Uma coleção de 14 cartas do escritor francês François Marie Arouet,
mais conhecido como Voltaire, foram recentemente Trazidas a publico pela primeira vez. Nestas, o escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês, lança luz
sobre as estreitas relações do autor com a aristocracia inglesa.
As mensagens, encontradas pelo professor da Universidade de Oxford,
Nicholas Cronk, representa um avanço na compreensão dos filólogos sobre
as influências que Voltaire teve durante os seus anos em Inglaterra e de
como foram criadas as suas obras, informou na passada sexta-feira dia 20 de Janeiro a BBC em Londres.
Numa delas, o escritor, historiador e filósofo chega até a abandonar a
forma francesa do seu nome, François, e assina como Francis Voltaire,
algo que nunca tinha sido registado até agora.
Cronk descobriu estas mensagens enquanto pesquisava nas bibliotecas
públicas de Nova York, na Universidade de Morgan e da Universidade
de Columbia, nos Estados Unidos.
"Voltaire passou dois anos muito importantes, mas relativamente pouco
documentados em Inglaterra, por volta dos seus 30 anos, numa época na
qual era mais conhecido como poeta", explicou Cronk à BBC.
Durante a sua estadia, o autor de "Cândido", "O ingênuo" e "Tratado sobre
a tolerância" expôs as suas ideias sobre os escritores ingleses e quando
voltou à Europa continental levou consigo o empirismo, que depois
constituiu a base do Iluminismo, detalhou Cronk.
"Além disso, estas cartas recém-descobertas são muito interessantes
porque mostram como a estreita relação de Voltaire com a aristocracia
inglesa o expôs às ideias iluministas, e nos ajudam a reconstruir a
natureza dessas interações", acrescentou o professor da faculdade de
Idiomas Modernos e Medievais.
Estas relações com pessoas ricas e poderosas são, de acordo com Cronk,
responsáveis por fazer Voltaire crescer na alta sociedade inglesa, já
que ele chegou "como um poeta pouco conhecido com uma carta de
recomendação do embaixador britânico em Paris".
Segundo o especialista, ainda restariam milhares de cartas de Voltaire para serem encontradas.
Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das
liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio, Voltaire é uma
dentre muitas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram
pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Revolução
Americana.
Escritor prolífico, Voltaire produziu cerca de 70 obras em
quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas,
romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas
e mais de 2 mil livros e panfletos. Foi um defensor aberto da reforma
social apesar das rígidas leis de censura e severas punições para quem
as quebrasse.
Um polémico satírico, frequentemente usou as suas obras
para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu
tempo. Ficou conhecido por dirigir
duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da
nobreza. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar a
uma nova prisão, refugiou-se em Inglaterra. Durante os três anos em que
permaneceu naquele país, conheceu e passou a admirar as ideias
políticas de John Locke.
Não será exagero dizer que Voltaire foi o homem mais influente do
século XVIII. Os seus livros foram lidos por toda a Europa e vários
monarcas pediram os seus conselhos.
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