segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Amanhãs que cantam

O proletariado de um modo geral, e a classe operária em particular, atravessam uma época exaltante. 

Os amanhãs radiosos voltaram a cantar, o grande capital treme de medo, Marx ressuscita, o Tio Arménio ameaça, o Operário Jerónimo embeiça e até os famosos líderes bicéfalos exigem que se retome a saga revolucionária do saudoso João Cravinho, nacionalizando por decreto todos os antro tenebrosos da alta finança arqueo-capitalista, neoliberal e proto-gananciosa. 

A adjectivação ganha asas, os baladeiros indignam-se e a cantiga volta a ser uma arma contra a burguesia.

No glorioso caminho para o socialismo espera-se agora por um governo a sério que nacionalize as petrolíferas, as telecomunicações, a Liga Sagres, o quiosque do Sr Martins, a churrasqueira Rainha dos Frangos, os pilares da ponte S. João e por aí adiante, exceptuando o meu carro, claro.

Os reaccionários neoliberais, ultra-neocons e arqueo-capitalistas andam calados que nem ratos, e consta que alguns já estarão a preparar a fuga para o Brasil, como os Champalimaudes, os Amorins,os Belmiros, os Soares dos Santos, etc. Teme-se que as próprias Rotundas de Viseu emigrem precipitadamente para o sertão brasileiro.

O que é capaz de não ser uma grande ideia porque vagueiam por lá lulas gigantes que mudam de cor com impressionante rapidez, ao ritmo da cachaça. 

E, se bem que algo desafinados, os amanhãs também querem cantar, misturando as estrofes da Internacional com o samba do mensalão, numa mistura bolivariana de Fórum de S. Paulo com ritual de Candomblé. 

Fugir para a Venezuela muito menos, porque aí só canta o Exu Chavez que, apesar de zombie, continua a anunciar o nascer de um novo amanhã cantante e bolivariano, a partir das cinzas putrefactas do neoliberalismo ultra neocon, arqueo-imperialista e proto-capitalista e isso.
 
E eu, reaccionário impenitente e irrecuperável, que bem queria odiar o grande capital mas nem as pequenas quantias consigo desprezar, temo que o ritmo revolucionário não me entre na corneta, mesmo que me encostem à muralha de aço.
 
Uma chatice!

Por:
José António Rodrigues Carmo P.S: Algumas das passagens deste texto foram extraídas das teses do último Congresso do PCP, leitura obrigatória em qualquer casa de banho de média qualidade, e muito eficaz na prevenção da obstipação.

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