sábado, 20 de abril de 2013

Belmiro de Azevedo, o comunista disfarçado

O texto abaixo relata de como um simples agente técnico no Banco Pinto de Magalhães se torna um dos homens mais ricos de Portugal. A maioria das pessoas pensa que a fortuna de Belmiro de Azevedo veio de heranças ou coisa no género.

Segundo o relato Belmiro de Azevedo fora militante da UDP (União Democratica Popular)  e e era uma especie de coordenador da CT (comissão de trabalhadores) que controlava o banco.

Foi assim que muitos espertalhões no calor do verão quente de 74/75 se tornaram donos e senhores de muitas empresas sem mexerem uma palha e enquanto os trabalhadores andavam na luta nas ruas a defender os seus direitos, os mesmos manobravam na sombra e por isso é que o 25 de Abril que foi uma esperança para o povo e para os trabalhadores deu no que deu e chegamos ao último reduto dos tesos.

Quando, em 14 de Março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves nacionalizou a banca com o apoio de todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP), todo o património dos bancos passou a propriedade pública. 

O Banco Pinto de Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termolaminados, material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na construção civil. 

Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois. Belmiro de Azevedo trabalhava lá como agente técnico (agora engenheiro técnico) e, nessa altura, vogava nas águas da UDP. 

Em plenário, pôs os trabalhadores em greve com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia CTs na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para a situação política delicada e para a necessidade de se garantir o fornecimento dos termolaminados às actividades produtoras. 

Eram recebidas por Belmiro que se intitulava “chefe da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as acções da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada um.
 
É fácil imaginar o panorama. 

A bolsa estava encerrada e o pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer para forrar as paredes de casa… Meses depois, aparece um salvador na figura do chefe da CT que se dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis.
 
Assim se torna Belmiro de Azevedo dono da SONAE. 

E leva a mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias…
 
Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto, tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. 

Vasco Gonçalves não tinha ideia desta decisão do seu governo, mas não a refutou, claro. 

Com o salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social noticiou a minha intervenção.
 
Este relato foi-me feito por colegas do então BPM entre eles um membro da comissão sindical (Manuel Pires Duque) que por várias vezes se deslocou na altura à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os jornais e, salvo o já extinto “Tal & Qual”, nenhum o publicou…

Gaspar Martins, bancário reformado, ex-deputado

1 comentário:

Kleberc Pereira disse...

Quem conheceu a familia em meados dos anos 70, logo se via a simplicidade, de seus corações, de seus gestos, a forma como tratavam os menos favorecidos, mesmo tendo sido eles uma familia que tenham experimentado o lado aristocrático de uma sociedade, que de um dia para outro, começou a ruir.Isto é um fato que constatei, um jóvem de quatorze anos de idade, e mesmo sendo de classe média no Brasil, pode conviver com uma parte da mesma, em questão. Tive o prazer de conhecer também seu Patriarca, Srº Afonso em seu monumental apartamento na Av. Atlântica, Leme, embora morasse em um verdadeiro museu, com verdadeiras obras de arte, em seu imóvel, se absteve a nos mostrar com toda sua simplicidade, fotografias que guardava com imenso carinho de seu clube, a qual transmitiu, que era profundamente apaixonado, o Futebol Clube do Porto, um homem apaixonado, mas ao mesmo tempo triste, que teve de deixar sua Pátria, entretanto , encontrou no Brasil sua segunda casa, a qual nos deu o privilégio de conhecer essa família, muito elegante, mas ao mesmo tempo doce e acolhedora. Parabéns a família e em especial, a Rodrigo, Ani, Marlu, Paula e a mãe maravilhosa destes quatro; Amália Pinto Magalhães Pinto de Barros