Como é sabido, o marxismo conjura um enredo linear em que, no fim da história, a classe operária derrota a burguesia e instala a sociedade sem classes.
Noutras escatologias semelhantes, S. Jorge mata o Dragão, o Messias julgará os vivos e os mortos, o Mhadi aterrará em Teerão, etc, etc.
Tudo se joga num final cataclísmico que acabará com o mal e
trará a felicidade eterna.
No capítulo 32 de Das Kapital, Marx prevê um gigantesco ajuste de contas com o capitalismo, muito parecido com o juízo final do cristianismo e com a morte de Brunilde e Siegfried e o cataclismo da Valhalla (no Anel dos Nibelungos, de Wagner). Acontecimentos redentores que libertarão por fim os bons de mefistofélicos pactos faustianos com o dinheiro e o ouro, em Marx, Jesus e no Anel dos Nibelungos.
Mesmo aqueles que não leram Marx, por vezes imaginam também um mundo onde omniscientes e angélicos planeadores abolem a miséria, deixando intactas a liberdade e o individualismo, pondo toda a gente a tocar harpa, a cheirar a tomilho e a comer bife de lombo todos os dias.
Esta necessidade de acreditar, parece pois ser universal. Se não é nos Deuses propriamente ditos, é no Professor Chibanga, no Engenheiro Sócrates, no Passos, no D. Sebastião, no Santo Obama, no Tio Adolfo, no Karl Marx, etc, etc.
Quanto a este último, o busílis da questão é que a classe operária nunca esteve à altura da sua missão histórica. Os "operários avançados" de que falava Trostky, baldaram-se à chamada. O bom do Lenine, coçando a cabeça e perguntando "Que Fazer?", chegou à conclusão de que havia que organizar uma vanguarda activa (o Partido Comunista) que representasse e espicaçasse estes malandros.
Devo dizer-vos que compreendo perfeitamente o Senhor Vladimir.
Ainda há dias estive a beber uma imperial e a comer uns tremoços com um amigo da classe operária e o tipo, além de nunca ter ouvido falar na ditadura do proletariado, nem na sua missão histórica, apresentou-me os seguintes
projectos (pouco) revolucionários:
-Arranjar bilhetes para o Benfica-Bordéus;
-Conseguir endrominar a Vanessa que, por acaso, é bem jeitosa;
-Trocar os pneus ao carro. (os da frente estão completamente carecas);
-Beber mais uma imperial. (já íamos na 3ª);
-Apanhar uma carraspana das antigas na despedida de solteiro do Quim.
Ora com gente desta, gente com uma desavergonhada tendência para a burguesice e para a rebaixolice, gente que prefere aconchegar o fofo à Vanessa em vez de lutar firmemente contra as mais valias e o Grande Capital financeiro, especulador e neoliberal, não há Revolução que avance.
Por: José António Rodrigues Carmo
Por: José António Rodrigues Carmo
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