segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Marx e a Vanessa

Como é sabido, o marxismo conjura um enredo linear em que, no fim da história, a classe operária derrota a burguesia e instala a sociedade sem classes. 

Noutras escatologias semelhantes, S. Jorge mata o Dragão, o Messias julgará os vivos e os mortos, o Mhadi aterrará em Teerão, etc, etc.

Tudo se joga num final cataclísmico que acabará com o mal e trará a felicidade eterna. 

No capítulo 32 de Das Kapital, Marx prevê um gigantesco ajuste de contas com o capitalismo, muito parecido com o juízo final do cristianismo e com a morte de Brunilde e Siegfried e o cataclismo da Valhalla (no Anel dos Nibelungos, de Wagner). Acontecimentos redentores que libertarão por fim os bons de mefistofélicos pactos faustianos com o dinheiro e o ouro, em Marx, Jesus e no Anel dos Nibelungos. 

Mesmo aqueles que não leram Marx, por vezes imaginam também um mundo onde omniscientes e angélicos planeadores abolem a miséria, deixando intactas a liberdade e o individualismo, pondo toda a gente a tocar harpa, a cheirar a tomilho e a comer bife de lombo todos os dias.

Esta necessidade de acreditar, parece pois ser universal. Se não é nos Deuses propriamente ditos, é no Professor Chibanga, no Engenheiro Sócrates, no Passos, no D. Sebastião, no Santo Obama, no Tio Adolfo, no Karl Marx, etc, etc.

Quanto a este último, o busílis da questão é que a classe operária nunca esteve à altura da sua missão histórica. Os "operários avançados" de que falava Trostky, baldaram-se à chamada. O bom do Lenine, coçando a cabeça e perguntando "Que Fazer?", chegou à conclusão de que havia que organizar uma vanguarda activa (o Partido Comunista) que representasse e espicaçasse estes malandros.

Devo dizer-vos que compreendo perfeitamente o Senhor Vladimir. 

Ainda há dias estive a beber uma imperial e a comer uns tremoços com um amigo da classe operária e o tipo, além de nunca ter ouvido falar na ditadura do proletariado, nem na sua missão histórica, apresentou-me os seguintes projectos (pouco) revolucionários: 

-Arranjar bilhetes para o Benfica-Bordéus; 
-Conseguir endrominar a Vanessa que, por acaso, é bem jeitosa; 
-Trocar os pneus ao carro. (os da frente estão completamente carecas); 
-Beber mais uma imperial. (já íamos na 3ª); 
-Apanhar uma carraspana das antigas na despedida de solteiro do Quim. 

Ora com gente desta, gente com uma desavergonhada tendência para a burguesice e para a rebaixolice, gente que prefere aconchegar o fofo à Vanessa em vez de lutar firmemente contra as mais valias e o Grande Capital financeiro, especulador e neoliberal, não há Revolução que avance.

Por: José António Rodrigues Carmo

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Será o capitalismo responsável pelas nossas agruras?

Há 150 anos, o Tio Marx disse que vinha já aí a famosa crise final do capitalismo. 

Não veio, mas isto é como a História do Messias: os crentes estão sempre a ver sinais da quebra do 7º selo.
 
Eles andam aí outra vez, esgazeados como há 100 anos, berrando os mesmos slogans apocalípticos e acusando o capitalismo, esse Demónio, de todos os males. Estamos numa crise e como sempre, a culpa é do Belzebu, perdão, do capitalismo, que agora já não é só capitalismo mas ganhou adjectivos cataclísmicos como "selvagem", "neoliberal", "ultraliberal", etc.
 
Será o capitalismo responsável pelas nossas agruras?

Se nos sentarmos e pararmos de berrar os versículos da tontice, facilmente percebemos que o capitalismo é, até à data, em toda a história da humanidade, o melhor sistema que inventámos para criar riqueza, bens e serviços.

Não é bom nem mau, assenta apenas na liberdade que nos dá de fazer as nossas própria escolhas, sejam elas certas ou erradas. Uns escolhem bem, outros escolhem mal mas, como a realidade comprova, num mundo racional a maioria das pessoas faz as escolhas certas para a sua vida.

Então porque chegámos aqui? Porque andam todos estes tontos a declamar um vademecum que já estava enterrado no baú dos tesourinhos deprimentes?

Porque o Estado distorceu o mercado.

1- A inundação do crédito barato, sob a batuta da Reserva Federal americana, no rescaldo do crash das dot.com.

2-A decisão política da Administração Clinton de, através das agências Fanny Mae e Freddie Mac, conceder triliões de dólares de crédito de risco, garantidos por hipotecas sem valor. A ideia de Clinton era garantir que todos os americanos pudesse ser proprietários da sua casas, mesmo que não pudessem pagar por elas.

Estas hipotecas incentivadas pelo governo federal e, por isso, tacitamente aceites como garantidas por ele, serviram de base à criação de imensos derivados, vendidos e revendidos numa pura lógica de mercado. É assim que funciona o capitalismo...constrói bens a partir dos materiais que tem à disposição e foi o governo que lhe colocou na mesa os materiais adulterados.

Mas deve condenar-se o cabrito por comer a relva, ou quem lha pôs ao alcance? Devem condenar-se os indivíduos que aproveitaram as oportunidades, ou o estado que lhas colocou à frente e que, praticamente, lhas enfiou pela garganta abaixo?

3- E cá, a imensa dívida do estado e a nacionalização de bancos falidos.

Mas a esquerda anti-capitalista está-se nas tintas para estes factos inegáveis e profusamente referenciados, principalmente porque odeia o lucro. Este ódio busca raízes na ideia marxista de que o lucro é, por definição, o resultado da exploração do homem pelo homem. É, portanto, um pecado mortal que merece condenação e ódio.

Quando estes indignados protestam contra o capitalismo, estão a errar o alvo por muitas milhas. Os monopólios, os corporativismos, os negócios patrocinados pelos favores políticos, são a antítese do capitalismo. Onde há monopólios não há competição e, por sistema, os preços sobem, os salários baixam e os bens e serviços perdem qualidade.

Muitos destes indignados são indivíduos genuinamente preocupados com o seu futuro e nem se apercebem que estão apenas a servir de testas de ferro e figurantes de activistas profissionais, movidos pelo puro ódio ideológico ao capitalismo. 

Nas universidades, tomadas de assalto pelos intelectuais orgânicos inspirados por Gramsci, estes jovens são endoutrinados nas velhas noções marxistas da luta de classes, amalgamadas no niilismo da pós-modernidade. Incapazes de perceber como funciona o sistema em que vivem, são facilmente manipulados pelas raposas velhas do activismo esquerdista, de resto bem financiadas, por dinheiros milionários apostados na destruição do sistema que os gerou. 

O caso de Soros é conhecido e está por detrás de centenas de organizações apostadas na implementação do socialismo, desde ONG's a estações de rádio e televisão.

Os problemas que esta gente pode criar não irão destruir o capitalismo, nem trazer novamente o desacreditado socialismo. Apenas criar caos, desordem, destruição e pobreza.

Por: José António Rodrigues Carmo, na sua página do Facebook.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A propósito das declarações de D. José Policarpo

Ouvi hoje o emérito cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, que já nos habituou aos seus comentários ultramontanos e dum reaccionarismo para lá dos limites, proferir, no que concerne à nomeação/eleição do futuro nóvel papa, que o único critério a ter em consideração teria de ser o factor etário, ou seja mais ou menos o mesmo que dizer que o futuro papa terá de conseguir fazer os 100 mts em menos de 15 segundos. 

Por aqui tudo bem, que o futuro papa tenha uma perspectiva de longos anos de papado, sempre será menos despesa em rituais e fumaças, mais ou menos brancas. 

O que é inqualificável é que o dito D. José, ao pretender dar uma de grande abertura "democrática" diz que o próximo papa até "preto" podia ser. 

Já agora, convém lembrar que entre os mais de 100 cardeais "papáveis" (que engraçada é esta palavra), há por lá tambem seguramente "chinocas", "monhés" e mais uns quantos de outras etnias, ou até provenientes de processos de miscegenação, bem vindos, que só amenizam e trazem açucar a esta humanidade, normalmente dividida entre brancos e pretos. 

A gravidade de tudo isto é o branqueamento de séculos de colonização e exploração desenfreada dos povos africanos, que naturalmente ainda estão longe de conseguir cicatrizar esses anos de humilhação, e para quem a palavra "preto" tem uma enorme carga racista e lhes reabre feridas de indignação que, justamente lhes recorda o passado colonial. 

 Desconhecer esta susceptibilidade e desconforto provocada desnecessáriamente às pessoas de raça negra, e aos católicos africanos, em particular, revela uma imensa insensibilidade social. Já há dias, e pelas mesmas razões, desagradou-me a alusão feita por Arménio Carlos, ao representante "escurinho" da troica e por isso o verberei em comentário que então fiz. 

Agora, por maioria de razão, porque vindo do mais alto representante da igreja católica em Portugal, a utilização desta designação é altamente condenável, pois refecte uma prova de enorme desrespeito e desprezo pelas outras culturas e etnias. 

Num país em que o primeiro ministro se refere à guerra colonial, como guerra do ultramar, só faltava mesmo esta "eloquência" do cardeal de chamar pretos aos negros. 

Por João Ribeiro

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Socialismo, morreu...

"Socialismo" é uma palavra bonita e estamos tão agarrados à ideia da bondade das intenções do socialismo que mesmo aqueles que com ele recusam qualquer identificação não conseguem deixar de lhe prestar um tributo ético.

O socialismo morreu no fim do século XX e esta morte fez desaparecer do horizonte político da nossa civilização provavelmente a única alternativa real, estruturada e com raízes nos valores judaico-cristãos, ao capitalismo liberal.

E porque o capitalismo (tal como todos os sistemas) continua a alimentar a rejeição e a insatisfação de vastos sectores das próprias sociedades que enformou, sem o socialismo, a contestação interna anti-capitalista resume-se a variações demagógicas sobre a tirania e a barbárie, vontades ad-hoc que se esgotam no próprio acto de contestar. Custa-me dizê-lo, mas por vezes sinto pena que o socialismo (que partilha alguns valores essenciais com o liberalismo), não esteja já aí para federar a contestação, função que sempre cumpriu bem.

É verdade que muita gente continua a reclamar-se socialista, partidos e regimes socialistas é o que não falta por aí mas a essência do ideal socialista, essa é bastante vaga e não pode deixar de o ser, face às tenebrosas realidades que gerou no século passado e que acabaram por lhe selar o caixão. Existe também um núcleo duro de fiéis que afirmam que não se pode julgar o socialismo pelas suas realizações. Para estes, Cuba, URSS, RDA, Líbia, Iraque, Venezuela, não eram/são verdadeiramente socialistas, nem as políticas seguidas pelos partidos socialistas são verdadeiramente socialistas (o nosso PCP chama-lhes sempre “politicas de direita”).

Esta argumentação não é séria. O socialismo é aquilo que faz, e o lamento dos crentes, de que o verdadeiro socialismo nunca foi realizado, é uma falácia obstinada que poderá ser invocada por qualquer ideologia falhada. Por exemplo, os fascistas podem dizer que Mussolini não realizou o “verdadeiro fascismo” e os apaziguadores do Islamismo que o islão violento e intolerante não é o “verdadeiro islão”.

A relação do socialismo com a realidade parece ser como a do potássio com a água: ao mínimo contacto volatiliza-se, o que suscita a questão de saber o que há então no ideal socialista que o torne tão incompatível com a realidade quando parecia aos seus defensores um sistema racional, que expunha os defeitos óbvios da sociedade capitalista.

O primeiro socialismo era utópico, como Marx lhe chamou. Insatisfeito com a modernidade, essa insatisfação era basicamente uma versão secular da crítica católica a um mundo cada vez mais surdo ao seu discurso. Saint-Simon acreditava até ser uma espécie de Messias que trazia a revelação final.
A sua principal crítica era a de que a liberdade não é o mais importante porque uma sociedade fundada apenas nos direitos individuais não tem lugar para certas virtudes que devem caracterizar uma comunidade política, nomeadamente um núcleo moral comum e uma ideia do que deve ser uma vida “boa”. 

Na verdade a sociedade capitalista descrita por Adam Smith e outros, de certo modo negligenciava essas virtudes, remetendo-as para a esfera privada. Fazia-o, não porque as considerasse desnecessárias, mas porque tinha como assumido e inabalável o acervo moral judaico-cristão. O indivíduo era “formatado” nesses valores e, mesmo que rejeitasse a crença religiosa, os valores estavam lá, já faziam parte dele. O capitalismo respirou nesta e desta atmosfera moral que, contudo, se foi desgastando face à emergência de conceitos relativistas e niilistas, de certa forma gerados no e pelo próprio espírito do capitalismo.

O socialismo cativou tanta gente inteligente e bem intencionada, porque foi um esforço moderno para resistir à corrupção ética da própria modernidade. É, por isso, uma religião secular, conceito de resto assumido como necessário pelos próprios “saint-simonianos”. Contém um núcleo religioso, um conjunto de princípios de “mal” e “bem”, no qual são endoutrinados os fiéis. A experiência israelita do kibbutz é, por isso, extraordinariamente similar à pequena comunidade religiosa, uma comunidade socialista que funciona, mas apenas na medida em que as pessoas aderem ao núcleo de valores, a comunidade se mantém suficientemente pequena para evitar a divisão do trabalho e as classes sociais que isso implicaria, e manifeste alguma indiferença para com os bens materiais não essenciais, sem a qual não existiria igualdade.

Os socialistas utópicos esperavam abolir a pobreza, mas visavam padrões modestos, típicos de uma comunidade Amish, por exemplo, porque a exaltação de apetites individuais que fossem para além disso, necessariamente criariam tensões no seio da comunidade, como de facto aconteceu nos kibbutz. A comunidade socialista deveria também produzir um tipo de indivíduo socialista, um homo novus que estivesse acima do materialismo e da vulgaridade dos apetites burgueses, típica do indivíduo capitalista.

Contudo o tipo de socialismo que varreu a história não foi este, mas sim o “socialismo científico” de Marx e seus discípulos, que alimentou a ambição, muito mais vasta, de transformar rapidamente toda a sociedade. O seu ímpeto moral era também decorrente da luta contra a modernidade mas acabou, nas suas várias vertentes (comunismo, social-democracia, etc.,) por fazer caminhos muito diferentes.

Todas as variantes do socialismo científico acreditavam em políticas manipuladoras e dirigistas que, pela acção governativa de uma elite iluminada, sobre as populações ignorantes ou alienadas, criariam a comunidade virtuosa. Mas, ao contrário do seu antecessor utópico, o socialismo científico criticava o capitalismo por este ser incapaz de produzir a abundância que a tecnologia possibilitava e, em vez de uma igualdade assente na escassez, trombeteava a igualdade na abundância. Não é por isso de admirar que tenha atraído imediatamente todos aqueles que se sentiam frustrados por aquilo que o sistema capitalista lhes dava. As massas não queriam uma vida virtuosa e modesta, mas sim ter tudo aquilo a que se julgavam com direito.

O socialismo científico cristalizou em duas correntes que chegaram ao poder no séc. XX: uma que entendia que a comunidade socialista devia manter o sistema liberal de democracia parlamentar e outra que considerava isso indesejável.

O socialismo totalitário, falhou rotundamente. O planeamento centralizado foi incapaz de lidar com a complexidade da realidade moderna e da natureza humana. É certo que foram realizadas grandes obras e projectos, mas não há nisso nada que se possa creditar ao socialismo. A História está cheia de grandes realizações levadas a cabo por poderes autocráticos, desde as Pirâmides, à Grande Muralha da China. Naquilo que interessava ou seja, criar uma sociedade de abundância para todos, este socialismo falhou em toda a linha e revelou-se mais “utópico” do que o socialismo utópico propriamente dito.

A vertente social-democrata não leninista, não teve muito melhor sorte e onde aparentou algum êxito, foi sempre à custa da própria doutrina.

O caso sueco é paradigmático. Décadas de governação social-democrata, desembocaram num país próspero, com uma economia que, no início da década de 70, se dividia a meio entre capitalismo privado e capitalismo de estado. Mas a pressão ideológica socialista para nacionalizar ainda mais e fazer uma redistribuição mais igualitária dos rendimentos, conduziu ao abrandamento económico, inflação galopante, baixa de produtividade, quase bancarrota e ao descontentamento que acabou por determinar a derrota dos social-democratas e o regresso a um caminho mais próximo do capitalismo liberal.

Na Inglaterra, então designada pelo “doente da Europa”, aconteceu mais ou menos o mesmo, tendo finalmente emergido Margaret Tatcher que pôs fim à deriva socialista e salvou o país.

Hoje, face à crise e à retórica socializante que se ouve de novo, as sociedades precisam de se vacinar contra o regresso de um fantasma que morreu, mas ainda pensa estar vivo.

O ingrediente estritamente económico da vacina está mais do que identificado, e passa por um Estado-Previdência que evite a lei da selva e associe compulsividade e livre escolha, de resto perfeitamente compatível com o capitalismo liberal.

O ingrediente ético é um osso mais duro de roer. O declínio das crenças religiosas e dos valores tradicionais, é uma das mais sérias contradições, no sentido dialético, do capitalismo, uma vez que resulta da própria ideia liberal de que estas coisas são da esfera privada.

Mas é um osso que tem de ser roído pelo próprio sistema capitalista liberal, sob pena de a morte do socialismo redundar no aparecimento de fantasmas pseudo-socialistas que assentam os seus gritos lancinantes de além-túmulo no repúdio da liberdade individual em nome da “igualdade”.
E esse caminho já sabemos onde conduz.

Por: José António Rodrigues Carmo, na sua página do Facebook.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Socialismo, substantivo comum

O “socialismo” é um substantivo comum precisando urgente de adjetivos incomuns. No jogo das palavras que produzem a história, “socialismo” é substantivo quase banido do nosso noticiário, da nossa política e do nosso cotidiano. Sorrateiramente, o vocábulo foi sendo exilado para as margens da vida, para alívio de alguns, especialmente para os grupos que vivem confortavelmente neste mundo tão desconfortável.

Quem viveu a efervescência dos anos sessenta (e seguintes) e a esperança quase tocada de um mundo melhor, sabe que o substantivo comum “socialismo” já foi sinônimo exatamente de “esperança” e de “mundo melhor”, palavra que juntava gente e que ameaçava interesses, palavra gritada, cantada, escrita, publicada, anunciada, palavra que fazia sonhar parte da população e causava insônia na outra, nessa minoria privilegiada, cercada de luxo em uma estrutura produtora de lixo e miséria.

A palavra se perdeu nas adjetivações da história. No século dezenove havia os socialismos “utópicos”, tantos e de tantas cores, e o socialismo “científico”, único e hegemônico, firmemente estabelecido nos alicerces da ciência, nos resultados das gigantescas pesquisas de Marx que teve a genialidade, segundo Edgar Morin, de reunir ciência, filosofia e política em construto complexo. Colocado na prática de várias experiências do século vinte, demonstrou contradições e fragilidades, tornando-se socialismo “real”.

No fim dos anos noventa o mundo muda e a palavra começa a desaparecer, perdida pelos escombros de um mundo sombrio. Curiosamente começa a desaparecer também a palavra “capitalismo”, mistério não tão misterioso dos antônimos entrelaçados. Socialismo sempre foi a crítica do capitalismo. Destituída a crítica, desaparecida a obscuridade, o objeto criticado tornou-se tão luminoso que não pode mais ser encarado, nem precisa. Ele mesmo é a luminosidade que dá a claridade, sol esplendoroso que ilumina o mundo.

Entretanto, sem a crítica das sombras o mundo não ficou melhor. A hegemonia quase absoluta do capital nos leva a ter saudades do desusado substantivo, talvez com novos adjetivos. Esse sol ofuscante não parece ser luz benfazeja, mas radiação que ameaça a vida do planeta, um Mamom todo-poderoso sem nenhum diabo para lhe combater os excessos. Os sacerdotes do capital promovem guerras, invadem países, retiram direitos de todas as pessoas, sob a bênção dos seus profetas, seguindo os seus textos sagrados.

Dentre os textos antigos, o do patriarca Adam Smith, que nos convidou a cuidar cada um do nosso próprio interesse que uma espécie de “mão invisível” cuidaria do interesse da coletividade. Hoje temos de admitir um sistema não de uma única mão, mas de muitas mãos invisíveis, que repetem o gesto ritual da coletividade, enquanto encaminham para seus próprios bolsos “as riquezas das nações”. Um dos resultados da perversidade do sistema é uma brutal concentração de renda, ao ponto de Domenico De Masi admitir que cerca de quinhentas pessoas dominam mais da metade do PIB de todo o planeta.

Quando lembramos hoje da coisificação do ser humano que significou a economia escravista, quando abominamos a corvéia do sistema feudal, sonhamos pessoalmente com um futuro em que se fale do horror do sistema capitalista, época em que o ser humano e seus valores mais nítidos foram transformados em mercadoria. Neste momento atual, o sistema capitalista quase não consegue ser percebido, como não percebemos o ar que respiramos e que nos garante a vida. Na cumplicidade das metáforas, ambos estão se tornando cada vez mais irrespiráveis.

Mas, quem sabe, nesse futuro remoto, ou nem tanto, as perversidades estruturais de um sistema baseado no egoísmo e na exploração do tempo e da alegria do trabalhador, terão sido tornados objetos de estudos históricos, tema de redação indignada de pessoas que viverão já nesse mundo melhor que esperamos. A palavra para esse possível e impossível mundo ainda é “socialismo”, substantivo comum, talvez então cercado de adjetivos incomuns. Houve um tempo até em que se falava de um socialismo à brasileira, com carnaval, samba e futebol. Tomados em seu valor simbólico, nunca como estão atualmente também estruturados pelo capital, esses podem ser bons caminhos para se repensar a humanidade.

Por: Marcos Monteiro Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão (CEPESC). Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana (BA) e coordena a ONG Portal da Vida. Faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Socialismo, afasta o investimento e a iniciativa privada

Uma das "soluções socialistas" consiste em "taxar os muito ricos". 

A ideia é a chamada "justiça social". 

Os resultados é que teimam em contradizer a ideologia, porque na vida real é esta gente que investe na economia real. 

1- Nos EUA, a Califórnia vem acrescentando taxas aos milionários e Obama quer fazer o mesmo para a América toda. Resultados: O dinheiro foge: Tiger Woods, Phil Mickelson, Tina Turner, etc, já se puseram a milhas. E os estados com taxas mais altas (California, Illinois, New York, etc) estão a perder população para os estados com impostos mais baixos ( Nevada, Texas, Arizona, etc) 

2- O Reino Unido, um ano depois da chamada "Millionaires Tax", perdeu 70% dos seus milionários. 

3- Na França, após a ideia brilhante de Hollande, até o actor esquerdista Gerard Depardieu se pôs a milhas. E, claro, Sarkozy, que também saíu por causa dos impostos. O resultado é fantástico: a França está, disse há dias o seu Ministro do Trabalho, "à beira da bancarrota". 

4- Na Suécia, há uns bons anos, enquanto os impostos subiam a níveis estratosféricos, a bancarrota esteve por um triz e toda a malta fugia, desde os Abba até Bjorn Borg. 

MORAL DA HISTÓRIA: A ideologia é uma máquina de negar factos. Se este "remédio" socialista tem o efeito contrário ao que se pretende, e isto é um facto, porque razão se insiste nele? 

Por:José António Rodrigues Carmo

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Amanhãs que cantam

O proletariado de um modo geral, e a classe operária em particular, atravessam uma época exaltante. 

Os amanhãs radiosos voltaram a cantar, o grande capital treme de medo, Marx ressuscita, o Tio Arménio ameaça, o Operário Jerónimo embeiça e até os famosos líderes bicéfalos exigem que se retome a saga revolucionária do saudoso João Cravinho, nacionalizando por decreto todos os antro tenebrosos da alta finança arqueo-capitalista, neoliberal e proto-gananciosa. 

A adjectivação ganha asas, os baladeiros indignam-se e a cantiga volta a ser uma arma contra a burguesia.

No glorioso caminho para o socialismo espera-se agora por um governo a sério que nacionalize as petrolíferas, as telecomunicações, a Liga Sagres, o quiosque do Sr Martins, a churrasqueira Rainha dos Frangos, os pilares da ponte S. João e por aí adiante, exceptuando o meu carro, claro.

Os reaccionários neoliberais, ultra-neocons e arqueo-capitalistas andam calados que nem ratos, e consta que alguns já estarão a preparar a fuga para o Brasil, como os Champalimaudes, os Amorins,os Belmiros, os Soares dos Santos, etc. Teme-se que as próprias Rotundas de Viseu emigrem precipitadamente para o sertão brasileiro.

O que é capaz de não ser uma grande ideia porque vagueiam por lá lulas gigantes que mudam de cor com impressionante rapidez, ao ritmo da cachaça. 

E, se bem que algo desafinados, os amanhãs também querem cantar, misturando as estrofes da Internacional com o samba do mensalão, numa mistura bolivariana de Fórum de S. Paulo com ritual de Candomblé. 

Fugir para a Venezuela muito menos, porque aí só canta o Exu Chavez que, apesar de zombie, continua a anunciar o nascer de um novo amanhã cantante e bolivariano, a partir das cinzas putrefactas do neoliberalismo ultra neocon, arqueo-imperialista e proto-capitalista e isso.
 
E eu, reaccionário impenitente e irrecuperável, que bem queria odiar o grande capital mas nem as pequenas quantias consigo desprezar, temo que o ritmo revolucionário não me entre na corneta, mesmo que me encostem à muralha de aço.
 
Uma chatice!

Por:
José António Rodrigues Carmo P.S: Algumas das passagens deste texto foram extraídas das teses do último Congresso do PCP, leitura obrigatória em qualquer casa de banho de média qualidade, e muito eficaz na prevenção da obstipação.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Vão Trabalhar, Malandros!

Chamem-me fascista. 

Mas chamem bem alto, porque a miséria para onde acabaram por nos conduzir, os miúdos que a única refeição que tomam é na escola, as pessoas que se vêm sem nada, sem um cêntimo na algibeira, olhando para os filhos à volta da mesa (façam um esforço, façam mesmo, para se imaginar nessa situação), criam-me um escudo onde essas pretensas ofensas irão esbarrar. 

Chamem, podem chamar.

O que neste país se fez em nome da liberdade, é uma vergonha, é miserável. 

Não sejamos hipócritas, e assumamos cada um de nós a sua participação nesta farsa... nesta mentira. 

Passeatas de "charrete", bólides e carrões de milhões à porta do Hotel,recepções na Fundação do "fascista" Champalimaud e na Presidência da Republica, e a população abobalhada a bater palmas.

Miseráveis. Tenham vergonha. 

Até quando ? Quando vamos varrer com esta gentalha ? 

Estes pseudo intelectuais, acoitados nas noitadas dos ditos "circulos culturais" do Bairro Alto e noutros espaços apropriados à reflexão intelectual, em frente a uns bons whisky's "Black Label", como só uma boa vanguarda doutrinária de esquerda bem merece. 

As boas tensas recebidas pelas "vomitadelas" com que os referidos pseudo intelectuais, todos os dias nos agridem nos diferentes canais de televisão, comentadores, politólogos, e outros quejandos, enchendo os bolsos à custa de uma credibilidade que só a ignorância pode sustentar. 

VÃO TRABALHAR MALANDROS, que foi o que nunca na vida V. Exas. fizerammmmm.

Levantem-se antes do meio dia, e enfrentem um dia da trabalho,e não de preparação para mais uma noitada.Tenham vergonha. É pedir muito, não é ? 

Vampiros......." no céu cinzento sob o astro mudo...... bebendo o sangue fresco da manada....... eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada.....) 

Tal como no Estado Novo (fascista), o importante é manter o povo amordaçado na sua ignorancia, porque se assim não for V. Exas. perderão, de imediato, as vossas tão "merecidas" mordomias.... canalhas. 

Texto retirado da Internet. Autor desconhecido.