quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Milagre da Dona Adelaide

Divorciada nos anos 60 de Fernando Pinto de Sousa, “viveu modestamente em Cascais como empregada doméstica, tricotando botinhas e cachecóis…”. 

Admitamos que, na sequência do divórcio ficou com o chalet (r/c e 1º andar) . Admitamos ainda, que em 1998, altura em que comprou o apartamento na Rua Braamcamp, o fez com o produto da venda da vivenda referida, feita nesse mesmo ano. Neste mesmo ano, declarou às Finanças um rendimento anual inferior a 250 €, o que pressupõe não ter qualquer pensão de valor superior,nem da Segurança Social nem da CGA. 

Entretanto morre o pai (Júlio Araújo Monteiro) que lhe deixa “uma pequena fortuna, de cujos rendimentos em parte vive hoje”. Por que neste momento, aufere do Instituto Financeiro da Segurança Social (organismo público que faz a gestão do orçamento da Segurança Social) uma pensão superior a 3.000 €, seria lícito deduzir – caso não tivesse tido outro emprego a partir dos 65 anos – que ,considerando a idade normal para a pensão de 65 anos, a mesma lhe teria sido concedida em 1996 (1931+ 65). 

Só que, por que em 1998 a dita pensão não consta dos seus rendimentos, forçoso será considerar que a partir desse mesmo ano, 1998 desempenhou um lugar que lhe acabou por garantir uma pensão de (vamos por baixo):3.000 €. 

Abstraindo a aplicação da esdrúxula forma de cálculo actual, a pensão teria sido calculada sobre os 10 melhores anos de 15 anos de contribuições,com um valor de 2% /ano e uma taxa global de pensão de 80%.  Por que a “pequena fortuna ” não conta para a pensão; por que o I.F.S.S. não funciona como entidade bancária que, paga dividendos face a investimentos ali feitos (depósitos); por que em 1998 o seu rendimento foi de 250 €; para poder usufruir em 2008 uma pensão de 3.000 €, será por que (ainda que considerando que já descontava para a Segurança Social como empregada doméstica e perfez os 15 anos para poder ter direito a pensão), durante o período (pós 1998), nos ditos melhores 10 anos, a remuneração mensal foi tal, que deu uma média de 3.750 €/mês para efeitos do cálculo da pensão final. (3.750 x 80% = 3.000).  

Ora, como uma pensão de 3.000 €, não se identifica com os “rendimentos ”provenientes da pequena fortuna do pai, a senhora tem uma pensão acrescida de outros rendimentos. Como em nenhum  dos jornais de onde foram retirados estes apontamento, o 24 Horas e o Correio da Manhã, se fala em habilitações que a senhora tenha adquirido, que lhe permitisse ultrapassar o tal serviço doméstico remunerado, parece poder depreender-se que as habilitações que tinha nos anos 60 eram as mesmas que tinha quando ocupou o tal lugar que lhe rendeu os ditos 3.750 €/mês. 

Pode-se saber qual foram as funções desempenhadas que lhe permitiram poder receber tal pensão? 

E há mais… A Dona Adelaide comprou um apartamento na Rua Braamcamp, em Lisboa, a uma sociedade off-shore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, apurou o Correio da Manhã.

Em Novembro de 1998, nove meses depois de José Sócrates se ter mudado para o terceiro andar do prédio Heron Castilho, a mãe do primeiro-ministro adquiria o quarto piso, letra E, com um valor tributável de 44 923 000 escudos – cerca de 224 mil euros –, sem recurso a qualquer empréstimo bancário e auferindo um rendimento anual declarado nas Finanças que foi inferior a 250 euros (50 contos). 

Ora vejam lá como a senhora deve ter sido poupadinha durante toda a vida. Com um rendimento anual de 50 contos, que nem dá para comprar um mínimo de alimentação mensal, ainda conseguiu juntar 224.000 euros para comprar um apartamento de luxo, não em Oeiras ou Almada, na Picheleira ou no Bairro Santos, mas no fabuloso edifício Heron, no nº40, da rua Braamcamp, a escassos metros do Marquês de Pombal e numa das mais nobres e caras zonas de Lisboa. 

Notável exemplo de vida espartana que permitiu juntar uns dinheiritos largos para comprar casa no inverno da velhice. 

Vocês lembram-se daquela ideia genial do Teixeira dos Santos, que queria que pagássemos imposto se déssemos 500 euros aos filhos? 

Quem terá ajudado, com algum cacau, para que uma cidadã, que declarou às Finanças um RENDIMENTO ANUAL de 50 contos, pudesse pagar A PRONTO, a uma sociedade OFFSHORE, os tais 224.000 euros?

sábado, 28 de setembro de 2013

Revisitando Millôr Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me. 
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!" 
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,foda-se!" 
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. 

"Comó caralho", por exemplo. 
Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? 
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas comó caralho! O Sol está quente comó caralho! O universo é antigo comó caralho! Eu gosto do meu clube comó caralho! O gajo é parvo comó caralho! Entendes? 
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!". Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. 

O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida. Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo: "Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!". 
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...) 

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: 
"Chega! Vai levar no olho do cu!"? 
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de victória e renovado amor-íntimo nos lábios. 

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!" 

Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!” 

Então: Liberdade,Igualdade,Fraternidade e foda-se!!! 
Mas não desespere: Este país … ainda vai ser “um país do caralho!” 
Atente no que lhe digo! 

Millôr Fernandes (Adaptado)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O mito do Colestrol - Cirurgião cardíaco admite enorme erro!

Nós os médicos com todos os nossos treinos, conhecimento e autoridade, muitas vezes adquirimos um ego bastante grande, que tende a tornar difícil admitirmos que estamos errados. 

Então, aqui está. Admito estar errado... Como cirurgião com uma experiência de 25 anos, tendo realizado mais de 5.000 cirurgias de coração aberto, hoje é a minha vez de corrigir o erro de muitos médicos, com este facto científico. 

Eu treinei muitos anos com outros médicos proeminentes, tidos como " opinion makers". Bombardeado com literatura científica, participando sempre em seminários de formação, com formuladores de opinião que insistiam que a doença cardíaca resulta do simples facto de haver níveis elevados de colesterol no sangue. A terapêutica aceite era a prescrição de medicamentos para baixar o colesterol e uma dieta severa restringido a ingestão de gordura. Por fim, insistindo que baixar o colesterol é baixar as doenças cardíacas. Qualquer recomendação diferente era considerada uma heresia e poderia possivelmente resultar em erros médicos. 

Ora, isto não está a funcionar! Estas recomendações não são cientificamente ou moralmente defensáveis. 

Assimilar a descoberta de há alguns anos, de que a inflamação na parede da artéria é a verdadeira causa da doença cardíaca é lenta, levando a uma mudança de paradigma na forma como as doenças cardíacas e outras doenças crónicas serão tratadas. 

As recomendações dietéticas estabelecidas há muito tempo têm criado uma epidemia de obesidade e diabetes, cujas consequências tornam pequena qualquer peste histórica, em termos de mortalidade, sofrimento humano e terríveis consequências económicas. Apesar do facto de 25% da população tomar medicamentos caros à base de estatina e apesar do facto de termos reduzido o teor de gordura da nossa dieta, vão morrer este ano mais americanos de doença cardíaca do que nunca. As estatísticas do American Heart Association, mostram que 75 milhões dos americanos sofrem, actualmente, de doenças cardíacas, 20 milhões têm diabetes e 57 milhões têm pré-diabetes. Estes transtornos estão a afectar pessoas cada vez mais jovens e em maior número todos os anos. 

Dito simplesmente: sem a presença de inflamação no corpo, não há nada que faça com que o colesterol se acumule nas paredes dos vasos sanguíneos e cause doenças cardíacas e derrames. Sem a inflamação, o colesterol movimenta-se livremente por todo o corpo como a natureza determina. É a inflamação que faz o colesterol ficar preso. A inflamação não é complicada - é simplesmente a defesa natural do corpo face a um invasor externo, tal como toxinas, bactérias ou vírus. O ciclo de inflamação é perfeito na forma como ela protege o corpo contra esses invasores virais e bacterianos. No entanto, se se expuser permanentemente o organismo à agressão por toxinas ou alimentos nocivos, os quais ele não foi projectado para processar, ocorre uma situação chamada inflamação crónica. 

A inflamação crónica é tão prejudicial quanto a inflamação aguda é benéfica. Que pessoa sensata se exporia repetida e voluntariamente a alimentos ou outras substâncias, conhecidas por causarem danos ao organismo? 

Bem, talvez os fumadores, mas pelo menos eles fizeram essa escolha conscientemente. O resto de nós simplesmente seguiu a dieta correntemente recomendada, baixa em gordura e rica em óleos poli-insaturados e hidratos de carbono, sem saber que estava causando danos repetidos aos vasos sanguíneos. Esta agressão repetida cria uma inflamação crónica que leva à doença cardíaca, diabetes, ataque cardíaco e obesidade. 

Deixem-me repetir isto. 

A lesão e a inflamação crónica nos nossos vasos sanguíneos é causada pela dieta de baixo teor de gordura recomendada durante anos pela medicina convencional. Quais são os maiores culpados da inflamação crónica? Simplesmente, a sobrecarga de carboidratos simples, altamente processados (açúcar, farinha branca e todos os produtos fabricados a partir deles) e o excesso de consumo de óleos ómega-6 (vegetais como soja, milho e girassol), que se encontram em muitos alimentos processados. 

Imaginem esfregar uma escova dura repetidamente sobre a pele macia até que ela fique muito vermelha e quase a sangrar. Façam isto várias vezes ao dia, todos os dias, durante cinco anos. Se fosse possível tolerar esta dolorosa escovagem, teríamos um sangramento, inchaço e infecção dessa área, que ficaria pior a cada agressão repetida. Esta é uma boa maneira de visualizar o processo inflamatório que pode estar a acontecer no seu corpo neste momento. Independentemente de onde ocorre o processo inflamatório, externamente ou internamente, é a mesma coisa. 

Eu olhei para dentro de milhares e milhares de artérias. Nas artérias doentes, parece que alguém pegou numa escova e esfregou repetidamente contra a parede vascular. Várias vezes por dia, todos os dias, os alimentos que comemos criam pequenas lesões resultando em mais lesões, fazendo com que o corpo responda de forma contínua e adequada, com a inflamação. Enquanto saboreamos um tentador donut, o nosso corpo responde de forma alarmante, como se chegasse um invasor estrangeiro declarando guerra. Alimentos carregados de açúcares e hidratos de carbono, simples ou processados, com óleos omega-6 para durarem mais nas prateleiras, foram a base da dieta americana durante seis décadas. Estes alimentos, lentamente, têm vindo a envenenar toda a gente. 

Como é que um simples donut cria uma cascata de inflamação fazendo-nos adoecer? Imagine que entorna melaço no seu teclado. Aí é possível visualizar o que ocorre dentro da célula. Quando consumimos hidratos de carbono simples, como o açúcar, o açúcar no sangue sobe rapidamente. Em resposta, o pâncreas segrega insulina, cuja principal finalidade é fazer com que o açúcar entre dentro da célula, onde é armazenado para energia. Se a célula estiver cheia e não precisar de glicose, o excesso é rejeitado para evitar que prejudique o trabalho. Quando as células cheias rejeitam a glicose extra, o açúcar do sangue sobe, produzindo mais insulina e a glicose converte-se em gordura armazenada. 

O que é que isto tudo tem a ver com a inflamação? 

O açúcar no sangue é controlado numa faixa muito estreita. Moléculas a mais de açúcar ligam-se a uma variedade de proteínas, que por sua vez lesam as paredes dos vasos sanguíneos. Estas repetidas lesões às paredes dos vasos sanguíneos desencadeiam a inflamação. Ao elevar o nível de açúcar no sangue várias vezes por dia, todos os dias, é exactamente como se esfregasse uma lixa no interior dos delicados vasos sanguíneos. Mesmo que não sejamos capazes de ver isto, pode ter a certeza de que está acontecendo. Eu vi, em mais de 5.000 pacientes que operei nos meus últimos 25 anos, que partilhavam um denominador comum - inflamação nas artérias. 

Voltemos ao donut. Esse apetitoso com aparência inocente, não só contém açúcares como também é frito num dos muitos óleos ómega-6, como o de soja. As batatas fritas e o peixe frito são embebidos em óleo de soja, os alimentos processados são fabricados com óleos ómega-6, para alongar a sua vida útil. Enquanto o ómega-6 é essencial - e faz parte da membrana de cada célula, controlando o que entra e sai dela – ele deve estar em equilíbrio correcto com o ómega-3. Com o desequilíbrio provocado pelo consumo excessivo de ómega-6, a membrana celular passa a produzir substâncias químicas chamadas citoquinas, que causam inflamação. Actualmente, a dieta habitual do americano tem produzido um extremo desequilíbrio dessas duas gorduras (ómega-3 e ómega-6). A relação de zonas de desequilíbrio varia de 15:1 para um valor tão alto como 30:1, a favor dos ómega-6. 

Isto representa uma quantidade tremenda de citoquinas pró-inflamatórias. 
Na alimentação actual, o ideal e saudável seria uma proporção de 3:1. 

Para piorar a situação, o excesso de peso que você transporta por comer esses alimentos cria uma sobrecarga de gordura nas células que produzem grandes quantidades de substâncias químicas pró-inflamatórias, que se somam às lesões causadas pelo açúcar elevado no sangue. O processo, que começou com um donut, transforma-se num ciclo vicioso que ao longo do tempo cria a doença cardíaca, hipertensão arterial, diabetes e, finalmente, a doença de Alzheimer, visto que o processo inflamatório continua inabalável. Não há como escapar ao facto de que, quanto mais alimentos processados e preparados industrialmente consumirmos, mais caminharemos para a inflamação, pouco a pouco, dia a dia. 

O corpo humano não consegue processar, nem foi concebido para consumir os alimentos embalados, com açúcares e ensopados em óleos ómega-6. Há apenas uma resposta para acalmar a inflamação. É voltar aos alimentos mais próximos do seu estado natural. Para construir músculos, comer mais proteínas. 

Escolha hidratos de carbono muito complexos, como frutas e vegetais coloridos. 

Reduzir ou eliminar gorduras ómega-6, causadoras de inflamação, como o óleo de milho e de soja e os alimentos processados, que são feitos a partir deles. Uma colher de sopa de óleo de milho contém 7,280 mg de ómega-6, o de soja contém 6,940 mg. Em vez disso, use azeite ou manteiga de animal alimentado com pastagem. As gorduras animais contêm menos de 20% de ómega-6 e são muito menos propensas a causar inflamação do que os óleos poli-insaturados rotulados como supostamente saudáveis. 

Esqueça a "ciência" que nos tem martelado a cabeça durante as últimas décadas. A ciência que diz que a gordura saturada, por si só, causa doença cardíaca é inexistente. A ciência que diz que a gordura saturada aumenta o colesterol no sangue também é muito fraca. Como agora sabemos que o colesterol não é a causa da doença cardíaca, a preocupação com a gordura saturada é ainda mais absurda hoje. 

A “teoria do colesterol” levou à nenhuma gordura, recomendações de baixo teor de gordura, que criaram os alimentos que agora estão causando uma epidemia de inflamação. 

A medicina tradicional cometeu um erro terrível quando aconselhou as pessoas a evitar a gordura saturada em favor de alimentos ricos em gorduras ómega-6. 

Agora, temos uma epidemia de inflamação. 

Este estudo tem sido apoiado por varias "Escolas Médicas"europeias ! 
O colesterol parece deixar de ser o "papão"- e passa a ser considerado uma rendosa criação da Industria Farmaceutica ! 

As normas alimentares aqui recomendadas estão a ter actualidade crescente ! 
Segue-as ..! 
O colesterol não é aquele inimigo que nos têm feito crer. 
Por Dr. Lundell Dwight, MD

sábado, 20 de abril de 2013

O inocente - por João César das Neves

Portugal passa por um momento terrível, mas isso não o deve impedir de admirar esteticamente uma obra de arte excepcional. Ora o regresso de José Sócrates é um espantoso feito de técnica política, do mais alto nível mundial.

A personagem é notável. Verve, atitude, táctica são excelentes. Para lá das qualidades como tribuno e estratega, aquilo que o distingue dos demais e o coloca acima da sua geração é a total ausência de escrúpulos. Não existe a menor contemplação pela realidade dos factos, interesse nacional, simples decoro pessoal. Existe apenas um projecto de poder, e tudo lhe é sacrificado. Há muitas décadas que não tínhamos um político assim, e já nos esquecemos do estilo. Por isso tanto nos admira a quase inacreditável capacidade de imaginação e manipulação com que consegue sair de uma posição que seria desesperada para qualquer outro. Além disso é terrivelmente eficaz e convence mesmo. Digno de antologia!

Apresenta-se como totalmente inocente dos males que afligem o País. Foi primeiro-ministro durante mais de seis anos mas é inimputável pelo desastre que deflagrou nos últimos meses do seu mandato. A culpa vem de uma "crise das dívidas soberanas", que lhe é naturalmente alheia. E claro também de um terrível bando de malfeitores, onde se inclui o actual Governo, bancos, União Europeia e FMI, que pretendem, por razões não esclarecidas, destruir Portugal. Ele, pelo contrário, sempre esteve do lado do progresso e alegria, que infelizmente não se concretizaram.

Não é claro se mente descaradamente ou acredita mesmo na fábula, sofrendo de delírio. Em qualquer caso, todos os dados apontam para o facto de José Sócrates ser, não imoral, mas completamente amoral. Não se lhe parecem colocar quaisquer remorsos de consciência. Por isso é tão convincente. A nossa actual democracia nunca teve, em posições cimeiras, pessoas deste calibre. Assim Sócrates destaca-se flagrantemente.

É preciso dizer que ele ainda não atingiu os níveis do contemporâneo mestre absoluto da técnica, Silvio Berlusconi. Nem sequer é evidente que o português alguma vez consiga os feitos do italiano. No entanto, cabe-lhe um honroso segundo lugar. Esta atribuição não é forçada porque a relação entre ambos é evidente. Tirando eles, todos os líderes que estavam no poder quando bateu a crise, alguns deles de reconhecidas qualidades, caíram fragorosamente: Geir Haarde na Islândia, Kostas Karamanlis e George Papandreou na Grécia, José Luis Zapatero em Espanha, Brian Cowen na Irlanda, Yves Leterme na Bélgica, Nicolas Sarkozy em França, Gordon Brown no Reino Unido, George Bush nos EUA, etc. Todos forçados a sair de cena sem remissão. Deles, apenas Berlusconi e Sócrates mantêm esperanças de regresso, estando bastante avançados no processo. O estilo de ambos, apesar das diferenças, tem paralelos evidentes. Mas temos de admitir que o magnata transalpino, que saiu depois e regressou mais cedo do que o nosso engenheiro, tem evidente primazia.

Admirando o engenho e a arte, não podemos esquecer o muito que eles devem aos tempos que vivemos. É preciso recuar às primeiras décadas do século passado para encontrar casos semelhantes, porque nessa altura o mundo enfrentava dilemas e conflitos próximos dos actuais. O rancor das acusações, o ressurgimento da retórica antidemocrática, os contínuos apelos à Grande Depressão aproximam as duas épocas. Talvez tenhamos aprendido a evitar o pior dessa evolução, mas não admira o ressurjimento do mesmo tipo de animais políticos.

A única coisa que pode fazer a diferença é a capacidade dos eleitorados em resistir ao engano. O caso italiano assusta muito, porque repete traços da antiga trajectória, embora com diferenças significativas e ainda sem Mussolinis no horizonte. Portugal começou agora o seu processo. Veremos até que ponto a raiva pelos sacrifícios, junto com o ilusionismo, conseguirão fazer que o grande beneficiário da crise venha a ser aquele que indiscutivelmente foi o seu principal responsável. Isso seria uma obra de arte incomparável.
 
In DN 

Belmiro de Azevedo, o comunista disfarçado

O texto abaixo relata de como um simples agente técnico no Banco Pinto de Magalhães se torna um dos homens mais ricos de Portugal. A maioria das pessoas pensa que a fortuna de Belmiro de Azevedo veio de heranças ou coisa no género.

Segundo o relato Belmiro de Azevedo fora militante da UDP (União Democratica Popular)  e e era uma especie de coordenador da CT (comissão de trabalhadores) que controlava o banco.

Foi assim que muitos espertalhões no calor do verão quente de 74/75 se tornaram donos e senhores de muitas empresas sem mexerem uma palha e enquanto os trabalhadores andavam na luta nas ruas a defender os seus direitos, os mesmos manobravam na sombra e por isso é que o 25 de Abril que foi uma esperança para o povo e para os trabalhadores deu no que deu e chegamos ao último reduto dos tesos.

Quando, em 14 de Março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves nacionalizou a banca com o apoio de todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP), todo o património dos bancos passou a propriedade pública. 

O Banco Pinto de Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termolaminados, material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na construção civil. 

Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois. Belmiro de Azevedo trabalhava lá como agente técnico (agora engenheiro técnico) e, nessa altura, vogava nas águas da UDP. 

Em plenário, pôs os trabalhadores em greve com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia CTs na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para a situação política delicada e para a necessidade de se garantir o fornecimento dos termolaminados às actividades produtoras. 

Eram recebidas por Belmiro que se intitulava “chefe da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as acções da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada um.
 
É fácil imaginar o panorama. 

A bolsa estava encerrada e o pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer para forrar as paredes de casa… Meses depois, aparece um salvador na figura do chefe da CT que se dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis.
 
Assim se torna Belmiro de Azevedo dono da SONAE. 

E leva a mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias…
 
Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto, tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. 

Vasco Gonçalves não tinha ideia desta decisão do seu governo, mas não a refutou, claro. 

Com o salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social noticiou a minha intervenção.
 
Este relato foi-me feito por colegas do então BPM entre eles um membro da comissão sindical (Manuel Pires Duque) que por várias vezes se deslocou na altura à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os jornais e, salvo o já extinto “Tal & Qual”, nenhum o publicou…

Gaspar Martins, bancário reformado, ex-deputado

terça-feira, 19 de março de 2013

Há Mais Africanos Hoje na Europa do que Europeus em África, Porquê?!

Há dias a caminho do Hojy-yá-Henda, a bordo (como habitual) de um dos machimbombos da TCUL Viana vila – Cuca, (privilegio este meio de transporte por ser o mais barato e acessível aos pobres para rotas longas, mau grado a ‘sardinhada e a catingada’), um dos vários azulinhos que ‘palmilham’ as nossas estradas, os nossos emblemáticos táxis colectivos, chamou a atenção do público, exibindo no seu ‘traseiro’ o seguinte dístico; 

DEUS È BRANCO, MULATO É ANJO, PRETO È DIABO. 

Tal dístico é obvio levantou as mais diversas celeumas entre os passageiros do machimbombo e creio entre todos os ‘observadores’ e transeuntes por onde o dito azulinho (mini mbombó) ‘rasgava’ o seu ‘popó-show’.

Raciocinei com os meus botões e os meus botões comigo, as causas que levaram o proprietário do ‘popó’ ou do ‘chauffeur de praça’ a mencionar e exibir tal ‘desgraçado ou ditoso (?!)‘ rótulo. Na busca mental das ‘causas’, não pude deixar de comparar o modo de vida de hoje e o da administração colonial, quando o País e a grossa maioria dos países do continente Africano, era administrado por indivíduos maioritariamente de raça branca, provenientes da Europa, “os tais colonos”, poderia Africa ser comparada a um paraíso? A quem diga que sim, e eu não discordo dele!
“Colonialismo caiu na lama!” Lembram-se deste célebre estribilho 1974-1977?

A JOÌA COLONIAL
Angola, era mundialmente conhecida como a Joia do império Português e exibia majestosa, todos os pergaminhos de tal título, o Quénia a par da Africa do Sul, a joia Africana do império Britânico, Algéria a joia Africana do império Francês e o antigo Congo-Belga a joia do mini-imperio Belga. 
Tais países Africanos – no contexto do outrora – prosperavam a olhos vistos (a maioria deles encontravam-se ainda na idade da pedra), as respectiva comunidades autóctone idem em aspas, os índices de desenvolvimento humano dos autóctones inegavelmente estavam lenta e seguramente subindo, as obras dos colonialistas ainda perduram pela Africa adentro. 

Verdade seja dita, o esclavagismo e as guerras de “kwata-kwata” fizeram irremediáveis estragos em África. Mas também não é menos verdade, que a falta de unidade, ambição, irresponsável individualismo e a sempre necessidade de estupida e insanamente guerrearem, fazerem verter sangue(entre nós Africanos), tornaram bem-vinda “la pax romana” isto é promulgado a força do chicote e da bala, pelos Europeus. 

As então, gerações de jovens africanos instruídos (pelas respectivas franjas ou instituições da administração colonial) organizaram-se politicamente e fizeram soar a acusação de que os Europeus estavam a sugar as riquezas do solo pátrio em benefício exclusivo das nações colonizadoras, desconsiderando totalmente os interesses dos nativos e das colonias, transformando os autóctones em miseráveis na sua própria terra; “eles vieram com a Bíblia, nós tínhamos as terras, no fim eles ficaram com as terras e nós com a Bíblia” disse Robert Mugabe, nacionalista e guia da libertação do Zimbabwe. Organizaram-se contra o invasor, protestos, revoltas, guerras, chacinas, a história regista que o movimento e actuação dos ‘mau-mau’ liderado pelo indomável Jomo Keniata, foi um dos mais cruéis de Africa e o que chamou a atenção da comunidade internacional, para a necessidade da urgente descolonização de Africa. Claro a violência gera violência, os resultados hoje fazem parte da história. 

A resposta colonial á violência nacionalista africana, sempre foi comedida, por exemplo, se a força policial Portuguesa no 4 de Fevereiro e posteriormente no 12 de Março de 1961, respondesse com o mesmo demonismo com que o MPLA ‘respondeu’ ao chamado Fraccionismo do 27 de Maio 1977, muitos dos actuais dirigentes, não existiriam, e provavelmente não haveria movimentos de libertação, durante muito tempo.

O ÊXODO
Passado cerca de meio seculo, que a maioria dos países Africanos ‘arrancaram’ na ponta da espingarda a independência das potências colonizadoras (seguindo a lição do camarada Mao Tsé-Tung), se fizermos o balanço, quais foram os ganhos que os respectivos países e povos obtiveram, poucos são os Países Africanos que diremos, saíram indiscutivelmente a ganhar.

“Quando é que a independência afinal vai acabar?”- Indagou desesperado/desapontado um septuagenário angolano nos idos anos 78-80, fatigaderrimo da guerra estupida, de tanta crueldade e injustiça praticada pelos seus patrícios (do regime e da oposição), denominados de nacionalistas de primeira água. Poderia Africa ser hoje comparada ao Inferno ou ao Purgatório?

Qualquer um deles serve, Paraíso; NUNCA.

Pouquíssimos países Africanos (menos do que os dedos de uma mão) podem aproximarem-se a tal eleição. “HOJE até a Bíblia tiraram-nos, e as terras continuam a não pertencer ao povo” – sintetizou Morgan Tchavingirai, descrevendo a desgraçada e extrema penúria do povo zimbabweano, respondendo ao guia imortal ainda vivo, que diz ter ressuscitado mais vezes que o próprio Jesus Cristo. Zimbabwe no período citado por Bob Mugabe, era o celeiro de África, o povo era detentor de um dos mais elevados IDH do continente.

Por exemplo em Angola. Por vezes quando nas datas históricas, oiço e vejo pela TV, indivíduos a mencionarem o que o ‘colono nos faziam’, sinceramente não sei se, choro de raiva ou se me mato de ‘risada’, “porque o colono fazia…blá-blá-blá” – dizem eles – hoje faz-se o pior. O colono se fez, quase que o desculpo, é ou foi colono, é branco não é meu irmão de raça, etc., agora quando o meu irmão Angolano, preto como eu, (ex-companheiro da miséria e das ruas da amargura) faz o que viva e denodadamente repudiávamos do colono, esta ultima ação dói muitíssimo mais do que a ação anterior, dilacera e mutila impiedosamente a alma.

Por isso, logo após as independências Africanas, verificou-se o segundo êxodo – o primeiro foi dos brancos a abandonarem África – milhões de Africanos, abandonaram com angústia na alma e os olhos arrebitados de descrença a Africa, a maioria arriscando literalmente as suas vidas (o filme continua até aos nossos dias), seguindo os outrora colonos, porque chegaram a conclusão que afinal não é verdade o que apregoa o político Africano; “eles prometeram-nos o paraíso e dão-nos o inferno a dobrar” disse um jovem africano em Lisboa nos anos 78-80 num programa da RTP.


A JUSTIÇA EUROPEIA
Os Europeus, muitos deles depois de chacinados em Africa pelas revoltas africanas, de regresso aos respectivos países embora destroçados de dor e amargura, receberam de braços abertos muitos dos antigos carrascos, dando-lhes um lar e emprego decente e uma vida digna, que jamais tiveram nos países de origem; Paz e sossego duradouro. O contrario era possível?… Se ainda hoje 37 anos depois do fim da colonização, os dirigentes Angolanos (por exemplo) ainda desculpam-se na presença colonial Portuguesa em Angola, para justificar a Pobreza e outros pesares que “estamos com ele” eles não são, nunca serão culpados,mas o colono (37 anos depois), SIM, estou seguro que, quando Angola festejar o 50º aniversário, os dirigentes Angolanos, ainda estarão a rogar pragas ao colono Português.

HOJE ouvimos falar de relatos arrepiantes de governação de ‘preto-para-preto’em muitos países africanos;Incompetência criminosa, bajulação estupida como doutrina, ganância e egoísmo exacerbado (primeiro eu – sempre),mentira como regra, assassinatos indiscriminados, prisões em massa, inexistência de liberdade de expressão – a ‘Bíblia’ citado pelo Morgan Tchavingirai. – (inclusive, gritar; “estou com fome” é crime passível de perder a vida. Kamulingue e Kassule, são a prova viva do facto), vida miserável, falta de empregos, corrupção endémica, justiça injusta e totalmente parcial, cadeias (horrorosamente infernais) a abarrotar de jovens provenientes das classes desfavorecidas, hospitais que mais parecem hospícios, escolas que mais parecem pocilgas etc. etc.
O paradoxo, é, se HOJE em África, usufruímos de um bocadinho de liberdade com sabor a vida, é precisamente graças aos Europeus, isto é aos brancos, que desenvolveram uma nova ordem de conduta internacional e instituições internacionais que vigiam sobre o globo incluindo obviamente Africa.

As sanções internacionais e outras medidas de contenção paira sobre os dirigentes Africanos, e então, estes por sua vez, fingem praticar a democracia, não porque eles gostam da democracia,porque temem o “deus branco e o seu braço punitivo”. Porque se dependêssemos totalmente dos governos de “preto-para-preto” seguramente, não seria possível viver, na vasta maioria dos países Africanos. O protótipo Africano da UE (União Europeia) a chamada UA (União Africana) é uma mentira descabida, a UA é uma instituição falida, decrépita, débil e‘estaladiça’ (como a bolacha ‘chinesa’ de água e sal) que ninguém leva a sério, uns poucos países africanos esforçam-se por dar credibilidade a UA e ao continente, houve até quem propusesse a seguinte designação DUA (DesUnião Africana), por exemplo quando teremos um Tribunal Internacional Africano? Se os tribunais da maioria dos Países membros é do “faz de conta”, os Africanos instituíram também uma espécie risível de Parlamento Africano, que ações pratica tal PA já desenvolveu em beneficio dos Africanos?

A UA é um club de “compadres” velhacos ditadores, egoístas que sonham com Paris, Londres, Estocolmo etc, ao mesmo tempo que transformam os respectivos países em autênticos ‘buracos negros’. As independências em Africa foram ‘feitas’ para algumas centenas de indivíduos africanos, em detrimento de centenas de milhões, cada vez mais miseráveis. Nunca a Europa ‘recebeu’ tanta riqueza de Africa como após a chamada “independência dos Países Africanos”, os novos-ricos africanos, apressam-se a ‘esconderem’ os produtos da sua criminosa delapidação na Europa para o gaudio dos Europeus, contrariando aquilo que eles próprios evocaram e prescreveram na convocação para a luta de libertação nacional.

“Eu ir a Portugal algum dia?.. NUNCA!.. Nem morto!”.- (1980 na idade de ouro do partido único) Disse, erguendo o punho direito bem alto em sinal de sacro-juramento, em pleno comício em Benguela, um dos então carismáticos dirigentes da “Revolução Angolana” que prescindo de citar o nome, hoje ele próprio, não só é frequentador assíduo e brioso de Portugal e “empresário português” como também é o orgulhoso presidente de uma agremiação desportiva portuguesa em Angola. Quase meio século depois, podemos dizer que o IDH dos povos africanos subiu ou regrediu? Somos melhores tratados hoje pelos nossos irmãos dirigentes? Os ideais que nortearam a luta de libertação colonial ainda estão vivos e recomendam-se? Muitos dos nossos jovens usam orgulhosamente tecnologia de ponta os ipod, ‘aichatissa’ e ‘aipad’ fazem a banga da juventude, mas o meio que lhes rodeia é nauseabundo e desolador. O Stress agudo e o AVC matam tanto quanto a malária.

FILANTROPOS DA HUMANIDADE
A mais recente iniciativa de alguns dos milionários do planeta, comoveu muita gente. Há algum Africano entre os homens que protagonizaram tal feliz iniciativa? Todos eles (os citados filantropos) são homens que dedicaram a maior parte da sua vida na produção de riqueza, não o ‘tiraram’ de algum saco azul, nem tão pouco delapidaram o erário público nacional, mas, sentiram-se na necessidade de “repartir com o necessitado” de todo o mundo. Ontem, os milionários Africanos orgulhavam-se de ‘aparecerem’ na revista forbes e congéneres, hoje face a iniciativa acima mencionada, publicam como que envergonhados; “não somos milionários” chegam ao ponto alguns de dizerem que o que têm é produto do salário.

AFRICA DO SUL
Fiquei arrepiado com as imagens da actuação da polícia Sul-Africana em Dobsonville (será esta a cidade?!) que vitimou o jovem moçambicano Mido Macia (MM), na flor da sua juventude (27 anos). Imagens próprias de uma ‘cena’ do Faroeste no seculo XIX ou da era do Drácula no país da Draculândia. Quando vivi na Africa do Sul, tinha um medo atroz e justificado da polícia Sul-africana, principalmente dos pretos. A maioria do polícia Sul-africano preto chega a ser muito mais impiedoso e selvático que o mais impiedoso policia Sul-Africano branco. O polícia preto (na sua maioria) é absolutamente xenófobo, perverso, contra a lei, corrupto e desalmado.O policia branco, estou certo não faria tal coisa, e muito menos os tais policiais pretos fariam isso se MM fosse branco.

A xenofobia na Africa do Sul, é extremamente incentivada e alimentada pela polícia Sul-africana e é planificada nas esquadras de polícia, um dia hei-de descrever as minhas experiencias com a corporação policial daquele País, que apesar dos pesares amo muito sinceramente. Fizeram certamente Nelson Mandela, banhar-se em lágrimas. O único Preto que chegou aos patamares dos ‘deuses’.

AFINAL QUEM CAIU NA LAMA?
Há em algum país da Europa, a amálgama descriminada e promiscua, esgoto a céu aberto, suja e podre de ‘bairros’ que vimos e vemos principalmente nas periferias das capitais Africanas (quase todas elas) principalmente dos chamados; País Especial. Os dirigentes Africanos, nem conseguem combater eficazmente o mosquito, causa do paludismo e malária que dizima á meio século, diariamente milhares de almas (principalmente crianças) pelo continente adentro, as doenças diarreicas (produto da falta de sanidade básica) faz de igual modo uma ‘ceifa’ aterradora.

Doenças que o colono quase já tinha debelado como a mosca do sono, ameaçam ‘engolir’ povos inteiros. Tudo isso acontece perante a pecaminosa insensibilidade de um grupinho de “iluminados africanos” (abençoados pelas igrejas) que preferem comprarem castelos de milhões de Euros na Europa e em orgias depravadas (preferem dar de comer os cães), do que ajudar os seus irmãos, que não lhes pede mais do que apenas:

BOA GOVERNAÇÃO…
Gerirem o erário público para o bem de TODOS e da nação. E há quem tem o desplante de vir a público protagonizar uma perversa peça teatral, choramingando; “O colono blá-blá-blá”. Quanto ao anjo, prefiro não comentar. Deus é Branco?.. Até posso aceitar, porem de uma coisa estou certo, preto, é que não é de certeza ABSOLUTA!

Isomar Pedro Gomes, (Artigo publicado aqui)

segunda-feira, 18 de março de 2013

O Testamento Vital

José Sócrates não foi a causa da nossa desgraça. 

Pelo contrário, José Sócrates foi o resultado, o produto final, gerado por um sistema político e educativo ineficiente, iníquo e corrompido. O nosso problema é estrutural e tem a ver sobretudo com a forma como nos organizámos. 

Como todos sabemos, o novo regime privilegiou sempre o amiguismo e o compadrio ao mérito que, durante muitos anos, identificou com o antigo regime. Pessoa competente e séria era, inevitavelmente, apelidada de fascista. As escolas, recorde-se, onde se formaram estas gerações, foram tomadas de assalto pelos alunos mais medíocres que expulsaram os bons professores e os substituíram por alunos com o 5º e o 7º ano de liceus cujo único objectivo era nivelar tudo por baixo. 

Ainda hoje o nosso ensino privilegia os piores alunos e sacrifica os melhores, sentindo-se subjacente em todo o sistema de ensino público um desprezo incontido pelos alunos mais brilhantes e mais inteligentes. E é precisamente a gente que nasceu e cresceu neste caldo de cultura que ainda hoje domina os sindicatos de professores e o sistema político.Ou seja, todos os poderes decisórios estão hoje na mão de gente medíocre e comprometida com quem lá os colocou. 

Tal como num clube desportivo, ninguém pode esperar bons resultados quando se colocam a jogar os afilhados e se sacrificam os bons jogadores. E, no nosso país, nos últimos quarenta anos, só têm jogado os afilhados que, por sua vez, se empenham na eleição de equipas técnicas pouco qualificadas mas que lhes garantem o lugar na equipa. 

Está tudo viciado. 

É assim nas câmaras, nas direcções-gerais, nos serviços públicos, nas empresas públicas, nos partidos políticos, nas forças de autoridade, nos tribunais, nos órgãos de comunicação social, nas escolas, nas universidades…

Este regime é um doente onde o tumor maligno da corrupção, do compadrio, da incompetência e da mediocridade se espalhou e ganhou metástases em todos os órgãos. E um doente assim não tem qualquer hipótese de cura.

Aliás, neste momento, a nossa vida é puramente artificial e deve-se exclusivamente ao ventilador da troika. Mas esta situação não se pode manter eternamente. Toda agente sabe que o doente não vai conseguir sair do estado vegetativo em que caiu. As medidas do Governo visam apenas convencer a troika a manter o ventilador ligado por mais algum tempo. 

Mas o doente, em boa verdade, já está morto. Só falta mesmo dar a ordem para desligar a máquina.

Artigo de Santana-Maia Leonardo, em "Cartas à Directora", no Público de hoje.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Marx e a Vanessa

Como é sabido, o marxismo conjura um enredo linear em que, no fim da história, a classe operária derrota a burguesia e instala a sociedade sem classes. 

Noutras escatologias semelhantes, S. Jorge mata o Dragão, o Messias julgará os vivos e os mortos, o Mhadi aterrará em Teerão, etc, etc.

Tudo se joga num final cataclísmico que acabará com o mal e trará a felicidade eterna. 

No capítulo 32 de Das Kapital, Marx prevê um gigantesco ajuste de contas com o capitalismo, muito parecido com o juízo final do cristianismo e com a morte de Brunilde e Siegfried e o cataclismo da Valhalla (no Anel dos Nibelungos, de Wagner). Acontecimentos redentores que libertarão por fim os bons de mefistofélicos pactos faustianos com o dinheiro e o ouro, em Marx, Jesus e no Anel dos Nibelungos. 

Mesmo aqueles que não leram Marx, por vezes imaginam também um mundo onde omniscientes e angélicos planeadores abolem a miséria, deixando intactas a liberdade e o individualismo, pondo toda a gente a tocar harpa, a cheirar a tomilho e a comer bife de lombo todos os dias.

Esta necessidade de acreditar, parece pois ser universal. Se não é nos Deuses propriamente ditos, é no Professor Chibanga, no Engenheiro Sócrates, no Passos, no D. Sebastião, no Santo Obama, no Tio Adolfo, no Karl Marx, etc, etc.

Quanto a este último, o busílis da questão é que a classe operária nunca esteve à altura da sua missão histórica. Os "operários avançados" de que falava Trostky, baldaram-se à chamada. O bom do Lenine, coçando a cabeça e perguntando "Que Fazer?", chegou à conclusão de que havia que organizar uma vanguarda activa (o Partido Comunista) que representasse e espicaçasse estes malandros.

Devo dizer-vos que compreendo perfeitamente o Senhor Vladimir. 

Ainda há dias estive a beber uma imperial e a comer uns tremoços com um amigo da classe operária e o tipo, além de nunca ter ouvido falar na ditadura do proletariado, nem na sua missão histórica, apresentou-me os seguintes projectos (pouco) revolucionários: 

-Arranjar bilhetes para o Benfica-Bordéus; 
-Conseguir endrominar a Vanessa que, por acaso, é bem jeitosa; 
-Trocar os pneus ao carro. (os da frente estão completamente carecas); 
-Beber mais uma imperial. (já íamos na 3ª); 
-Apanhar uma carraspana das antigas na despedida de solteiro do Quim. 

Ora com gente desta, gente com uma desavergonhada tendência para a burguesice e para a rebaixolice, gente que prefere aconchegar o fofo à Vanessa em vez de lutar firmemente contra as mais valias e o Grande Capital financeiro, especulador e neoliberal, não há Revolução que avance.

Por: José António Rodrigues Carmo

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Será o capitalismo responsável pelas nossas agruras?

Há 150 anos, o Tio Marx disse que vinha já aí a famosa crise final do capitalismo. 

Não veio, mas isto é como a História do Messias: os crentes estão sempre a ver sinais da quebra do 7º selo.
 
Eles andam aí outra vez, esgazeados como há 100 anos, berrando os mesmos slogans apocalípticos e acusando o capitalismo, esse Demónio, de todos os males. Estamos numa crise e como sempre, a culpa é do Belzebu, perdão, do capitalismo, que agora já não é só capitalismo mas ganhou adjectivos cataclísmicos como "selvagem", "neoliberal", "ultraliberal", etc.
 
Será o capitalismo responsável pelas nossas agruras?

Se nos sentarmos e pararmos de berrar os versículos da tontice, facilmente percebemos que o capitalismo é, até à data, em toda a história da humanidade, o melhor sistema que inventámos para criar riqueza, bens e serviços.

Não é bom nem mau, assenta apenas na liberdade que nos dá de fazer as nossas própria escolhas, sejam elas certas ou erradas. Uns escolhem bem, outros escolhem mal mas, como a realidade comprova, num mundo racional a maioria das pessoas faz as escolhas certas para a sua vida.

Então porque chegámos aqui? Porque andam todos estes tontos a declamar um vademecum que já estava enterrado no baú dos tesourinhos deprimentes?

Porque o Estado distorceu o mercado.

1- A inundação do crédito barato, sob a batuta da Reserva Federal americana, no rescaldo do crash das dot.com.

2-A decisão política da Administração Clinton de, através das agências Fanny Mae e Freddie Mac, conceder triliões de dólares de crédito de risco, garantidos por hipotecas sem valor. A ideia de Clinton era garantir que todos os americanos pudesse ser proprietários da sua casas, mesmo que não pudessem pagar por elas.

Estas hipotecas incentivadas pelo governo federal e, por isso, tacitamente aceites como garantidas por ele, serviram de base à criação de imensos derivados, vendidos e revendidos numa pura lógica de mercado. É assim que funciona o capitalismo...constrói bens a partir dos materiais que tem à disposição e foi o governo que lhe colocou na mesa os materiais adulterados.

Mas deve condenar-se o cabrito por comer a relva, ou quem lha pôs ao alcance? Devem condenar-se os indivíduos que aproveitaram as oportunidades, ou o estado que lhas colocou à frente e que, praticamente, lhas enfiou pela garganta abaixo?

3- E cá, a imensa dívida do estado e a nacionalização de bancos falidos.

Mas a esquerda anti-capitalista está-se nas tintas para estes factos inegáveis e profusamente referenciados, principalmente porque odeia o lucro. Este ódio busca raízes na ideia marxista de que o lucro é, por definição, o resultado da exploração do homem pelo homem. É, portanto, um pecado mortal que merece condenação e ódio.

Quando estes indignados protestam contra o capitalismo, estão a errar o alvo por muitas milhas. Os monopólios, os corporativismos, os negócios patrocinados pelos favores políticos, são a antítese do capitalismo. Onde há monopólios não há competição e, por sistema, os preços sobem, os salários baixam e os bens e serviços perdem qualidade.

Muitos destes indignados são indivíduos genuinamente preocupados com o seu futuro e nem se apercebem que estão apenas a servir de testas de ferro e figurantes de activistas profissionais, movidos pelo puro ódio ideológico ao capitalismo. 

Nas universidades, tomadas de assalto pelos intelectuais orgânicos inspirados por Gramsci, estes jovens são endoutrinados nas velhas noções marxistas da luta de classes, amalgamadas no niilismo da pós-modernidade. Incapazes de perceber como funciona o sistema em que vivem, são facilmente manipulados pelas raposas velhas do activismo esquerdista, de resto bem financiadas, por dinheiros milionários apostados na destruição do sistema que os gerou. 

O caso de Soros é conhecido e está por detrás de centenas de organizações apostadas na implementação do socialismo, desde ONG's a estações de rádio e televisão.

Os problemas que esta gente pode criar não irão destruir o capitalismo, nem trazer novamente o desacreditado socialismo. Apenas criar caos, desordem, destruição e pobreza.

Por: José António Rodrigues Carmo, na sua página do Facebook.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A propósito das declarações de D. José Policarpo

Ouvi hoje o emérito cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, que já nos habituou aos seus comentários ultramontanos e dum reaccionarismo para lá dos limites, proferir, no que concerne à nomeação/eleição do futuro nóvel papa, que o único critério a ter em consideração teria de ser o factor etário, ou seja mais ou menos o mesmo que dizer que o futuro papa terá de conseguir fazer os 100 mts em menos de 15 segundos. 

Por aqui tudo bem, que o futuro papa tenha uma perspectiva de longos anos de papado, sempre será menos despesa em rituais e fumaças, mais ou menos brancas. 

O que é inqualificável é que o dito D. José, ao pretender dar uma de grande abertura "democrática" diz que o próximo papa até "preto" podia ser. 

Já agora, convém lembrar que entre os mais de 100 cardeais "papáveis" (que engraçada é esta palavra), há por lá tambem seguramente "chinocas", "monhés" e mais uns quantos de outras etnias, ou até provenientes de processos de miscegenação, bem vindos, que só amenizam e trazem açucar a esta humanidade, normalmente dividida entre brancos e pretos. 

A gravidade de tudo isto é o branqueamento de séculos de colonização e exploração desenfreada dos povos africanos, que naturalmente ainda estão longe de conseguir cicatrizar esses anos de humilhação, e para quem a palavra "preto" tem uma enorme carga racista e lhes reabre feridas de indignação que, justamente lhes recorda o passado colonial. 

 Desconhecer esta susceptibilidade e desconforto provocada desnecessáriamente às pessoas de raça negra, e aos católicos africanos, em particular, revela uma imensa insensibilidade social. Já há dias, e pelas mesmas razões, desagradou-me a alusão feita por Arménio Carlos, ao representante "escurinho" da troica e por isso o verberei em comentário que então fiz. 

Agora, por maioria de razão, porque vindo do mais alto representante da igreja católica em Portugal, a utilização desta designação é altamente condenável, pois refecte uma prova de enorme desrespeito e desprezo pelas outras culturas e etnias. 

Num país em que o primeiro ministro se refere à guerra colonial, como guerra do ultramar, só faltava mesmo esta "eloquência" do cardeal de chamar pretos aos negros. 

Por João Ribeiro

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Socialismo, morreu...

"Socialismo" é uma palavra bonita e estamos tão agarrados à ideia da bondade das intenções do socialismo que mesmo aqueles que com ele recusam qualquer identificação não conseguem deixar de lhe prestar um tributo ético.

O socialismo morreu no fim do século XX e esta morte fez desaparecer do horizonte político da nossa civilização provavelmente a única alternativa real, estruturada e com raízes nos valores judaico-cristãos, ao capitalismo liberal.

E porque o capitalismo (tal como todos os sistemas) continua a alimentar a rejeição e a insatisfação de vastos sectores das próprias sociedades que enformou, sem o socialismo, a contestação interna anti-capitalista resume-se a variações demagógicas sobre a tirania e a barbárie, vontades ad-hoc que se esgotam no próprio acto de contestar. Custa-me dizê-lo, mas por vezes sinto pena que o socialismo (que partilha alguns valores essenciais com o liberalismo), não esteja já aí para federar a contestação, função que sempre cumpriu bem.

É verdade que muita gente continua a reclamar-se socialista, partidos e regimes socialistas é o que não falta por aí mas a essência do ideal socialista, essa é bastante vaga e não pode deixar de o ser, face às tenebrosas realidades que gerou no século passado e que acabaram por lhe selar o caixão. Existe também um núcleo duro de fiéis que afirmam que não se pode julgar o socialismo pelas suas realizações. Para estes, Cuba, URSS, RDA, Líbia, Iraque, Venezuela, não eram/são verdadeiramente socialistas, nem as políticas seguidas pelos partidos socialistas são verdadeiramente socialistas (o nosso PCP chama-lhes sempre “politicas de direita”).

Esta argumentação não é séria. O socialismo é aquilo que faz, e o lamento dos crentes, de que o verdadeiro socialismo nunca foi realizado, é uma falácia obstinada que poderá ser invocada por qualquer ideologia falhada. Por exemplo, os fascistas podem dizer que Mussolini não realizou o “verdadeiro fascismo” e os apaziguadores do Islamismo que o islão violento e intolerante não é o “verdadeiro islão”.

A relação do socialismo com a realidade parece ser como a do potássio com a água: ao mínimo contacto volatiliza-se, o que suscita a questão de saber o que há então no ideal socialista que o torne tão incompatível com a realidade quando parecia aos seus defensores um sistema racional, que expunha os defeitos óbvios da sociedade capitalista.

O primeiro socialismo era utópico, como Marx lhe chamou. Insatisfeito com a modernidade, essa insatisfação era basicamente uma versão secular da crítica católica a um mundo cada vez mais surdo ao seu discurso. Saint-Simon acreditava até ser uma espécie de Messias que trazia a revelação final.
A sua principal crítica era a de que a liberdade não é o mais importante porque uma sociedade fundada apenas nos direitos individuais não tem lugar para certas virtudes que devem caracterizar uma comunidade política, nomeadamente um núcleo moral comum e uma ideia do que deve ser uma vida “boa”. 

Na verdade a sociedade capitalista descrita por Adam Smith e outros, de certo modo negligenciava essas virtudes, remetendo-as para a esfera privada. Fazia-o, não porque as considerasse desnecessárias, mas porque tinha como assumido e inabalável o acervo moral judaico-cristão. O indivíduo era “formatado” nesses valores e, mesmo que rejeitasse a crença religiosa, os valores estavam lá, já faziam parte dele. O capitalismo respirou nesta e desta atmosfera moral que, contudo, se foi desgastando face à emergência de conceitos relativistas e niilistas, de certa forma gerados no e pelo próprio espírito do capitalismo.

O socialismo cativou tanta gente inteligente e bem intencionada, porque foi um esforço moderno para resistir à corrupção ética da própria modernidade. É, por isso, uma religião secular, conceito de resto assumido como necessário pelos próprios “saint-simonianos”. Contém um núcleo religioso, um conjunto de princípios de “mal” e “bem”, no qual são endoutrinados os fiéis. A experiência israelita do kibbutz é, por isso, extraordinariamente similar à pequena comunidade religiosa, uma comunidade socialista que funciona, mas apenas na medida em que as pessoas aderem ao núcleo de valores, a comunidade se mantém suficientemente pequena para evitar a divisão do trabalho e as classes sociais que isso implicaria, e manifeste alguma indiferença para com os bens materiais não essenciais, sem a qual não existiria igualdade.

Os socialistas utópicos esperavam abolir a pobreza, mas visavam padrões modestos, típicos de uma comunidade Amish, por exemplo, porque a exaltação de apetites individuais que fossem para além disso, necessariamente criariam tensões no seio da comunidade, como de facto aconteceu nos kibbutz. A comunidade socialista deveria também produzir um tipo de indivíduo socialista, um homo novus que estivesse acima do materialismo e da vulgaridade dos apetites burgueses, típica do indivíduo capitalista.

Contudo o tipo de socialismo que varreu a história não foi este, mas sim o “socialismo científico” de Marx e seus discípulos, que alimentou a ambição, muito mais vasta, de transformar rapidamente toda a sociedade. O seu ímpeto moral era também decorrente da luta contra a modernidade mas acabou, nas suas várias vertentes (comunismo, social-democracia, etc.,) por fazer caminhos muito diferentes.

Todas as variantes do socialismo científico acreditavam em políticas manipuladoras e dirigistas que, pela acção governativa de uma elite iluminada, sobre as populações ignorantes ou alienadas, criariam a comunidade virtuosa. Mas, ao contrário do seu antecessor utópico, o socialismo científico criticava o capitalismo por este ser incapaz de produzir a abundância que a tecnologia possibilitava e, em vez de uma igualdade assente na escassez, trombeteava a igualdade na abundância. Não é por isso de admirar que tenha atraído imediatamente todos aqueles que se sentiam frustrados por aquilo que o sistema capitalista lhes dava. As massas não queriam uma vida virtuosa e modesta, mas sim ter tudo aquilo a que se julgavam com direito.

O socialismo científico cristalizou em duas correntes que chegaram ao poder no séc. XX: uma que entendia que a comunidade socialista devia manter o sistema liberal de democracia parlamentar e outra que considerava isso indesejável.

O socialismo totalitário, falhou rotundamente. O planeamento centralizado foi incapaz de lidar com a complexidade da realidade moderna e da natureza humana. É certo que foram realizadas grandes obras e projectos, mas não há nisso nada que se possa creditar ao socialismo. A História está cheia de grandes realizações levadas a cabo por poderes autocráticos, desde as Pirâmides, à Grande Muralha da China. Naquilo que interessava ou seja, criar uma sociedade de abundância para todos, este socialismo falhou em toda a linha e revelou-se mais “utópico” do que o socialismo utópico propriamente dito.

A vertente social-democrata não leninista, não teve muito melhor sorte e onde aparentou algum êxito, foi sempre à custa da própria doutrina.

O caso sueco é paradigmático. Décadas de governação social-democrata, desembocaram num país próspero, com uma economia que, no início da década de 70, se dividia a meio entre capitalismo privado e capitalismo de estado. Mas a pressão ideológica socialista para nacionalizar ainda mais e fazer uma redistribuição mais igualitária dos rendimentos, conduziu ao abrandamento económico, inflação galopante, baixa de produtividade, quase bancarrota e ao descontentamento que acabou por determinar a derrota dos social-democratas e o regresso a um caminho mais próximo do capitalismo liberal.

Na Inglaterra, então designada pelo “doente da Europa”, aconteceu mais ou menos o mesmo, tendo finalmente emergido Margaret Tatcher que pôs fim à deriva socialista e salvou o país.

Hoje, face à crise e à retórica socializante que se ouve de novo, as sociedades precisam de se vacinar contra o regresso de um fantasma que morreu, mas ainda pensa estar vivo.

O ingrediente estritamente económico da vacina está mais do que identificado, e passa por um Estado-Previdência que evite a lei da selva e associe compulsividade e livre escolha, de resto perfeitamente compatível com o capitalismo liberal.

O ingrediente ético é um osso mais duro de roer. O declínio das crenças religiosas e dos valores tradicionais, é uma das mais sérias contradições, no sentido dialético, do capitalismo, uma vez que resulta da própria ideia liberal de que estas coisas são da esfera privada.

Mas é um osso que tem de ser roído pelo próprio sistema capitalista liberal, sob pena de a morte do socialismo redundar no aparecimento de fantasmas pseudo-socialistas que assentam os seus gritos lancinantes de além-túmulo no repúdio da liberdade individual em nome da “igualdade”.
E esse caminho já sabemos onde conduz.

Por: José António Rodrigues Carmo, na sua página do Facebook.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Socialismo, substantivo comum

O “socialismo” é um substantivo comum precisando urgente de adjetivos incomuns. No jogo das palavras que produzem a história, “socialismo” é substantivo quase banido do nosso noticiário, da nossa política e do nosso cotidiano. Sorrateiramente, o vocábulo foi sendo exilado para as margens da vida, para alívio de alguns, especialmente para os grupos que vivem confortavelmente neste mundo tão desconfortável.

Quem viveu a efervescência dos anos sessenta (e seguintes) e a esperança quase tocada de um mundo melhor, sabe que o substantivo comum “socialismo” já foi sinônimo exatamente de “esperança” e de “mundo melhor”, palavra que juntava gente e que ameaçava interesses, palavra gritada, cantada, escrita, publicada, anunciada, palavra que fazia sonhar parte da população e causava insônia na outra, nessa minoria privilegiada, cercada de luxo em uma estrutura produtora de lixo e miséria.

A palavra se perdeu nas adjetivações da história. No século dezenove havia os socialismos “utópicos”, tantos e de tantas cores, e o socialismo “científico”, único e hegemônico, firmemente estabelecido nos alicerces da ciência, nos resultados das gigantescas pesquisas de Marx que teve a genialidade, segundo Edgar Morin, de reunir ciência, filosofia e política em construto complexo. Colocado na prática de várias experiências do século vinte, demonstrou contradições e fragilidades, tornando-se socialismo “real”.

No fim dos anos noventa o mundo muda e a palavra começa a desaparecer, perdida pelos escombros de um mundo sombrio. Curiosamente começa a desaparecer também a palavra “capitalismo”, mistério não tão misterioso dos antônimos entrelaçados. Socialismo sempre foi a crítica do capitalismo. Destituída a crítica, desaparecida a obscuridade, o objeto criticado tornou-se tão luminoso que não pode mais ser encarado, nem precisa. Ele mesmo é a luminosidade que dá a claridade, sol esplendoroso que ilumina o mundo.

Entretanto, sem a crítica das sombras o mundo não ficou melhor. A hegemonia quase absoluta do capital nos leva a ter saudades do desusado substantivo, talvez com novos adjetivos. Esse sol ofuscante não parece ser luz benfazeja, mas radiação que ameaça a vida do planeta, um Mamom todo-poderoso sem nenhum diabo para lhe combater os excessos. Os sacerdotes do capital promovem guerras, invadem países, retiram direitos de todas as pessoas, sob a bênção dos seus profetas, seguindo os seus textos sagrados.

Dentre os textos antigos, o do patriarca Adam Smith, que nos convidou a cuidar cada um do nosso próprio interesse que uma espécie de “mão invisível” cuidaria do interesse da coletividade. Hoje temos de admitir um sistema não de uma única mão, mas de muitas mãos invisíveis, que repetem o gesto ritual da coletividade, enquanto encaminham para seus próprios bolsos “as riquezas das nações”. Um dos resultados da perversidade do sistema é uma brutal concentração de renda, ao ponto de Domenico De Masi admitir que cerca de quinhentas pessoas dominam mais da metade do PIB de todo o planeta.

Quando lembramos hoje da coisificação do ser humano que significou a economia escravista, quando abominamos a corvéia do sistema feudal, sonhamos pessoalmente com um futuro em que se fale do horror do sistema capitalista, época em que o ser humano e seus valores mais nítidos foram transformados em mercadoria. Neste momento atual, o sistema capitalista quase não consegue ser percebido, como não percebemos o ar que respiramos e que nos garante a vida. Na cumplicidade das metáforas, ambos estão se tornando cada vez mais irrespiráveis.

Mas, quem sabe, nesse futuro remoto, ou nem tanto, as perversidades estruturais de um sistema baseado no egoísmo e na exploração do tempo e da alegria do trabalhador, terão sido tornados objetos de estudos históricos, tema de redação indignada de pessoas que viverão já nesse mundo melhor que esperamos. A palavra para esse possível e impossível mundo ainda é “socialismo”, substantivo comum, talvez então cercado de adjetivos incomuns. Houve um tempo até em que se falava de um socialismo à brasileira, com carnaval, samba e futebol. Tomados em seu valor simbólico, nunca como estão atualmente também estruturados pelo capital, esses podem ser bons caminhos para se repensar a humanidade.

Por: Marcos Monteiro Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão (CEPESC). Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana (BA) e coordena a ONG Portal da Vida. Faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.