa aliada. Utilizando o
reconhecimento facial, é possível identificar pessoas desaparecidas a muitos
anos. Já que essas pessoas, provavelmente, estariam um pouco diferentes da última
foto conhecida delas.
Mas, como nem tudo são flores,
a tecnologia de reconhecimento facial e especialmente a progressão de
idade, também pode ser usada de forma negativa.
No mesmo artigo, Kate, sugere que o
reconhecimento facial pode influenciar na avaliação de seguros saúde.
Por
exemplo, se as empresas de seguro forem capazes de identificar que estamos a
envelhecer mais rápido, elas podem cobrar mais caro ou até mesmo negar a
cobertura.
Este foi um exemplo simples, mas que
faz parte do quotidiano de muitos seres humanos.
Para entender ainda mais o lado
negativo da coisa, é só lembrar que o Estado pode usar a tecnologia
para rastrear pessoas...
Pensador Anónimo
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