quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ou Inferno Venezuelano, rumo ao socialismo...

O número de venezuelanos que aspira a deixar o país tem aumentado constantemente nos últimos anos, de acordo com um estudo recente da consultoria Datanalisis firme. Nomeadamente, um de cada dez venezuelano, 10% do total, procura informações ou realiza  os tramites necessários para emigrar, segundo noticia o  "Diário das Américas".

Iván de La Vega, o sociólogo e pesquisador do departamento de economia e administração da Universidade Simón Bolívar, explica que, desde a década de 1990, a Venezuela está num processo de desagregação política, económica e social o que obrigou alguns venezuelanos a tomarem a decisão de deixar o seu país.

"Tenho a alma encolhida por ter que me separar de meus filhos. Vivemos em San Antonio de los Altos, e sempre que eles saem para trabalhar às 04:30 fico com um rosário na mão. Não têm vida própria, não podem sair tranquilamente. O receio de que sejam mortos, é constante".

"Mas deixar o país é uma correria cheia de obstáculos e dificuldades devido aos inúmeros procedimentos administrativos que exige que o governo chavista. O Ministério dos negócios estrangeiros pede resmas imensas de papelada, e depois temos ainda que passar peloo registro principal, pelo Ministério do Interior, justiça e paz, educação, faculdade - ou ambos - um nunca acabar de dificuldades".
 
As filas nas portas dos edifícios oficiais são infinitas. Quando Elba Camomila foi entregar os seus documentos  chegou às 08:00 da manhã e tinha o número 274 numa fila que começou a tomar forma às 2 da manhã. 
 
Para receber os documentos, as filas são igualmente intermináveis.
 
A tudo isto, são adicionadas as  dificuldades económicas . Não há na Venezuela aviões, linhas aéreas com destino ao estrangeiro devido ao estrito controle imposto pelo governo de Nicolás Maduro, que proibiu a circulação jurídica de dólares. 
 
Os montantes da dívida do governo Venezuelano ás companhias aéreas é de 3,8 bilhões de dólares e como resultado, etas têm reduzido os seus voos desde Janeiro passado, o que complica a vida a todos os Venezuelanos que querem deixar o país.
 
http://www.libremercado.com/2014-09-02/venezuela-la-nueva-carcel-del-socialismo-1276527144/

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Urge mudar o sistema



Está na hora de mudármos este regime, mudar este sistema, e correr-mos com esta  esquerda  esclerosada da  área do poder retirando a esta gente a ilusão em que se encontram extasiados e entorpecidos.

Eles não estão no pedestal das virtudes políticas, sociais e culturais. Muito pelo contrário, são corruptos, acéfalos e golpistas.

Os socialistas estão perdidos no tempo e no espaço, sem ideário crível, e nem mesmo têm políticas originais, criativas e boas, só ideologia antiga bafienta e perniciosa. Resquicios marxistas.

A direita (se existir) tem que encarar a realidade  de que a gestão socialista já deu provas bastantes de incompetência.Precisa também de partir para a ofensiva dizendo claramente que é a direita, e não a esquerda, que pratica a economia de mercado e que criou o mundo globalizado de hoje.

Para se ter um Estado Social só a direita é que o poderá construir. Pois é ela que possui as aptidões de gestão para dar sustentabilidade a isso. Por fim, é preciso dizer que o socialismo não é solução, nem progresso.O socialismo é passado, obsoleto, sufocante, e sobretudo corrupto, que só sabe governar com o dinheiro dos outros.

Na Europa de hoje não há mais dinheiro para ser "torrado" com quem não produz. A tal “solidariedade com o bolso dos outros” , chegou ao fim. Margaret Thatcher foi cruel ao dizer que o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros, entretanto estava coberta de razões.

Estamos a  ser governados por gente socialista pré-formatads, pré-fabricada, em série, que não tem criatividade, não têm luz própria, seguem os mesmos e carcomidos ideários, que já deram provas de não ser a solução para os problemas actuais da nossa sociedade. Eles são sim o problema.

Não há golpismo á direita, mas sim incompetência e limitações intelectuais á esquerda.

Na França de tanta tradição esquerdista, o Partido Comunista acabou e os ditos socialistas foram reduzidos a uns piedosos 14%.  Assim, quem era comunista ou socialista, passou a ser liberal, capitalista, adoptando o livre mercado e a democracia como forma de organizar a nação.

A cada “crise do capitalismo” os socialistas europeus esperaram em vão ganhar os votos dos eleitores que pagam a conta. Mas, esses tais eleitores em lugar de mais socialismo querem e votam por melhor capitalismo, mais mercado na economia e a preservação da liberdade.

Espanha, Irlanda, Alemanha, e a maioria dos países do Leste Europeu: República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia, Sérvia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Hungria, Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Bulgária, Azerbaijão, Herzegovina, Montenegro, Geórgia, Armênia, Moldávia, Albânia, Cazaquistão, Quirguízia, fortaleceram a vitória conservadora na Europa, abandonando o socialismo.

Aqui em Portugal, a nossa imprensa esconde ou não entende o consistente declínio dos socialistas em todos os países da Comunidade  Europeia e até no próprio Parlamento Europeu. E os meios de comunicação social, os paineleiros das tvs, os politólogos, os óraculos de plantão, obliteraram a realidade do país perdem-se em conversas de escárnio e mal dizer, consoante o seu fanatismo ideológico, sempre de esquerda, sempre  marxista, sempre bota abaixo...é que, quanto pior, melhor...para eles.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Hoje não se fala português... linguareja-se!

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
 
As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico'.
 
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes operacionais'.
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
 
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.
O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez'.
Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'.
Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores'.
As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas de exterior são 'centros de decisão nacionais'.
 
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.
Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
 
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
 
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'
Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.

Ainda há cegos, infelizmente.
 
Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
 
As p.... passaram a ser 'senhoras de alterne'.
 
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
 
Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress.
 
Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.

Por Helena Sacadura Cabral.

Plenários da Assembleia da República tiveram média de 16 "faltosos" por sessão

Em média, 16 dos 230 deputados com assento na Assembleia da República (7%) faltaram a cada uma das reuniões magnas da última sessão legislativa, num total de 1.634 ausências entre 16 de Setembro de 2013 e 25 de Julho.

De acordo com dados da Assembleia da República e tendo em conta os parlamentares actualmente em funções, os partidos mais representados tiveram deputados menos assíduos nesta terceira sessão legislativa - reflexo também da quantidade superior de mandatos. (JN)

O que acontece a um simples empregado que não se apresenta ao serviço? 
O trabalhador que decide não aparecer no horário de expediente? 
Numa primeira fase será administrativamente repreendido, chamado ao gabinete do chefe para ouvir das boas, e, os dias de ausência laboral serão certamente descontados do salário. 
É mais ou menos este o procedimento. 
Nem sequer estou a considerar o despedimento com justa causa ao fim de um número assinalável de faltas. 
É assim que funciona o mercado laboral,o conceito de emprego e assiduidade no trabalho. 

E o que sucede na Assembleia da República? 
Existe um conjunto de justificações que pode servir os deputados. 
Esta é especialmente simpática: (...) "O n.º 4 do mesmo artigo estipula que, “em casos excepcionais, as dificuldades de transporte podem ser consideradas como justificação de faltas”.  

Segundo as contas do "centro de emprego do parlamento", o deputado João Soares é o mais faltoso de todos. 
Mas deixemos em paz o filho do pai da democracia em Portugal. 
Ele não é melhor nem pior que os outros colegas. 
No meu entender a solução é simples. 
Não aparece, não recebe. 
Ponto final. 

Não sei por que razão os deputados devem merecer tratamento discriminatório positivo - apresentam um atestado assinado pelo encarregue de educação política e fica tudo resolvido? 
É isso? 
Não. 

Se não contribuem para a produção legislativa e não estão presentes na Assembleia da República, acho que devem explicar muito bem a "missão parlamentar" e o "trabalho político" levados a cabo fora de portas. 

Porque como em tudo na vida há bons e maus. 
Tidos e achados. 
Perdidos. 
Pagos por cada um de nós.

John Wolf, no Estado Sentido

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Não matem o Português!

 1. Hífens

Todos, todos os dias passamos pelo Facebook e vemos um monte de palavras nas quais tu colocas-te um hífen onde não o havia… Já agora, não reparaste em nenhum erro na frase anterior? Então foste mesmo tu, seu/sua delinquente!
Por favor, não confundam ‘passas-te’ com ‘passaste’, ‘colocas-te’ com ‘colocaste’ e muito menos ‘passamos’ com ‘passa-mos’.
‘Colocaste’ está no Pretérito Perfeito e o equivalente na 1° pessoa é ‘coloquei”. ‘Colocas-te’ está no Presente do Indicativo e o equivalente na 1° pessoa será ‘coloco-me’. Já de ‘passamos’ para ‘passa-mos’, altera-se o modo, o tempo, e até a pessoa!
Este é o erro mais comum na net, o mais absurdo, o mais horrível, e o que mais vontade dá de pontapear o ecrã do computador. As vossas frases perdem completamente o sentido!
Tirar hífens de onde deviam estar, fazendo o processo oposto, é um atentado igualmente grande.
2. Há / à / á
Não aqui nada que enganar (ou, pelo menos, não era suposto haver). O primeiro é uma conjugação do verbo haver, o segundo é uma contracção e o terceiro é estúpido.
Quando dizemos “Já vi esse filme uma semana”, estamos a dizer que já passou uma semana desde que vimos o filme, utilizando o verbo haver para o efeito. Dizer “à uma semana” é completamente ridículo, pois o à é simplesmente uma contracção da preposição a com o artigo definido/pronome demonstrativo feminino a, e usa-se apenas em frases como “amanhã vou à praia”. A terceira opção, o á, é apenas estupidez porque nem sequer existe como palavra.
Entendido? “Não vou há praia à uma semana” está, portanto, completamente errado.
3. Ç
Por vezes, vemos gente a escrever frases inspiradoras no Facebook, ou mesmo a partilhar imagens com frases que já têm centenas de partilhas, e aparece, lá no meio, uma “palavra” bela: “Voçê”. É um dos grandes problemas do nosso povo, apesar de todos terem sido ensinados em condições no primeiro ou segundo ano de escolaridade.
A regra é a seguinte: um C lê-se sempre como um Q, excepto quando se encontra antes de um e ou de um i, casos em que se lê como um S. Ou seja, sempre que vem antes de um e ou de um i, nunca leva cedilha! NUNCA. Portanto, chega de “voçês”, chega de “apareçe” e de coisas semelhantes.
4. Assério
Algumas pessoas decidiram pegar na expressão “a sério” e fundir as duas palavras, formando a magnífica palavra “assério”, ou mesmo, em casos mais extremos, “acério” ou “asério”, que nem sequer se lê da mesma maneira (estamos a contar o tempo até começarem a escrever “açério”). Aparece várias vezes nas redes sociais e não fazemos ideia de onde foram desencantar isto. Fomos verificar e, no teclado do computador, a letra S nem sequer está próxima da barra de espaços, pelo que não pode ser um erro de tipografia. Por favor parem com isso. De cada vez que o fazem, morre um panda na China. Assério.
5. Concerteza
Mais duas palavras unidas, mais um panda morto. Pouco há para dizer também acerca desta palavra, mas com certeza que está errada. A expressão correcta é como acabámos de a escrever, com duas palavras separadas, pelo que “concerteza” é apenas obra do diabo.
6. Já mais
Só para que não digamos que só andam aí a fundir palavras à toa, o povo presenteia-nos com esta relíquia, que é precisamente o oposto. Decidiram, então, pegar na palavra ‘jamais’ e separá-la em duas, que por acaso existem mas não cabem onde as tentam meter. Aprendam: quando querem dizer que nunca, nunca irão fazer determinada coisa, escrevam “jamais”, tudo junto. “Já mais” só pode ser utilizado em frases como… bom, em frase nenhuma que esteja em condições.

7. Vez/vês
A confusão entre estas duas palavras também é ligeiramente carcinogénica. “Também vez a Guerra dos Tronos?” e “Só vi uma vês” são duas frases que, portanto, não têm jeito absolutamente nenhum. ‘Vês’ é uma conjugação do verbo ver e ‘vez’ é o singular de ‘vezes’. Não são a mesma coisa, nem de longe nem de perto.
8. Não tem nada haver
O verbo haver é, como já vimos, causa de muita confusão na cabeça de quem não é muito bom nesta coisa da escrita. “Não tens nada haver com isso!”, dizem eles, mas nós temos que intervir, para impedir um severo apocalipse linguístico. Gente: escreve-se “não tens nada a ver com isso!”, e não como foi escrito anteriormente. E sim, nós, enquanto cidadãos preocupados com a saúde de quem lê aquilo que escrevem, temos muito “haver” com isso.
9. Poder/puder
Aparentemente, existe por aí uma enorme dificuldade em entender a diferença entre estas duas palavras mas o Cultura X, como vosso amigo que é, vai explicar: puder lê-se “pudér” e poder lê-se “podêr”. Isto, sozinho, já deve ser suficientemente explicativo mas, como mais vale prevenir do que remediar, explicamos ainda mais: deve-se usar o ‘puder’ apenas no modo condicional (ex.: “se eu puder ir”), sendo ‘poder’ a palavra adequada em todas as outras situações, incluindo “não devo poder ir”.
10. Vírgulas
Não, desta vez a palavra não está mal escrita. Queremos só dar um pequeno reparo nas vírgulas horrivelmente colocadas. Nunca, nunca, “já mais” se separa o sujeito do predicado de uma frase com uma vírgula (ex.: a minha mãe, foi ao supermercado) e também não se colocam os atributos das palavras entre vírgulas (ex.: a sua, belíssima, mulher). Pode ser?

Agora resta-nos esperar que isto resulte! Façamos com que acabe o terror do português que parece um dialecto da Papua Nova Guiné. Contamos com a tua ajuda para mostrar isto ao nosso povo!

Fonte: Cultura X

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Cuba, o Inferno no Paraíso

Na crônica da semana passada, tentei, pela milésima vez, aderir ao Comunismo.
Usei todos os chavões que conhecia, para justificar o projeto cubano. Não deu certo.
Depois de 11 dias na ilha de Fidel Castro, entreguei, de novo, os pontos.
O problema do socialismo é, sempre, o real.  Está certo que as utopias são virtuais; o lugar, não. Mas, tanto problema com a realidade inviabiliza qualquer adesão.
Volto chocado: Cuba é uma favela no paraíso caribenho.
Não fiquei trancado no mundo cinco estrelas do hotel Habana Libre.  Fui para a rua. Vi, ouvi e me estarreci. Em 42 anos, Fidel construiu o inferno ao alcance de todos.
Em Cuba, até, os médicos são miseráveis. Ninguém pode queixar-se de discriminação. É, ainda, pior.
Os cubanos gostam de uma fórmula cristalina: ‘Cuba tem 11 milhões de habitantes e 5 milhões de policiais’. Um policial pode ganhar, até, quatro vezes mais do que um médico, cujo salário anda em torno de 15 dólares, mensais.
José, professor de História e Marcela, sua companheira, moram num cortiço, no Centro de Havana, com mais dez pessoas (em outros, chega a trinta). Não há mais água encanada. Calorosos e necessitados de tudo, querem ser ouvidos.
José tem o dom da síntese: ‘Cuba é uma prisão, um cárcere especial. Aqui, já se nasce prisioneiro. E a pena é perpétua.  Não podemos viajar e somos vigiados, em permanência. Tenho uma vida tripla: nas aulas, minto para os alunos. Faço a apologia da revolução. Fora, sei que vivo um pesadelo. Alívio é arranjar dólares com turistas’.
José e Marcela, Ariel e Julia, Paco e Adelaida, entre tantos com quem falamos, pedem tudo: sabão, roupas, livros, dinheiro, papel higiênico, absorventes. Como não podem entrar, sozinhos, nos hotéis de luxo que dominam Havana, quando convidados por turistas, não perdem tempo: enchem os bolsos de envelopes de açúcar. 
O sistema de livreta, pelo qual os cubanos recebem do governo uma espécie de cesta básica, garante comida, para uma semana. Depois, cada um que se vire. Carne é um produto impensável.
José e Marcela, ainda assim, quiseram mostrar a casa e servir um almoço de domingo: arroz, feijão e alguns pedaços de fígado de boi. Uma festa. 
 
Culpa do embargo norte-americano?  Resultado da queda do Leste Europeu? José não vacila: ‘Para quem tem dólares, não há embargo. A crise do Leste trouxe um agravamento da situação econômica. Mas, se Cuba é uma ditadura, isso nada tem a ver com o bloqueio’.
Cuba tem quatro classes sociais: os altos funcionários do Estado, confortavelmente instalados em Miramar; os militares e os policiais; os empregados de hotel (que recebem gorjetas em dólar); e o povo.
‘Para ter um emprego num hotel, é preciso ser filho de papai, ser protegido de um grande, ter influência’, explica Ricardo, engenheiro que virou mecânico e gostaria de ser mensageiro nos hotéis luxuosos de redes internacionais.
Certa noite, numa roda de novos amigos, brinco que quando visito um país problemático, o regime cai, logo depois da minha saída. Respondem em uníssono: 'Vamos te expulsar daqui agora mesmo’.
Pergunto: por que não se rebelam, não protestam, não matam Fidel? Explicam que foram educados para o medo, vivem num Estado totalitário, não têm um líder de oposição e não saberiam atacar com pedras, à moda palestina.
Prometem, no embalo das piadas, substituir todas as fotos de Che Guevara espalhadas pela ilha, por uma minha, se eu assassinar Fidel para eles.
Quero explicações, definições, mais luz. Resumem: ‘Cuba é uma ditadura’.  Peço demonstrações. ‘Aqui, não existem eleições. A democracia participativa, direta, popular, é um fachada para a manipulação. Não temos campanhas eleitorais, só temos um partido, um jornal, dois canais de televisão, de propaganda, e, se fizéssemos um discurso, em praça pública para criticar o governo, seríamos presos, na hora’.
Ricardo Alarcón aparece, na televisão, para dizer que o sistema eleitoral de Cuba é o mais democrático do mundo. Os telespectadores riem: ‘É o braço direito da ditadura. O partido indica o candidato a delegado de um distrito; cabe aos moradores do lugar confirmá-lo; a partir daí, o povo não interfere em mais nada. Os delegados confirmam os deputados; estes, o Conselho de Estado; que consagra Fidel’. 
Mas, e a educação e a saúde para todos? Ariel explica: ‘Temos alfabetização e profissionalização, para todos; não, educação. Somos formados, para ler a versão oficial; não, para a liberdade. A educação só existe, para a consciência crítica, à qual não temos direito. O sistema de saúde é bom e garante que vivamos mais tempo para a submissão’.
José mostra-me as prostitutas, dá os preços e diz que ninguém as condena:’Estão ajudando as famílias a sobreviver’.  Por uma de 15 anos, estudante e bonita, 80 dólares.
Quatro velhas negras olham uma televisão em preto e branco, cuja imagem não se fixa. Tentam ver ‘Força de um Desejo’.
Uma delas justifica: ‘Só temos a macumba (santería) e as novelas, como alento. Fidel já nos tirou tudo. Tomara que nos deixe as novelas brasileiras’.
Antes da partida, José exige que eu me comprometa a ter coragem de, ao chegar ao Brasil, contar a verdade que me ensinaram: em Cuba só há ‘rumvoltados’.
 
Juremir Machado da Silva
Correio do Povo, Porto Alegre (RS)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Reino da Lunda (Aruwund)


O Reino da Lunda (1050-1887), também conhecido como Império Lunda, foi uma Confederação africana pré-colonial de estados, desde o Katanga, desde o Rio Luio até Liambeji ou Zambeze e o noroeste da Zâmbia. O seu estado central ficava no actual Katanga ou a capital Imperial a famosa Mussumba.

O Reino da Lunda ficou dividido no século XIX, quando ocorreram as guerras intestinais na Corte da Família Real do Império Lunda, entre o século XIV, XV ou XVI e por causa do tabú da Soberana Lueji. 

O Reino dividiu-se em trés partes, sendo;
- Reino Lunda Luba
- Reino Lunda Ndembo
- Reino Lunda Tchokwe

De acordo com os registos conhecidos, os Tchokwes estabeleceram o seu próprio reino com a sua língua e costumes. Os chefes Lundas e o povo continuaram a viver na região da Lunda porém integrados, e a conviver com as outras tribos.

No início da era colonial (1884 - Conferência de Berlim) o coração da terra Lunda foi dividido entre a Provincia de Angola Portuguesa, o Estado Livre do Congo do rei Leopoldo II da Bélgica e o noroeste da Britânica Rodésia, que viriam a tornar-se em Angola, R.C.Congo e Zâmbia, respectivamente.

Em 1908, o Estado Livre do Congo deixa de ser propriedade da Coroa e torna-se colónia da Bélgica, sob o nome de Congo Belga, permanecendo assim por quase 60 anos. Por sua vez, o Império Lunda – inicialmente repartido entre o reino Portugal e o Estado Livre do Congo –, encontrava-se, desde meados do século XIX, em decadência, já que “o poder do Mwant Yaav, em larga medida apoiado no comércio de escravos, acabou por ser afectado pela abolição deste tráfico.
 
Terra de mistério antigo, parece ter sido primitivamente habitada pelos pigmeus, hoje encontrados um pouco mais a norte, na região dos grandes lagos. Esses primitivos habitantes viriam a ser deslocados definitivamente pelas várias tribos bantu que na sua migração para sul ocupariam a totalidade do território de Angola. 

Para além do rio Lalua, viviam várias comunidades de um povo vindo do nordeste - os bungos - subordinados a chefes, que, não obstante independentes, ouviam e respeitavam o mais velho chamado Lala Mácu, estando assim em embrião a formação de um novo estado, o da Lunda ou Runda. 

Este velho Laia foi agredido, um dia, por dois dos seus filhos, Quingúri e Lala - quando embriagados e dessa agressão sobreveio-lhe a morte. Antes de morrer, porém, indicou a sua filha Lueji como sucessora e pediu aos outros chefes que a amparassem e aconselhassem, visto ser ela ainda nova e inexperiente, evitando que os irmãos se apoderassem do lucano (bracelete insígnia usada pelo chefe).

Mwene Dumba Watembo, Rei dos Lunda Tchokwes 1874 

O Reino Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos grandes potentados de Africa, foi fundado no início do Séc.XVI, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.

Segundo a tradição Lunda, Mwatiânvua era descendente de Lweji, filha de Kondo grande chefe Lunda, que era casada com o grande caçador Luba Tyibinda Ilunga. Depois da morte de sua mãe, Muatiânvua, submeteu várias tribos Lundas e formou um Reino, nos finais do séc. XVI.

Embora fosse um Reino só era coeso em todos os aspectos e sentidos. Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois, ajudados pelo conselho de séculos (velhos).

Era um Reino economicamente muito forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e tecidos.
 
É no auge da sua governação que todo o mal acontece ao Estado do Reino Lunda, a formação do Império, e a decadência do mesmo e practicamente o desmoronamento do grande pontentado de Africa.

No Séc. XVIII, uma parte do povo decidiu migrar para a região do actual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé (Kiôco). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do Reino.

As lutas com os Tchokwé, que se haviam sublevado, em finais do século XIX, alargaram as barreiras do Reino Lunda, levando á sua expansão para norte e sul.  
 
Devido à inexistência de registos escritos que precedem a presença europeia -- as primeiras referências aos Lundas ou Moluas surgem em textos portugueses do séc. XVIII . Muito do que sabemos sobre a história da Lunda provém da tradição oral. Os mitos referem a existência de um grupo anterior aos Lundas centrais, os Bungos, os quais só utilizavam
material lítico. Os Lundas seriam os seus descendentes. Em finais do séc. XIX, este grupo ocupava uma vasta mancha no nordeste do território Angolano, compreendida sensivelmente entre os rios Cuango e Cassai. 
 
A Norte, no então Reino do Congo, encontravam-se povos do mesmo grupo cultural – os chamados Lunda centrais. Pensa-se que os Lunda centrais submeteram os Bungos, prosseguindo depois para o Nordeste de Angola, onde dominaram militarmente as populações locais, formando progressivamente um estado de grandes dimensões – o chamado Império Lundacentrado, chefiado pelo soberano máximo ou Muatiânvua, “senhor de riquezas”. O Império Lunda era uma estrutura político-administrativa complexa e centralizada, controlada a partir da capital, Mussumba do Muatiânvua.

Esta não era fixa, mudava frequentemente de região, comforme as migrações e as guerras, mas albergava sempre o soberano e a corte. A Mussumba exercia o domínio sobre um mundo de pequenas e médias povoações, controladas por chefes locais. 
 
Os Tchokwe são um povo aparentado dos Lunda. Em finais do séc. XIX, encontravam-se estabelecidos a Sul destes entre os rios Cuanza e Cuangu, tendo durante largo tempo estado submetidos ao poder do Império Lunda.

São coisas de uma África que já não existe. Coisas de um povo, coisas de sanzala, segredos, mistérios da magia africana... Memórias, que a memória do tempo não apagará!
 
Dom Mwata Jamwo Kauma Rei da Lunda, 1928
 Fonte: FFSA-Federation of the Free States of Africa

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Manuel, o desertor Alegre.



"Alguns elementos sobre o Bando de Argel"
Aqui fica para memória futura, um contributo do chefe Abílio Augusto Pires, escrito já há uns anos, para a biografia do conhecido desertor e traidor, Manuel Alegre.

Natural de Águeda ou arredores, Manuel Alegre fez a sua vida académica em Coimbra. 
Descendente de uma classe “média-alta” fez a vida normal de estudante de Coimbra, um tanto boémia e, nesse sentido, um tanto tradicionalista. 

Cedo se virou para a política o que, no ambiente de Coimbra, também era tradicional. 
Militou na “organização local” do p.c.p. e estou à vontade para afirmá-lo porque fui eu próprio quem desmantelou essa organização. 
Dos seus elementos com alguma responsabilidade ficaram dois: Silva Marques, hoje deputado do P.S.D. que, embora fosse estagiário de advocacia em Aveiro, vivia já numa situação de semi-clandestinidade, e o Manuel Alegre. Mas ficaram por razões diferentes. 

O primeiro, Silva Marques, porque mergulhou na clandestinidade e viria depois a fixar-se na Itália, onde entrou em litígio com o “partido” do qual veio a ser expulso, após ter feito várias autocríticas que, de resto, conheci. 
Manuel Alegre também escapou mas porque estava a prestar serviço militar no R.I. 12 (Regimento de Infantaria nº12) situado precisamente em Coimbra e já mobilizado para Angola, como alferes miliciano. 

A PIDE foi sempre um pouco avessa à detenção de militares mas, neste caso, pesou mais o facto de estar mobilizado. É, pois, totalmente falsa a ideia de que desertou por ser perseguido pela PIDE que não o prendeu porque não quis fazê-lo. As razões íntimas que o levaram à deserção só ele poderia explicá-las se bem que se tornou evidente para quem alguma vez ouviu a “voz da liberdade” ao longo dos seus 12 anos de funcionamento. 

E não venha dizer que não traiu. Fê-lo ao longo de 12 anos, não só pelas declarações que prestou como também pelas que obrigou a prestar. Trata-se de matéria conhecida mas que abordarei um pouco à frente.
 
Desertou e foi para Paris em 1962, estava a ser criada a FPLN (Frente patriótica de libertação nacional) que já se decidira iria funcionar em Argel, com o beneplácito do governo argelino e toda a sua protecção. Seria dirigida por Fernando Piteira Santos que fora funcionário do partido comunista português e expulso da organização uns dez (10) anos antes. 

Aliás, o governo argelino já autorizara também a instalação e funcionamento da rádio “voz da liberdade” da qual Manuel Alegre viria a ser o locutor até 25 de Abril de 1974. Assim, em meados de 1962, partiriam de Paris rumo a Argel Fernando Piteira Santos, sua companheira, Maria Stella Bicker Correia Ribeiro e Manuel Alegre. A FPLN cresceu rapidamente e tem que dizer-se que o seu principal indutor foi a rádio “voz da liberdade”. 

Tornou-se, assim, a breve trecho, num autêntico coio de traidores, grande parte deles desertores do Exército Português e também, ex-prisioneiros que, libertados pelo inimigo, eram para ali encaminhados e lá permaneciam em cativeiro pelo menos até se disporem a revelar perante os microfones tudo o que sabiam e não só: tinham igualmente que recitar “ipsis verbis” o discurso que lhes punham à frente. 

Só depois disso é que teriam hipótese de sair da Argélia. 
Esta atitude, que em qualquer país civilizado consubstanciaria a figura jurídica de “cárcere privado” era praticada pela FPLN com a cumplicidade do senhor Manuel Alegre: só que no Portugal democrático ninguém fala disso. 
Não seria trair?
 
E receber os chefes dos movimentos africanos que nos combatiam, ouvir e transmitir aí os seus dislates não seria trair?
E fornecer-lhes as informações que desertores e ex-prisioneiros de guerra eram forçados a prestar não seria trair?
 

Bom, se isto não era trair vamos a outro aspecto: 
Enviar homens – elementos da FPLN – para Cuba a fim de serem instruídos na guerrilha urbana, também não era trair? 
E a FPLN (não só mas também) enviou para lá alguns que foram treinados numa base cujo nome não me recordo de momento mas sei que dista 17 quilómetros de Havana e foram treinados entre outros por Alvarez del Bayo, antigo coronel do Exército espanhol que se bateu contra Franco e foi um dos homens do DRIL ( Directório Revolucionário Ibérico de Libertação) que organizou o assalto ao Santa Maria. 

E também me lembro que esses homens (da FPLN) foram treinados no fabrico e uso de explosivos e, ainda, a fazer guerrilha urbana com armas que eles próprios tinham que fabricar. E que aprenderam, por exemplo, a fabricar morteiros partindo de um simples cano retirado de um algeroz. Isto era bem mais do que trair. 

E para que dúvidas não restem, cito dois nomes: Eduardo Cruzeiro que foi jornalista do “República”, está vivo e tem um “bom tacho” na RTP, e Rui Cabeçadas que é ou foi advogado. 
E digo “é ou foi “ porque calculo que teria a minha idade, talvez um pouco mais, e não sei se é vivo ou já morreu. 

Chega? Não, não chega que eu tenho mais.
Sei que a vida na FPLN não era um “mar de rosas” para todos. Bem pelo contrário: as guerras entre essa organização e o p.c.p. era violentíssima. Chegou-se ao ponto de o p.c.p. ocupar a rádio pela força e a FPLN responder com um contra-golpe que consistiu em levantar os depósitos bancários do p.c.p., factos que obrigaram o governo argelino a intervir para pôr as coisas no lugar. 
E como nem o Dr. Pedro dos Santos Soares, membro da cúpula do p.c.p.  enviado para Argel conseguiu pacificar as hostes, este partido decidiu jogar a última cartada: nem mais nem menos do que Humberto Delgado. 
 
Álvaro Cunhal e o General Humberto Delgado
Estava no Brasil, sofria de doença grave e foi a Praga para se tratar. Foi aí que o p.c.p. o abordou e convenceu a ir para Argel. Foi-lhe dito que tudo o que se pretendia era unir a oposição e derrubar o “regime fascista” português. Ninguém se não ele poderia liderar essa união, preparar e comandar o golpe. Convencido do seu prestígio, acreditou e foi para a Argélia. 

Enganou-se, até porque nunca lhe passara pela cabeça que encontraria o que na realidade encontrou. Desconhecia que o p.c.p. jamais perdoaria a “traição” de Piteira Santos, que, embora marxista e reconhecido como tal, havia falado na PIDE. 
Mas havia outros problemas não menos graves: Humberto Delgado era um impulsivo e queria uma revolução imediata. 
O p.c.p., mais preparado politicamente, respondia que aprendera as lições da guerra civil de Espanha e da própria Guatemala. Era para eles evidente que “nenhuma revolução poderia triunfar sem que antes conseguisse o apoio das Forças Armadas”. 
Não embarcava em aventureirismos. 
Virou-se para a FPLN e a ela aderiu. 

Só que, logo que pôs o problema da revolução imediata, foi-lhe respondido que Lenine ensinava que “nenhuma revolução de massas poderia ser ganha sem que tivesse o apoio de uma parte do exército que houvesse servido o regime anterior”. 
Não percebera que uns e outros eram marxistas e sabiam que o comunismo não tinha a mínima hipótese de governar Portugal. 

O que interessava a todos era entregar a África Portuguesa à União Soviética. 
E isto significava para Delgado que “entre dois mundos ficara sem mundo”. 
Tentou, por sua vez, a última cartada: era amigo e um grande admirador de CHE GUEVARA que se transformara em mito de todos os revolucionários de todo o mundo. Pediu a sua ajuda e GUEVARA aceitou. Foi para Argel e por lá ficou uns tempos mas nada fez. 

Nem podia fazer: GUEVARA era agente do KGB soviético. E os interesses de Moscovo estavam muitíssimo à frente de Humberto Delgado, que ficou só. Sem dinheiro, sem saúde e sem apoios ameaçou entregar-se às Autoridades Portuguesas. 
Foi o seu fim. Não sei como nem em que circunstâncias. Tudo o que sei – e já o disse várias vezes – é que essa história continua mal contada. 
Quem sabe se o senhor Manuel Alegre não poderia levantar uma pontinha do véu?..." 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Eusébio no Panteão Nacional ?! Porquê ?!

Foto de João Pedro Neves
Carta de Manuel Frazão, a propósito da proposta, de se depositarem os restos mortais de Eusébio da Silva Ferreira no Panteão Nacional.
 
"Exmos Senhores: Presidente da República Primeiro Ministro Presidente do Grupo Parlamentar do PSD Presidente do Grupo Parlamentar do PS Presidente do Grupo Parlamentar do CDS.

Tomei conhecimento, hoje, da notícia que abaixo transcrevo: 
"As bancadas parlamentares estão de acordo sobre a transladação dos restos mortais de Eusébio para o Panteão Nacional, revelou o líder da bancada do PSD aos jornalistas no Parlamento, esta quarta-feira".

Em consequência, venho manifestar a Vªs. Exªs. o meu espanto e o meu completo desacordo por tal proposta. Não está em causa a pessoa de Eusébio da Silva Ferreira. Está em causa um conjunto de Princípios, Valores e Critérios que serviram, ao longo dos anos, de base à existência de um areópago onde só deveriam caber, para memória futura, aqueles que "em perigos e guerras esforçados, mais do que permitia a força humana... se vão pela lei da morte libertando" como salientou o nosso mais ilustre poeta. 

Devem fazer parte das figuras ilustres do nosso viver intemporal todos os que, de acordo com os critérios de avaliação, realizaram feitos ou obras de vulto no panorama nacional. 

Ora o que fez Eusébio da Silva Ferreira de relevo na vida nacional? 
Foi um grande futebolista que ficou conhecido pelo que realizou, sobretudo, na Selecção Nacional no Mundial de 1966. 

Tudo o resto advém da sua participação nos quadros da equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica, onde ganhou vários títulos, entre eles uma Taça dos Campeões Europeus, mas tudo isto no âmbito exclusivo do seu clube. Em ambos os casos deve o seu relevo a um conjunto de jogadores que, quer na Selecção, quer no Benfica, o ajudaram a ser considerado um dos melhores do mundo. 

Mas bastará isto para o guindar a herói nacional com honras de Panteão Nacional (PN)? 

Vejamos o que pode suceder no futuro com esta atitude que se pretende tomar na AR: 

1º - Êxito idêntico ao de 1966 tivemos há poucos meses com a intervenção de Cristiano Ronaldo no apuramento para o Mundial do Brasil que se realiza este ano. Foi ele que nos jogos frente à Suécia se superou e nos deu aquele apuramento. Servirá este feito para lhe dar acesso, no futuro, ao PN? 

2º - O mesmo Cristiano Ronaldo tem feito uma carreira de futebolista, pelas equipas por onde passou, com o sucesso que se lhe reconhece, tendo sobre Eusébio a diferença de ter actuado já em 3 campeonatos distintos, tendo no Manchester United e no Real de Madrid o desempenho que lhe é universalmente reconhecido com atribuição de Bota de Ouro e o reconhecimento de "Melhor do Mundo". Serão estes galardões justificativos de uma entrada no PN? 

3º - Ainda em relação a feitos desportivos será que o Campeão Olímpico, Carlos Lopes, a Medalha de Ouro, Rosa Mota, o grande ciclista Joaquim Agostinho (todos eles em competições individuais), José Travassos, o primeiro futebolista português a fazer parte da primeira equipa de estrelas europeias em 1955, Fernando Peyroteo o melhor marcador, de sempre, de golos no campeonato nacional com uma média de 1,6 golos por jogo, na sequência de critério desportivo semelhante ao que agora se quer atribuir a Eusébio, não teriam lugar no PN? 
E que dizer de Pinto da Costa, o presidente do Futebol Clube do Porto, que tem o maior número de anos à frente de um clube de futebol em todo o mundo com um enorme palmarés em campeonatos nacionais e internacionais, não cabe nos critérios desportivos para herói nacional com entrada no PN? 

4º - Bem sei que estão no PN figuras como Amália Rodrigues e Humberto Delgado em relação às quais também não concebo que ali estejam representados. 

Pergunto porque não se encontram ali entidades com muita relevância nacional como: 
- Professor Dr. António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina em 1949, que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da medicina ao conseguir pela primeira vez dar visibilidade às artérias do cérebro. A Angiografia Cerebral, que descobriu após longas experiências com raios X, tornou possível localizar neoplasias, aneurismas, hemorragias e outras malformações no cérebro humano e abriu novos caminhos para a cirurgia cerebral; 
- Dr. Sá Carneiro, que morreu ou foi assassinado ao serviço do seu país, enquanto desempenhava funções de Primeiro Ministro; 
- Professor Dr. António de Oliveira Salazar (bem sei que nunca quereria essa justíssima homenagem) que tanto deu ao país tendo evitado que os portugueses entrassem na II Grande Guerra e que, no desempenho das suas funções, tirou Portugal da bancarrota e nunca se apropriou de um cêntimo do erário público; 
- E um representante dessa classe de Homens tão abnegados que dão as vidas pelos seus semelhantes "em perigos verdadeiramente esforçados" como são os Bombeiros Nacionais, chamados muito apropriadamente Soldados da Paz, não seria mais merecedor de lugar no PN? 

Bem sei que estão em causa "outros valores" nesta espécie de cruzada por Eusébio: politicamente, dá votos. 
Mas, senhores representantes das Instituições nacionais, não banalizemos os Valores e Princípios orientadores que servem de base à eleição dos que devem aceder ao Olimpo.

Manuel Frazão