quinta-feira, 14 de maio de 2009

Liberdade, ameaçada, nas nossas escolas.

Na Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos José Maria dos Santos, em Pinhal Novo, Palmela, os alunos estão proibidos de usar decotes exagerados, saias muito curtas e boxers à mostra. Sempre que o calor aperta, sobe o tom dos protestos.

"No ano passado trazia uma blusa mais curtinha e a barriga estava à mostra. Mas olhe que nem se via o umbigo! Tive de vestir o casaco de uma colega", desabafa Inês. Embora reconheça que algumas meninas abusavam, trazendo "saias que mais pareciam cintos", considera injusto. "Ainda se isto fosse uma escola privada daquelas que têm a ditadura dos uniformes...", atira, por sua vez, Adriano, na rebeldia dos seus 16 anos.

A medida também não colhe a simpatia dos pais. Alguns não concordam, outros esforçam-se por entender as razões do Conselho Executivo (CE). "Concordo assim-assim, mas compreendo. Havia excessos. Deve haver bom senso, mas se a minha filha (de 11 anos) não usar calções agora, vai usar quando?", questiona Maria Santos, mãe de uma aluna.

A proibição do uso de "calças de cintura descida, decotes exagerados, tops e mini-saias excessivamente curtas" foi decidida no ano lectivo 2004/2005, por deliberação da Assembleia de Escola, após duas situações que motivaram uma acesa discussão interna.

"Um professor veio ao Conselho Executivo dizer que se tinha sentido incomodado pelo facto de estar a dar uma aula e de ter, à sua frente, uma aluna com uma saia tão curta que se viam as cuequitas", explicou ao JN Natividade Azeredo, presidente do CE.

O outro caso aconteceu em plena euforia com o Euro 2004, quando um aluno surgiu na sala de aula todo pintado com as cores da bandeira. "A professora não estava a conseguir identificá-lo. Pedi ao aluno que fosse lavar a cara", esclareceu. Noutra ocasião, e já depois de aprovadas as restrições de vestuário, um aluno que almoçava no refeitório curvou-se e ficou com as calças a meio do rabo. Acabou por ser chamado à atenção pela responsável.

"Os exageros podem levar a uma falta de respeito entre alunos. Algum cuidado na forma de se apresentarem poderá contribuir para o apaziguamento de certas situações", argumenta Natividade Azeredo, referindo-se à descoberta da sexualidade dos alunos, aos toques e chamados "apalpões" dos meninos às meninas.

Natividade Azeredo é presidente do CE há 19 anos. Diz que não é conservadora, mas assume que é exigente. Os jardins da escola, sobrelotada, com 900 alunos, estão sob os cuidados de um jardineiro e ninguém estraga. As ruas entre pavilhões têm nomes. Não há rabiscos nas paredes e a escola tem médico às quartas-feiras.

Na foto junto, a sugestão. Uniforme tipo, para as alunas da Na Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos José Maria dos Santos, no Pinhal Novo, Palmela.

3 comentários:

Leonoreta disse...

Por mais bota-de-elástico que me possas chamar, não concordo contigo. Obviamente que a burka não é solução, mas acho que não faz mal nenhum a ninguém respeitar os espaços onde se encontra. E a forma de vestir é precisamente uma das formas de demonstrar respeito.

É sabido que as pessoas, jovens ou não, tendem a ter determinados comportamentos em grupo que não teriam encontrando-se isoladas. Também é sabido que a moda das roupas “com menos tecido” se prende com momentos de crise. Havendo uma convergência de situações, podemos ter (e não significa que tenhamos efectivamente) questões que se prendem com liberdades maiores, nomeadamente sentimentos de segurança em relação ao espaço em que nos encontramos ou violência psicológica relativamente a quem é obrigado (sem opções) a conviver com determinada forma de estar que vai contra os seus princípios – o caso do professor que é confrontado com as cuecas da aluna.

Depois, não nos podemos esquecer que há, principalmente nestas idades, uma certa atitude provocatória gratuita, aliada a alguma impunidade.

Pessoalmente, sou mãe de um rapazinho que sabia que não podia usar na escola: “crista”; calças rotas; havaianas e brincos (no caso dos rapazes – as raparigas acho que era a questão das calças rotas, ultra mini-saias e decotes que as deixassem de mamas a saltar para fora do tecido). Nunca dei por que isso fosse um factor constrangedor da sua liberdade. Apesar do moço reclamar, levava crista e brinco, que tirava à entrada da escola e repunha à saída. Havaianas? Chamou uma vez a atenção de uma empregada que se eles, alunos, não podiam usá-las, não seria igualdade de direitos, sendo até um mau exemplo que a senhora as usasse, ao que a dita não teve resposta e mudou para uma singela sandalinha.

São normas que, ou aceitamos, ou mudamos de local e nada têm de prejudicial na educação de uma criança ou de um jovem, antes preparando-os para um mundo que as tem muito mais violentas.

Acho que é necessário que cada um saiba distinguir entre os vários locais onde está, como está e o que pode fazer nuns e noutros.

A bota-elastiqueira ;)

Thaypan disse...

Completamente de acordo contigo. É claro que a burka é uma forma de exemplo por excesso, mas nisto de liberdades, ou no corte das mesmas,sabes bem q normalmente começa na roupa e acaba no Aljube, ou em Guantanamo...
Há outras formas de se educar,e sobretudo de se indicarem os comportamentos sociais,mas da forma q isto está, o mundo, a liberdade, e a democracia, são pura e simplesmente míriades.
Acho que impor , a forma como andas vestida numa escola, é condicionar a tua liberdade.
Tout curt...Uma sociedade educada de base, não precisa deste tipo de repressão.Mas isso não existe.
O exemplo dos mais velhos, dos responsáveis, dos que chegaram primeiro,o amor e a atenção que se deve dar ás novas gerações, é q fornece as directrizes, para o comportamento, social dos mais novos.
I'm a dreamer.

Leonoreta disse...

Ok, então somos!

Talvez me tenha esquecido de dizer que, na tal escola do meu filho, lhe(s) foram incutidos os princípios que afinal eram a continuidade aqui da casota.
Nestas coisas, acho que o essencial é que haja um equilíbrio entre escola e encarregados de educação, que passa pela confiança plena nas regras da instituição onde os miúdos, por razões várias, ficam grande parte do seu dia

A educação de base, meu caro, sabe-lo tão bem quanto eu que, na maior parte dos casos, não vem de casa. Vocês, do que me é dado a ver, são daquelas excepções que confirmam a regra. Cada vez mais os pais tendem a fazer-se substituir pela escola na educação dos seus filhos. Temo-nos vindo a transformar numa sociedade em que os princípios mais básicos têm vindo a ser espezinhados dentro do próprio lar, em relação à família, ao vizinho, ao tipo que vai ao nosso lado no transporte público.

Nunca pensei vir a dizer isto, mas esta geração está a ser educada pelos filhos de 74, que eu não vivi em pleno (tinha 8 aninhos e não compreendia sequer porque berrava a plenos pulmões o "somos livres" ou a "internacional"), mas que os meus olhos e sentidos de hoje me dizem ter-se confundido liberdade com libertinagem. Não se aproveitou o que era aproveitável, quisemos(ram) destruir tudo para começar de raiz, sem se saber bem o quê, tudo feito por um povo (ou em nome dele) cuja História demonstra que não tem hábitos nem sabe respeitar a vida em Liberdade.

Talvez esta situação da roupa seja um início... talvez seja apenas uma meia dúzia de pessoas que teima em formar cidadãos com respeito pelos outros, respeitando-se a si mesmos. Não sei qual é efectivamente o intuito ou as consequências, mas continuo a não crer que daí venha mal ao mundo.

Descambando um pouco a conversa, e penso que já o escrevi algures para trás, há algo que, acredito, irá acontecer - um dia surgirá alguém com princípios rígidos que imporá uma ditadura nesta porra toda e, graças ao "destrambulho" cá da terrinha, à corrupção entranhada até à medula, só poderá ser aplaudido como líder - não se trata de sebastianismo e penso que cabe dizer que fui educada (no sentido de ver exemplos, de me serem mostrados vários caminhos possíveis) por gente de esquerda nada moderada.

Se o lamento? Obviamente. Como lamento aquilo a que nos deixámos chegar (e temos sido todos nós, através do voto e da renúncia aos nossos direitos civis e políticos). Mas esta merda tem de parar em qualquer parte e, apesar de sermos uns mornos, quando nenhum de nós, os que tentam trabalhar para comer e dar de comer às crias, não tivermos uma migalha de pão, reagiremos. Não temos a sagacidade, a perseverança ou a violência de uma França, por exemplo, não reagiremos sozinhos, mas venha um líder, com tudo no sítio, e negro, de preferência, e segui-lo-emos, convictos da salvação. Depois.... Depois tudo se repetirá e daqui a 100 anos alguém estará a dizer algo de semelhante.