terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A propósito das declarações de D. José Policarpo

Ouvi hoje o emérito cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, que já nos habituou aos seus comentários ultramontanos e dum reaccionarismo para lá dos limites, proferir, no que concerne à nomeação/eleição do futuro nóvel papa, que o único critério a ter em consideração teria de ser o factor etário, ou seja mais ou menos o mesmo que dizer que o futuro papa terá de conseguir fazer os 100 mts em menos de 15 segundos. 

Por aqui tudo bem, que o futuro papa tenha uma perspectiva de longos anos de papado, sempre será menos despesa em rituais e fumaças, mais ou menos brancas. 

O que é inqualificável é que o dito D. José, ao pretender dar uma de grande abertura "democrática" diz que o próximo papa até "preto" podia ser. 

Já agora, convém lembrar que entre os mais de 100 cardeais "papáveis" (que engraçada é esta palavra), há por lá tambem seguramente "chinocas", "monhés" e mais uns quantos de outras etnias, ou até provenientes de processos de miscegenação, bem vindos, que só amenizam e trazem açucar a esta humanidade, normalmente dividida entre brancos e pretos. 

A gravidade de tudo isto é o branqueamento de séculos de colonização e exploração desenfreada dos povos africanos, que naturalmente ainda estão longe de conseguir cicatrizar esses anos de humilhação, e para quem a palavra "preto" tem uma enorme carga racista e lhes reabre feridas de indignação que, justamente lhes recorda o passado colonial. 

 Desconhecer esta susceptibilidade e desconforto provocada desnecessáriamente às pessoas de raça negra, e aos católicos africanos, em particular, revela uma imensa insensibilidade social. Já há dias, e pelas mesmas razões, desagradou-me a alusão feita por Arménio Carlos, ao representante "escurinho" da troica e por isso o verberei em comentário que então fiz. 

Agora, por maioria de razão, porque vindo do mais alto representante da igreja católica em Portugal, a utilização desta designação é altamente condenável, pois refecte uma prova de enorme desrespeito e desprezo pelas outras culturas e etnias. 

Num país em que o primeiro ministro se refere à guerra colonial, como guerra do ultramar, só faltava mesmo esta "eloquência" do cardeal de chamar pretos aos negros. 

Por João Ribeiro

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