quarta-feira, 2 de março de 2011

A Comunicação Social, quer dar um hino e uma causa,ao BE

Escreve Pacheco Pereira muito a propósito da geração que se diz parva e que de facto não é muito ajuizada pois tem como objectivo conseguir viver com emprego, para toda a vida, em casa dos paizinhos:

O Bloco de Esquerda não é desprovido de uma certa base social própria. Essa base social não é a que o BE gostaria de ter, – o BE gostaria de ter a base social do PCP, – mas é a que existe e se revê na sua política. Essa base social provem de sectores da pequena e média burguesia urbana, jovens e mais radicalizados, oriundos de famílias com alguns rendimentos (embora agora possam estar em processo de pauperização), mais “educados” na proliferação de cursos universitários de encomenda dos últimos anos.

Na província, o BE também recruta em sectores semelhantes, em muitos casos ligados ao ensino e às indústrias culturais, o que lhe transmite um tom de arrogância muito próprio destes sectores. O BE tem aliás proposto legislação sobre os “intermitentes” (uma adaptação dos franceses), e sobre os sectores da cultura e da animação subsidiada pelo estado e pelas autarquias, que correspondem a este “sindicato de voto”.

O principal factor de agitação social desses sectores juvenis é a dificuldade de conseguirem um emprego fixo e garantido (aquilo que se chama “um emprego com direitos”), que acham adequados aos seus diplomas e, embora não o digam, própria do seu estatuto social. Mas a verdade é que muitos desses diplomas não tem qualquer valorização no mercado de trabalho, são pouco mais do que papéis pintados, enquanto outros efectivamente são valorizados e garantem emprego. Convém por isso não generalizar e distinguir. Por isso o papel não justifica a “cultura” e tê-lo significa muitas vezes “parvoíce”, para usar os termos da canção, porque com outro tipo de esforço se poderia obter outros resultados, com menos prosápia e menos revolta.

Para além disso, esta situação é mais normal do que parece, sendo que a situação de entrada aos vinte e poucos anos em empregos para a vida na função pública, é que é a anormal. Só em países com uma presença de um estado empregador e garantista (normalmente países menos desenvolvidos) é que é normal iniciar-se uma carreira profissional com esse grau de garantias e sem risco. As reivindicações dos “precários”, tal como as formula o BE, são no fundo exigências de entrada na função pública ou medidas cujo efeito na economia privada é gerar mais precariedade e desemprego.

Esses jovens estão revoltados e tal é normal, porque ninguém gosta de perder e hoje estes sectores sociais, quer os jovens, quer as famílias, percebem que esta situação de precariedade é um sinal mais do empobrecimento da classe média, que é, como se sabe, um dos factores de maior radicalização nas sociedades ocidentais.

Fonte: Pacheco Pereira in Abrupto

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