segunda-feira, 15 de junho de 2009

Guerra de Gangues, chega a Cascais

Morte de jovem do bairro da Torre reacende 'guerra' com grupo rival do bairro Cruz Vermelha, em Cascais. Moradores têm medo dos conflitos constantes.

"Estes rapazes não brincam em serviço." As palavras, que espelham medo mas também indignação, reflectem o estado de espírito dos moradores do bairro social da Cruz Vermelha, em Cascais.

"Eles andam zangados com os rapazes do bairro da Torre há uns anos, mas nós não sabemos as razões", explica outro morador, em jeito de desabafo.

"São aquelas coisas dos rapazes de agora... Mas nós também não falamos muito sobre isto senão amanhã temos os nossos carros apedrejados..."

As explicações, dadas sempre no anonimato, são ditas por entre uma imperial e outra, num café em pleno domingo de sol, por um grupo de idosos da Cruz Vermelha.

"Estes rapazes têm armas e ameaçam-se uns aos outros. Lembro-me daquela história em que o filho da Madalena foi ameaçado com uma catana!"

Na manhã de sábado, um jovem, do "gangue" rival do bairro da Torre, foi perseguido na estação de Cascais e acabou por morrer electrocutado ao tentar fugir dos "rivais".

"São guerras sem razões. Embirrações porque aquele tem uma roupa mais gira do que a do outro... Ou porque um olhou para a namorada do outro...", explica uma jovem de 18 anos, nascida e criada no bairro da Torre, onde agora se vivem momentos de dor.

Sem rostos e sem nomes, a verdade lá vai escorrendo pelas conversas nas ruas e cafés destes dois bairros.

"Não sei porque nos metemos uns com os outros...", diz David, 17 anos, do bairro da Cruz Vermelha.
"Mas isto é triste, até porque agora faleceu um rapaz, coitado... E amanhã podem vir aqui ao nosso bairro pedir contas e fazerem-me mal a mim, que estava no comboio naquele dia mas saí em Oeiras, não vi nada do que se passou em Cascais."

O medo parece estar instalado neste bairro onde alegadamente se encontram os cerca de 20 rapazes que ameaçaram a vítima mortal da Torre. Medo de sofrer as represálias.

Isto porque a mágoa do bairro da Torre também já começa a dar lugar à raiva.

"Pode escrever que no sábado morreu um, mas amanhã vão morrer dois na Cruz Vermelha", diz um rapaz, claramente revoltado e amigo do jovem que morreu.

"Isto assim não acaba nunca. Vêm aqui agora, depois vamos lá nós, depois eles voltam e passamos a vida nisto", desabafa Ricky, morador do bairro da Cruz Vermelha.

Mas David relativiza:

"Por enquanto ainda ando tranquilo aqui pelas ruas do meu bairro. Mas vamos ver..."

Filipa Ambrósio de Sousa,in DN
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