Tive o privilégio de
trabalhar com Alexandre Soares dos Santos (ASS), numa altura em que o
Pingo Doce era um pequeno negócio pertencente a um accionista de base
industrial, numa sólida parceria com a Unilever. Conheci um homem
austero, discreto.
Não me recordo dele por ser um homem afável ou
particularmente próximo. Lembro-me no entanto, de um empresário
particularmente cuidadoso e ponderado nas suas decisões, um empreendedor
que arriscava o capital e os seus activos. Foi assim que comprou as
lojas ao Pão de Açúcar, o Recheio, o Cash & Carry Arminho, o Feira
Nova, os Supermercados Inô e a cadeia Biedronka e Eurocash na Polónia ou
o investimento falhado no Brasil.
Recordo-me também de um empresário justo e com uma enorme preocupação social. Na altura, a Lever, joint venture entre a JM e Unilever, era uma das melhores escolas de gestão do País, um dos melhores ambientes de trabalho que conheci, onde o mérito era reconhecido e premiado com justiça e equidade.
A mesma política continuou ASS na distribuição e retalho. Em 2009 distribuiu 240 € a todos os cargos não dirigentes. Em 2010 foram 250 €, distribuídos a mais de 50.000 empregados, ou seja cerca de 12,5 milhões de Euros. Isto sem contabilizar o valor para aumentos salariais e outras regalias.
Acresce ainda, que hoje a JM é uma sociedade cuja maioria das receitas e margem tem origem fora de Portugal, valor que irá crescer com os investimentos superiores em 2 mil milhões de Euros previstos para a Polónia e Colômbia
Tenho realmente pena que ASS tenha desistido do País. Mas mais lamentável ainda, é que o País tenha desistido, hà muito, de empresários com o nível de empreendedorismo e dinamismo de Alexandre Soares dos Santos. As empresas não são dos Países onde vivem os seus accionistas, nem tão pouco dos Países onde nasceram. As empresas estão onde lhes proporcionam condições para investir e que permitem crescimento e rentabilidade aos seus accionistas.
Esta é a triste consequência de um País que durante os últimos 30 anos andou a engordar com aumentos consecutivos de impostos para empresas e cidadãos. Perdeu a competitividade. O peso da maquina fiscal, da burocracia, dos aumentos da mão de obra sem a correspondente aumento da produtividade e a conhecida rigidez laboral.
Portugal tornou-se num monstro devorador alicerçado em direitos
insustentáveis, de investimentos dificilmente justificáveis, ou modelos
de gestão facilmente criticáveis Com isto, o Pais não cresceu, antes
engordou. Tornou-se balofo e deixou de acompanhar o ritmo. ASS e a JM
apenas fizeram aquilo que os seus accionistas, trabalhadores e clientes
lhe pedem diariamente – que continuem a crescer, a criar emprego e a
remunerar os seus accionistas e pagar salários aos seus trabalhadores.
E já agora, parafraseando o meu amigo Pedro, no Facebook: “Todos os que rasgam as vestes com a notícia de que Soares dos Santos transmitiu acções da Jerónimo Martins para uma sociedade com sede na Holanda, não se esqueçam de não encher o depósito em Badajoz. “
E já agora, parafraseando o meu amigo Pedro, no Facebook: “Todos os que rasgam as vestes com a notícia de que Soares dos Santos transmitiu acções da Jerónimo Martins para uma sociedade com sede na Holanda, não se esqueçam de não encher o depósito em Badajoz. “
Por Manuel Castelo Branco, In 31 da Armada
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