sexta-feira, 4 de março de 2011

Os truques de Sócrates, só convencem os tolos.

A principal imprensa económica alemã, Handelsblatt e Financial Times Deutschland, é quase omissa relativamente ao encontro entre Merkel e Sócrates.

Não assim com a manager magazin, cujo link o Miguel Noronha me enviou, e de que passo a transcrever algumas passagens, curiosas pelo tom em que se referem a Portugal, "o país da dívida", e a Sócrates, o aldrabão.

Sobre a reunião em si mesma, nada. A viajem de Sócrates é apenas ocasião para se falar de um caso perdido. Começa assim:


Mit allen Tricks versucht die Regierung in Lissabon die Staatsverschuldung in den Griff zu bekommen. Auch gestern in Berlin sagte Premierminister José Sócrates erneut, Portugal werde ohne internationale Finanzhilfen auskommen. Unter Experten glaubt daran allerdings kaum noch jemand.

O que quer dizer:

Recorrendo a todos os truques, o Governo de Lisboa tenta manter o endividamento público sob controle. Ontem em Berlim José Sócrates repetiu que Portugal vai conseguir safar-se sem ajuda internacional. Mas praticamente quase nenhum especialista acredita nele.

Segue-se uma panorâmica arrasadora do país, com um especial capítulo dedicado ao "truque" do Fundo de Pensões da PT, e declarações de analistas sobre a improbabilidade das metas orçamentais deste ano serem cumpridas, bem como sobre o desempenho vergonhoso do ano passado, com objectivos "atingidos no papel", e outros nem isso, como o do défice estrutural (ajustado dos efeitos do ciclo), que, apesar de um crescimento económico acima do previsto, falhou. Inclusive no "papel".aqui)
Merkel e Sócrates são, assim, os símbolos perfeitos da tragédia europeia em curso: o único país que pode, mas não quer (mas também quer), salvar o euro, e o país que constitui a ameaça mais próxima ao euro. Se ambos não sabem muito bem o que fazer e, por isso, vão tergiversando até qualquer coisa acontecer, nunca Sócrates disse uma coisa tão certa quanto no outro dia: "depois da crise, a Europa não será a mesma. Ou avança ou recua".

Na sua defesa do "avanço", o que já não explicou foram as transcendentes consequências disso. Ao contrário do que ele (e a generalidade da classe política portuguesa) julga, recuar também teria méritos. Melhor dito: avançar ou recuar teriam ambos enormes custos certos e méritos apenas hipotéticos. Tratar-se ia de fazer uma escolha política muito difícil que todos deveríamos discutir antes de aceitarmos mais um passo de gigante (talvez mortífero) do dito "projecto europeu".

Luciano Amaral, hoje, no Diário Económico.

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