sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Com que cara se apresentará o país na Europa, se a "esquerda trotsquista, leninista e maoísta" atingir os 20%?

O livro de campanha do CDS podia ter sido escrito por Max Weber. Com a economia mergulhada na crise, os democratas-cristãos estão cada vez mais protestantes. Vão a eleições com uma solução para o país assente no trabalho e no mérito - as palavras mais repetidas nas últimas semanas. Em vez de cidadãos abandonados ao marasmo da preguiça, a viver à custa do contribuinte, Paulo Portas espera que em cada empresário haja um Calvino com vontade de provar a sua predestinação para a riqueza e criação de emprego. É a importação do sonho americano, adaptado à pequena e média escala da economia nacional. "Que os pais deixem aos filhos mais do que receberam", proclama Portas.

O PS que destruiu a lavoura e, em vez de premiar o mérito, premeia a preguiça com o rendimento mínimo, é o alvo a abater por Paulo Portas. Mas não o único. Cada partido tem os seus fantasmas. E no imaginário do CDS também há um tempo da velha senhora ao qual ninguém gostaria de voltar. A velha senhora está de volta, fez um lifting e vem com "um rosto moderno", mas não se deixem enganar, "as ideias são do antigamente". "Já tivemos um PREC, não queremos ter outro", repete Paulo Portas. "Para quem já não se lembra" do que foi, os centristas têm-se batido por avivar a memória e explicar que as nacionalizações não estão devidamente arquivadas nos anais da história. São uma ameaça real à retoma económica posta em papel no programa do Bloco. "A enxada já não é da cooperativa", decreta Nuno Melo, para logo de seguida questionar: com que cara se apresentará o país na Europa se a "esquerda trotsquista, leninista e maoísta" atingir os 20%?

O partido não esconde que, a bem da economia, o seu objectivo é ficar "à frente da esquerda radical, nem que seja por um voto" e garantir uma maioria da direita que assegure a governabilidade. O voto útil é no CDS - além de permitir "despedir" o governo socialista e evitar "o centrão", corta os pés à esquerda. Uma das frases de Portas que ficará da campanha é uma antevisão do inferno que, para os centristas, seria o regresso ao passado com um governo meio Bloco.

"À segunda-feira, Portugal sai da NATO; à terça, está fora do Tratado de Lisboa; à quarta, congela as relações com Angola; à quinta rompe o acordo das Lages, à sexta nacionaliza a economia. E ao sábado, quem alimenta o país?"

Portas tem pedido aos eleitores para votarem nas ideias e esquecerem as siglas. Mas os fantasmas do CDS resumem-se em duas letras: BE. O partido conservador e mais à direita baralha o imaginário da esquerda, volta a dar e remete-o à proveniência. Além de velha senhora com cara de moderna, o Bloco representa o regresso da política do orgulhosamente sós.

por Rute Araújo,no I

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