segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A Paz Decide as Eleições - O Mundo Além da Guerra



Os Estados Unidos acabaram de realizar uma eleição presidencial entre dois candidatos militaristas pró-guerra, cada um dos quais poderia ter transferido ainda mais fundos para os preparativos de guerra, para armar o genocídio na Palestina e travar e ameaçar a guerra com abandono. E, no entanto, a paz foi, como muitas vezes é, um factor decisivo. 

Muitos eleitores que exigiam a paz estavam inclinados a votar em Kamala Harris. Se ela simplesmente se tivesse comprometido a deixar de armar ilegalmente apenas uma guerra, provavelmente teria vencido. 
Muitos eleitores que exigiam paz apertaram os olhos com força suficiente para ver a paz em Donald Trump. Se ele não tivesse misturado paz com guerra em sua salada de palavras, provavelmente teria perdido. 

Uma pesquisa publicada em Maio sugeriu que os eleitores em estados indecisos teriam uma probabilidade significativamente maior de votar no então candidato Biden se ele embargasse armas para Israel. 
Uma segunda pesquisa de Agosto mostrou o mesmo (menos Biden). Uma terceira pesquisa de Setembro mostrou o mesmo (para Harris). 

A paz está longe de ser o único factor que influenciou esta eleição e muitas outras eleições. Várias outras maneiras óbvias de ganhar ou perder podem ser examinadas. Mas é interessante como a paz resiliente é um factor determinante, não importa o quão pouco discutido por candidatos e especialistas corporativos. 

Em 2020, Trump perdeu depois de se recusar a encerrar a guerra no Afeganistão para um Joe Biden prometendo fazê-lo e fingindo que não havia liderado o ataque à guerra no Iraque. 
Em 2016, um Trump pregador da paz derrotou uma Hillary Clinton popularmente entendida como simplesmente babando por mais guerras. 
As pesquisas em estados indecisos mostraram que as famílias de militares que se opunham a mais guerras de Clinton fizeram a diferença - assim como muitos outros fatores, qualquer um dos quais poderia facilmente ter mudado o resultado. 
Em 2012, como em 2008, Obama vendeu-se como candidato da paz, apesar dos factos, e derrotou candidatos pró-guerra, incluindo, em 2008, o candidato mais pró-guerra que vimos, John McCain. 
Em 2000, George W. Bush fez campanha contra a "construção da nação" e a Suprema Corte roubou-lhe a eleição, mas em 2004 ele fez campanha contra um candidato em John Kerry que apoiava e se opunha à guerra de Bush. 

Os eleitores da paz não tinham ninguém em quem votar. Em 2006, no entanto, os eleitores da paz deram aos democratas as duas casas do Congresso, com o fim da guerra no Iraque sendo a principal motivação nas pesquisas de boca-de-urna. Os democratas imediatamente intensificaram a guerra no Iraque, levando os defensores da paz ao desespero que os levou a fantasiar sobre Obama dois anos depois. 

Ao voltar aos anos das eleições nos EUA, a paz é proeminente. Kamala Harris puxou um Hubert Humphry, escolhendo a perda em vez da paz, mas Humphry chegou primeiro. 
Nixon venceu fingindo ser pela paz, no modelo de Lyndon Johnson, Woodrow Wilson e Franklin Roosevelt. 
"Elejam-me para mais guerras" nunca funcionou. 
"Elejam-me para a paz" funcionou muitas vezes - inclusive para muitos belicistas. 
Se as pessoas pudessem votar directamente em políticas públicas, o mundo seria um lugar muito mais pacífico.

24 de novembro de 2024 
Por David Swanson, 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Portuguesmente falando:::


Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote. Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei riscar este assunto do mapa, mas eu sou uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria.
Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando decidi procurar uma agulha no palheiro. Eu sei, eu não bato bem da bola, mas sentia-me pior que uma lesma e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar cabelos.
Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu, que sou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito. Acontece que uma vez em conversa com um amigo ele disse-me «Tiras-me do sério» e eu, sem papas na língua, respondi «Se te tiro do sério, deixo-te a rir, é isso?».
Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões «Esquece Mafalda, escreves belissimamente mas não conheces nem 1/4 das expressões portuguesas.»
Só faltou trepar paredes. É preciso ter lata! O primeiro milho é dos pardais. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo d´água e trinta por uma linha. Fiz vista grossa, mas depressa disse Ó tio! Ó tio!
Abri-lhe o coração, o jogo e os olhos na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Era um trocadilho. Pão, pão, queijo, queijo. Rebeubéu, pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear o Camões.
Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser uma cabeça de alho chocho e andar sempre com a cabeça nas nuvens mas não ia meter o rabo entre as pernas nem que a vaca tossisse.
Pus a cabeça em água e fiquei a pensar na morte da bezerra. Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas. Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos atadas e baixei a bola. Engoli o sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar a bota.
Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isto já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho. Uma mão lava à outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas, à sombra da bananeira. Não deu uma mãozinha nem deixou-se comprar gato por lebre. Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife.
Pus mãos à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla. Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco da velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe e língua e saiu com pés de lã. Água pela barba! Devia aproveitar a boleia antes de ficar para tia de pedra e cal onde Judas perdeu as botas.
É que isto pode estar giro e estar fixe, mas não me apetece segurar a vela com dor de corno e dor de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.
MAFALDA SARAIVA