sábado, 28 de janeiro de 2012

Um Dia Isto Tinha Que Acontecer, por Mia Couto

Existe mais do que uma! Certamente! 

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. 

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. 

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Revertida, pela primeira vez, a doença de Alzheimer

Pela primeira vez, foi revertida a doença de Alzheimer em pacientes com a doença, há mais de um ano. 

Os cientistas usaram a técnica de estimulação cerebral profunda, que usa elétrodos para aplicar pulsos de eletricidade diretamente no cérebro.
Investigadores canadianos, da Universidade de Toronto, liderados por Andres Lozano, aplicaram estimulação cerebral profunda em seis pacientes. Em dois destes pacientes, a deterioração da área do cérebro associada à memória não só parou de encolher como voltou a crescer. Nos outros quatro, foi parado o processo de deterioração.

Nos portadores de Alzheimer, a região do cérebro conhecida como hipocampo é uma das primeiras a encolher. O centro de memória funciona no hipocampo, convertendo as memórias de curto prazo em memórias de longo prazo. Desta feita, a degradação do hipocampo revela alguns dos primeiros sintomas da doença, como a perda de memória e a desorientação.

Durante a investigação, a equipa de cientistas canadianos instalou os dispositivos no cérebro de seis pessoas que tinham sido diagnosticadas com Alzheimer, há, pelo menos, um ano. Assim, colocaram elétrodos perto do fórnix, conjunto de neurónios que carregam sinais para o hipocampo, aplicando, depois, pequenos impulsos elétricos, 130 vezes por segundo.

Após 12 meses de estimulação, um dos pacientes teve um aumento do hipótalamo de 5 por cento e, outro, 8 por cento. Esta descoberta pode levar a novos caminhos para tratamentos de Alzheimer, uma vez que é a primeira vez que foi revertida a doença.

Os cientistas têm, contudo, ainda de conhecer mais sobre o modo como a estimulação funciona no cérebro.
  
O Mal de Alzheimer, Doença de Alzheimer (DA) ou simplesmente Alzheimer é uma doença degenerativa actualmente incurável mas que possui tratamento. O tratamento permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família. 

Foi descrita, pela primeira vez, em 1906, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de quem herdou o nome. É a principal causa de demência em pessoas com mais de 60 anos no Brasil e em Portugal, sendo cerca de duas vezes mais comum que a demência vascular, sendo que em 15% dos casos ocorrem simultaneamente. 

Atinge 1% dos idosos entre 65 e 70 anos mas sua prevalência aumenta exponencialmente com os anos sendo de 6% aos 70, 30% aos 80 anos e mais de 60% depois dos 90 anos .

Dez sinais de alerta sobre a doença de Alzheimer:
1 - Perda da memória recente afectando a capacidade de trabalho;
2 - Dificuldade em desempenhar tarefas familiares;
3 - Problemas de linguagem;
4 - Desorientação no tempo e no espaço;
5 - Diminuição na capacidade de decisão;
6 - Problemas com o pensamento abstrato;
7 - Confundir os lugares das coisas;
8 - Mudanças na personalidade;
9 - Mudanças no humor e comportamento;
10-Perda de iniciativa.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Carta de Rosa Coutinho, para Agostinho Neto: "Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos."

Há feridas na sociedade Portuguesa, que jamais fecharão, jamais serão curadas. A descolonização é sem duvida, a maior e a mais dolorosa. Há medida que os anos vão passando, os actores principais desse drama, vão desaparecendo do mundo dos vivos, e nunca serão julgados.

Rosa Coutinho, e os restantes camaradas do famigerado MFA, são os principais rersponsáveis, e eram então apoiados pelos comunista, comandados por Álvaro Cunhal, e pelos socialistas, liderados por Mário Soares.

Houve provas, que incriminavam directamente esses traidores, e que foram destruídas, outras enviadas para Moscovo, para a sede do PC da URSS, e para o KGB, mas houve algumas, poucas, que foram preservadas, e que agora começam a ser expostas na comunicação social nacional.

É claro que os apoiantes dessas politicas que destruíram uma nação e causaram as maiores carnificinas, nas então chamadas, Províncias Ultramarinas Portuguesas, logo vieram a terreiro, defendendo que essas provas são falsas. Está neste caso, a famosa carta que  Rosa Coutinho, enviou a Agostinho Neto.

Para testemunho futuro, reproduzo abaixo, essa carta que alegadamente o "Almirante Vermelho", terá escrito no final de 1974 ao então líder do MPLA Agostinho Neto, indicando quais as medidas a tomar relativamente à expulsão dos Portugueses que então viviam em Angola. 

Na carta, Rosa Coutinho, é explicito, referindo a "reunião secreta com os camaradas do PCP", e ordenava ao presidente do MPLA que aterrorizasse "os brancos [Portugueses], matando, pilhando e incendiando." Exortava: "Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos."  Vergonhoso.

Leiam na integra este documento, que por si só, chega para condenar os indivíduos, que governaram Portugal no pós abrilada.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Descoberta colecção de 14 cartas, escritas por Voltaire

Uma coleção de 14 cartas do escritor francês François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, foram recentemente Trazidas a publico pela primeira vez. Nestas, o escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês, lança luz sobre as estreitas relações do autor com a aristocracia inglesa.

As mensagens, encontradas pelo professor da Universidade de Oxford, Nicholas Cronk, representa um avanço na compreensão dos filólogos sobre as influências que Voltaire teve durante os seus anos em Inglaterra e de como foram criadas as suas obras, informou na passada sexta-feira dia 20 de Janeiro a BBC em Londres.

Numa delas, o escritor, historiador e filósofo chega até a abandonar a forma francesa do seu nome, François, e assina como Francis Voltaire, algo que nunca tinha sido registado até agora.

Cronk descobriu estas mensagens enquanto pesquisava nas bibliotecas públicas de Nova York, na Universidade de Morgan e da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

"Voltaire passou dois anos muito importantes, mas relativamente pouco documentados em Inglaterra, por volta dos seus 30 anos, numa época na qual era mais conhecido como poeta", explicou Cronk à BBC.

Durante a sua estadia, o autor de "Cândido", "O ingênuo" e "Tratado sobre a tolerância" expôs as suas ideias sobre os escritores ingleses e quando voltou à Europa continental levou consigo o empirismo, que depois constituiu a base do Iluminismo, detalhou Cronk.

"Além disso, estas cartas recém-descobertas são muito interessantes porque mostram como a estreita relação de Voltaire com a aristocracia inglesa o expôs às ideias iluministas, e nos ajudam a reconstruir a natureza dessas interações", acrescentou o professor da faculdade de Idiomas Modernos e Medievais.

Estas relações com pessoas ricas e poderosas são, de acordo com Cronk, responsáveis por fazer Voltaire crescer na alta sociedade inglesa, já que ele chegou "como um poeta pouco conhecido com uma carta de recomendação do embaixador britânico em Paris".

Segundo o especialista, ainda restariam milhares de cartas de Voltaire para serem encontradas.

Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio, Voltaire é uma dentre muitas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Revolução Americana. 

Escritor prolífico, Voltaire produziu cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfletos. Foi um defensor aberto da reforma social apesar das rígidas leis de censura e severas punições para quem as quebrasse. 

Um polémico satírico,  frequentemente usou as suas obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo. Ficou conhecido por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da nobreza. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar a uma nova prisão, refugiou-se em Inglaterra. Durante os três anos em que permaneceu naquele país, conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke. 

Não será exagero dizer que Voltaire foi o homem mais influente do século XVIII. Os seus livros foram lidos por toda a Europa e vários monarcas pediram os seus conselhos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Não se Queixem, por Daniel Bacelar

Tudo somado, o que irei receber do Fundo de Pensões do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque como sabe eu também não recebo vencimento como Presidente da República.
20-01-2012 Cavaco Silva, numa visita ao Porto

Minhas Queridas Amigas e Amigos.

Tentando dominar com alguma dificuldade a excitação em que fico cada vêz que vejo na TV qualquer comentário ou entrevista inclusivé aos senhores que estão a engraxar os sapatos (nada mau para os tempos que correm em que anda tudo "têso") além de que não se fala noutra coisa em toda a Europa quiçá mundo inteiro e....arredores!!!, não consegui ficar indiferente á última demonstração de eloquência e "sentido das coisas" do vosso Presidente (meu não é de certeza,pois esse só me enganou uma vêz e foi no principio desta "cegada" pós 25 de Abril).

Achei de uma enorme ternura e sentido de estado aquela "coisa" dos  €1300, e das economias que "eu e minha mulher" fazemos pondo sempre "algum" de parte.
 
Este sujeito,é realmente uma revelação,pois apesar de ser muito contido naquilo que diz,cada vêz que o faz é sempre um chorrilho de asneiras de entre as quais a sua coroa de glória,foi aquela em que foi visitar um matadouro e tinha ficado emociando com o ar das vacas caminhando para a morte!!!!
(é bonito). Esta faz parte da minha coleção de grandes momentos (tal como a de ontem,claro está!!) que quardo religiosamente no meu arquivo de video.

Imagino á noite em Belém,deve ter levado poucas da Dna.Maria por ter tido a veleidade de dizer coisas sem terem passado pelo crivo da senhora.(o que vale é que não se estragam duas casas...if you know what i mean!!!(que diabo,também tenho o direito de ser foleiro com umas englesices!!)

Estou mesmo a vêr que com aquela conversa do "dinheirinho de parte todos os meses" (quantos portugueses conseguem fazer o mesmo?????) o casal deve ter um porquinho daqueles de loiça onde coloca as "moedinhas".

Enfim!!!!!! Já votaram duas vezes no sujeito para presidente "desta coisa"(fora o resto!!) não é verdade????

NÃO SE QUEIXEM!!!!!!

Como para mim já é demasiado tarde para me pôr "ao fresco" daqui para fora,.........vou tomar um xanax!!!!

Daniel Bacelar

Piratas Somalis. A verdadeira história.

Na costa Oriental de África, uns milhares de quilómetros para Nordeste, há 18 anos que um país mergulhou no caos de onde nunca mais saiu.

Esventrada por uma guerra civil sem fim à vista, a Somália caiu no esquecimento do dito mundo Ocidental até que a pirataria contra navios mercantes que abastecem a Europa voltou para lá os holofotes, que não mostraram com destaque uma outra realidade que quero contar hoje.

Tropecei há dias num pedregulho semi-escondido na Somália quando lia o Courrier Internacional. Um rapper somaliano chamada K’Naan e emigrado nos Estados Unidos escreveu um artigo, originalmente publicado na Urb Magazine, que ajuda a compreender o que se passa lá por aquelas cálidas águas do Golfo de Áden e arredores.

Livrando-se de uma ditadura de 20 anos, em 1991 aquele país do dito “Corno de África” ficou na mão de dois líderes que rapidamente se tornaram em “senhores da guerra” ávidos por sustentar os respectivos “exércitos” e enriquecer a qualquer preço, prática generalizada a nível mundial, mas por lá feita à descarada.

Conta o músico que um enveredou pelo assalto aos comboios de camiões carregados de bens enviados pelos designados países ricos com o manifesto objectivo de evitar a catástrofe humanitária. Depois vendia a ajuda que roubava. Aparentemente por ser do mesmo clã, o segundo torcionário não virou as armas para o primeiro mas antes para a longa costa do país, onde descobriu que aquele mar todo lhe poderia trazer lucros aliciantes.

K’Naan relata que por essa altura já os pescadores da região se queixavam que naquelas águas de ninguém eram muitos os barcos de outros países que entravam por ali dentro e lhes roubavam o peixe. Mal sabiam eles que o pior estava para vir.

O senhor daqueles mares, chamado Ali Mahdi, descobriu uma galinha dos ovos de oiro oferecida, imaginem lá, por insuspeitas empresas suíças e italianas. E como é que tudo aconteceu?

Ali Mahdi, simplesmente ofereceu o fundo dos mares da Somália para as companhias europeias depositarem lá os contentores com resíduos perigosos. Se os tratassem, como obrigam as leis porque se regem as tais empresas, teriam que pagar mais de 700 euros pelo tratamento de cada tonelada de lixos perigosos. O bandido sem escrúpulos permitia-lhes depositarem nas “suas” águas o veneno que produziam desde que lhes pagassem pouco mais de dois euros por cada tonelada! Estão a ver o maná…O que poderia acontecer depois, isso não interessava nada, era lá longe da Europa, e eles que se amanhassem.

E ocorreu mesmo: o “tsunami” de 2004 originado pelo marmoto ocorrido na Ásia chegou à costa da Somália e a força do mar rebentou alguns contentores e o lixo tóxico que encerravam, espalhou-se pela costa. As populações que viviam à beia-mar começaram a queixar-se de problemas de saúde graves: hemorragias internas, problemas de pele e sintomas semelhantes a doenças cancerígenas. O que a empresa suíça Achair Partners e a italiana Progresso haviam “enterrado” na costa eram resíduos radioactivos, metais pesados e detritos químicos, relata o rapper no seu artigo, assegurando que a prática se mantém.

Passaram meses até que as populações atingidas percebessem o que lhes estava a acontecer. Fizeram-se ao mar para impedir os cargueiros de lhes envenenar ainda mais a vida. Daí até pescadores e milicianos passarem a assaltar navios que nada tinham a ver com o caso foi um curto passo.

Aqui, o Ocidente acordou. E o que fez? Mandou para lá navios de guerra que servem de muito pouco, digo eu. A pirataria tornou-se uma importante fonte de rendimento para quem viu os seus mares envenenados, diz ele. E chama bandidos a quem enviou para lá os lixos. Remate do artigo de K’Naan: “Os piratas de uns são a guarda-costeira de outros”.

Por:António Martins Neves, in Atlântico Expresso

sábado, 21 de janeiro de 2012

Os Convencidos da Vida

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. 

Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
 
Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força.
 
Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
 
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?(...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil.
 
Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes». Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro. 

Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Há muitas espécies de liberdade.

Umas tem o mundo de menos, outras tem o mundo de mais. Mas ao dizer que pode haver «de mais» de uma certa espécie de liberdade devo apressar-me a acrescentar que a única espécie de liberdade que considero indesejável é aquela que permite diminuir a liberdade de outrem, por exemplo, a liberdade de fazer escravos.

O mundo não pode garantir-se a maior quantidade possível de liberdade instituindo, pura e simplesmente, a anarquia, pois nesse caso os mais fortes seriam capazes de privar da liberdade os mais fracos. 

Duvido de que qualquer instituição social seja justificável se contribui para diminuir o quantitativo total de liberdade existente no mundo, mas certas instituições sociais são justificáveis apesar do facto de coarctarem a liberdade de um certo indivíduo ou grupo de indivíduos.

No seu sentido mais elementar, liberdade significa a ausência de controles externos sobre os actos de indivíduos ou grupos. Trata-se, portanto, de um conceito negativo, e a liberdade, por si só, não confere a uma comunidade qualquer alta valia.

Os Esquimós, por exemplo, podem dispensar o Governo, a educação obrigatória, o código das estradas, e até as complicações incríveis do código comercial. A sua vida, portanto, goza de um alto grau de liberdade; contudo, poucos homens civilizados prefeririam viver assim a viver no seio de uma comunidade mais organizada.

A liberdade é um requisito indispensável para a obtenção de muitas coisas valiosas; mas essas coisas valiosas têm de partir dos impulsos, desejos e crenças daqueles que desfrutam dessa liberdade. 

A existência de grandes poetas confere um certo brilho a uma comunidade, mas não se pode ter a certeza de que a comunidade produzirá grande poesia só pelo facto de não existir uma lei que a proíba. De uma maneira geral, consideramos justo que se obrigue a juventude a ler e a escrever, ainda que a maioria dos jovens preferisse o contrário; fazemo-lo porque acreditamos em bens positivos que só um alto grau de alfabetização torna possível. 

Mas, ainda que a liberdade não constitua o total das coisas socialmente desejáveis, é tão necessária para a obtenção da maioria delas, e corre tanto o risco de ser insensatamente limitada, que mal será possível exagerar a sua importância.

Bertrand Russell, in "Realidade e Ficção"

Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell (Ravenscroft, País de Gales, 18 de Maio de 1872 — Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de Fevereiro de 1970) foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. Político liberal, activista e um popularizador da filosofia, Russell foi respeitado por inúmeras pessoas como uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade. A sua postura em vários temas foi controversa.

Russell nasceu em 1872, no auge do poderio económico e político do Reino Unido, e morreu em 1970, vítima de uma gripe, quando o império se tinha desmoronado e o seu poder drenado em duas guerras vitoriosas mas debilitantes. Até à sua morte, a sua voz deteve sempre autoridade moral, uma vez que ele foi um crítico influente das armas nucleares e da guerra  no Vietnã. Era inquieto.

Recebeu o Nobel de Literatura de 1950, "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento".

O Que Distingue um Amigo Verdadeiro, por Miguel Esteves Cardoso

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. 

A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta. 

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c.

Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. 

O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!

Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...

Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...

Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...

Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...

Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...

Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!

Vinícius de Moraes

sábado, 14 de janeiro de 2012

Friedrich Wilhelm Nietzsche - Filósofo (1844 - 1900)

Retrocesso Civilizacional

São talvez as prioridades dos nossos tempos que acarretam um retrocesso e uma eventual depreciação da vida contemplativa. Mas há que confessar que a nossa época é pobre em grandes moralistas, que Pascal, Epicteto, Séneca, Plutarco pouco são lidos ainda, que o trabalho e o esforço - outrora, no séquito da grande deusa Saúde - parecem, por vezes, grassar como uma doença. 

Porque faltam tempo para pensar e sossego no pensar, já não se examina as opiniões diferentes: a gente contenta-se em odiá-las. 

Dada a enorme aceleração da vida, o espírito e o olhar são acostumados a ver e a julgar parcial ou erradamente, e toda a gente se assemelha aos viajantes que ficam a conhecer um país e um povo, vendo-os do caminho-de-ferro.

Uma atitude independente e cautelosa em matéria de conhecimento é menosprezada quase como uma espécie de tolice, o espírito livre é difamado, nomeadamente, por eruditos que, na sua arte de observar as coisas, sentem a falta da minúcia e do zelo de formigas que lhes são próprios, e bem gostariam de bani-lo para um canto isolado da ciência: quando ele tem a missão, completamente diferente e superior, de comandar, a partir de uma posição solitária, toda a hoste dos homens da ciência e da erudição, e de lhes mostrar os caminhos e os objectivos da cultura. 

Uma lamentação, como a que acaba de ser cantada, terá provavelmente a sua época e calar-se-á por si própria, um dia, quando se der o regresso em força do génio da meditação.

Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'

Contrastes Trágicos 
 
Quem não quer ver o que há de elevado num homem olha com maior agudeza para aquilo que nele é baixo e superficial – e assim se revela a si mesmo.

É bastante mau! Sempre a velha história! Quando se acaba de construir a casa nota-se que ao construí-la, sem dar por isso, se aprendeu algo que simplesmente se devia ter sabido absolutamente antes de – começar a construir. O eterno e maçador «tarde de mais!» - A melancolia de todo o
terminado!...

Os homens de profunda tristeza denunciam-se quando são felizes: têm um modo de pegar na felicidade como se quisessem esmagá-la e sufocá-la, por ciúme – ah, sabem bem de mais que lhes foge!


Friedrich Nietzsche, in "Para Além de Bem e Mal"

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pedradas entre a pedreiragem, por José António Barreiros

Sociedade iniciática destinada ao conhecimento esotérico, através de rituais simbólicos, associação benemerente, clube filosófico, deísta na tradição inglesa ou agnóstica na tradição francesa, a Maçonaria pode ser uma agremiação de pessoas de bem, afirma-se ser de «homens livres e de bons costumes», como consta de um dos seus textos fundadores. O problema é a definição do que sejam «bons costumes»
 
Fernando Pessoa, que não era maçon, defendeu-a honradamente num memorável escrito, quando foi promulgada legislação que levou à sua extinção pelo Estado Novo. 
 
Estado Novo, diga-se, de que muitas das suas figuras gradas pertenciam a lojas maçónicas e detinham altos graus. Foi maçon o próprio Presidente da República, Óscar Fragoso Carmona, foi maçon e fundador da loja Fernandes Tomás, na Figueira da Foz, o professor de Direito José Alberto dos Reis. O primeiro, promulgou a lei que ilegalizou a Maçonaria, o segundo presidiu à Assembleia Nacional onde se votou. Figuras da Igreja Católica, com grau de Bispo, foram membros da Maçonaria. Fiéis ao seu Deus e ao Supremo Arquitecto do Universo. 
 
O facto de a sociedade dos pedreiros-livres se prestar a conluio e a perversões  é tão antiga como a sua existência. A sua defesa e os ataques contra ela são parte da História Contemporânea. Trata-se de uma entidade que já recebeu como irmão o ditador Augusto Pinochet e de que fizeram parte a quase totalidade dos Presidentes dos Estados Unidos da América e grande número de membros da Família Real Inglesa. Além de uma multidão de pessoas que, em termos de importância social, são nada. E gente decente que nada tira e tudo dá. Há nela de tudo. E há sobretudo quem esteja nela pelas mais díspares razões, incluindo as moralmente honestas. E quem a abandone pelos mais variados motivos, incluindo os miseráveis e até pela inconsciência de ter estado. E o seu contrário. 
 
Alexandre Herculano, ao ter saído, mal entrara, escreveu, em 1876: «Uma das minhas rapaziadas foi ser pedreiro livre. Não tardei a deixá-la (à Maçonaria). Achei a coisa mais inepta, mais inútil e muito mais ridícula que uma irmandade de carolas». Sucedeu a muitos.
 
Salazar, um católico que o CADC animara, sobrepôs a sua ânsia de poder total à sua moderação conservadora, e fez decretar, através de uma Lei n.º 1901, proposta na Assembleia Nacional pelo deputado José Cabral, a extinção da Maçonaria, Lei das Associações Secretas, a votada sob Alberto dos Reis e firmada por Carmona, em nome da qual todos os funcionários públicos teriam de jurar não pertencer nem jamais pertencer-lhes. 
 
Foi por causa do jamais pertencer que o filósofo Agostinho da Silva, em nome da liberdade de poder vir a pertencer, se exilou no Brasil. Quis, já agora, o paradoxo que voltasse a Portugal para um encontro secreto com o mesmo Salazar, através de um arranjo organizado por Franco Nogueira, Ministro dos Negócios Estrangeiros do antigo regime, mas quiseram as fadas que o encontro não tivesse lugar, porque tinha havido uma indiscrição. E daí que esse encontro secreto tivesse passado a um momento discreto na vida do filósofo que não abjurara o secretismo, e que era, aliás, um grande homem e um notável vulto da Cultura.
 
Escrevo isto porque está na ordem do dia a questão de, a coberto da Maçonaria, poder haver arranjos interesseiros entre políticos, negócios e serviços secretos e outras tropelias. E estar em causa quem deve ou não pertencer. E discutir-se se o mal não é a Maçonaria em si ou aquelas ovelhas negras do rebanho laico. Não faz dúvida ao meu espírito nada do que se discute. Por isso aqui estou.
 
Não há uma Maçonaria, sim lojas maçónicas. Cada uma tem autonomia e pode albergar uma corja de bandidos ou um grupo de ingénuos. Não há uma Maçonaria, sim várias Maçonarias, com várias orientações filosóficas e diversos rituais, de que os ritos Escocês Antigo e Aceito e o Francês são os mais difundidos em Portugal. Não se trata em rigor de uma sociedade secreta, porque tudo o que ali se passa de regular e lícito consta de uma imensa biblioteca disponível em qualquer livraria e cada um é livre de declarar a sua pertença. O segredo da Maçonaria, a justa e perfeita, é outro, é o conhecimento gnóstico que a fraternal cadeia de união, através do ritual, permite alcançar, o mistério da morte e ressurreição, a transmutação da imperfeição, uma  alquimia em que se torna o chumbo corpóreo na alma aurífera. O tentar o encontro do homem com o Homem, a semente do Humanismo. Como se num êxtase, uma celebração, uma epifania. Quando sucede. 
 
Problema é o que se possa passar nos bastidores, pior, nos esgotos dali. E que a natureza da organização torne suspeito porque menos claro. Daí que eu ache que magistrados não devem fazer parte de nada que não seja público, laico ou religioso. Porque não se podem expor à mínima dúvida.
Claro que, acossadas pela simplificação que os media servem e a política instiga, as pessoas perdem o fiel da balança mental que é o elemento comparativo. O medo ajuda a não pensar. E nada como quem não pensa muito para condenar depressa, tudo e todos.
 
Num país maioritariamente católico, ridiculariza-se o usar avental em cerimoniais, esquecendo que os padres católicos andam de saias, casulas, estolas e se munem de báculo e hissope e outros artefactos que, vistos de fora, podem ser tão absurdos como ridículos para os que perderam o respeito ao que é simbólico e cuja alarvice os levaria seguramente a rir à gargalhada quando, no momento agónico de uma missa, aquele sujeito assim vestido eleva os braços com uma roda de farinha e a um cálice e dele bebe o vinho! E com isso se faz blague e risota fácil.
 
A partir daí está aberta a porta à argumentação barata, mesmo vinda da boca dos que deveriam ter da inteligência um pouco mais de sobejos. Transformada, no arengar desses, em baile de máscaras, a Maçonaria degradada a Carnaval, os seus membros tornam-se palhaços idiotas enfeitados e o Zé Povinho ri, apoucando, às escâncaras, como se o circo tivesse descido à cidade.
 
Claro que tudo isto é fácil de passar a espectáculo nos meios de comunicação de massa onde se perdeu pudor na argumentação e sobretudo respeito, tudo afogado pela rudeza vil e pela insolência canalha. Basta ligar a TV e ver o lixo nauseabundo que é servido ao País como entretenimento, a devassa sórdida, a violência sanguinária, a repugnância verbal do palavrão a passar por humor, a demagogia.  Mas não é só do ridículo que cuidam os que vêm para a praça pública por causa da Maçonaria. É que, segundo alguns, ela permite ilegalidades e crimes impunes, porque secreta. Ora está aí o ponto por causa do qual vim aqui.
 
É que os mesmíssimos que assim o proclamam são os que esquecem, em amnésia conveniente, que, em igual critério, a própria Igreja Católica escorre sangue e vergonha porque se comprometeu, em nome da Fé, com coisas bem mais graves do que negociatas e combinas, quando legitimou a carnificina das Cruzadas contra o Infiel ou o extermínio indiscriminado pela "Santa" Inquisição. Para não falar da pedofilia, em Papas sodomitas e assassinos. Houve tragicamente de tudo. 
 
Com uma diferença para pior. É que, na hora do apuramento das contas, dos maçons os honrados ainda podem dizer que, dada a discrição com que tudo se passa no seu seio, não sabiam do que de gravemente errado se passava na Obediência, e dada a autonomia de cada loja e seus triângulos poderão argumentar que só algumas estarão em crime de prevaricação e que ainda há quem se salve. 
Na Igreja Católica, das catedrais carregadas de ouro às capelinhas rurais despidas de qualquer adorno, tudo se passou e passa sempre de casa cheia e à vista de todos. Todos os que se ajoelham em oração ou no silêncio dos seus lares rezam ao santo da sua devoção não ignoram o que foi e o que é o Templo Universal a que pertencem e sobretudo a sua História. Impõe-se-lhes humildade e pedido de perdão. Quem estiver livre de pecado que atire a primeira pedra.
 
As centenas de milhares de seres humanos que, em nome da Fé Cristã, foram exterminados, no dia do Juízo Final levantarão, acusadores, o dedo, sim, para para toda a cristandade. O mesmo Deus que permitiu a matança terá de absolver os matadores.
 
Inocentes há seguramente também no catolicismo, os que estão na religião por uma união mística com o Divino, os da Igreja de Paulo pedindo perdão pela Igreja de Pedro. Os que rezam a Deus e não a sacerdotes, os que renegam o Bezerro de Ouro, os que clamam por Jesus Cristo e seu azorrague contra os Vendilhões do Templo. Como em todos aqueles cuja Fé passa por Igrejas e Templos.
 
Um dia, na aldeia de Abravezes, era eu garoto, ouvi, à porta de minha casa, a minha mãe, no dia de hoje precisamente e a esta hora entregue na mesa cirúrgica ao acaso da vida e da morte, rematar uma altercação violenta com o cura da paróquia, que se recusara a ir encomendar o corpo de um pobre tuberculoso, que vivia de esmolas num palheiro, por não ser dos que pagava a côngrua. Rematando o responso, ela que tinha ido ao cemitério, de livro na mão rezar o «dai-lhes Senhor eterno descanso», o que qualquer Baptizado pode fazer como última oração antes que o pó se torne pó, lançou-lhe, como se em danação moral, àquele vergonhoso vigário: «E saiba Senhor Padre, que a minha Religião é directamente com Deus, dispensa Padres!». 
 
É a diferença entre a Fé, os ideias, os princípios e as organizações humanas que dizem servi-los.
 
Eis o que nesta manhã, o meu coração íntimo dorido sentiu e a minha cabeça privada cansada pensou. Enfim a parte cívica, pública, social: se há que denunciar vigarices, arranjismos, compadrios, pulhices a coberto de organizações, vamos a isso! Mas vamos a direito. Que não seja só nos serviços de informações.  Há uma forma simples: cada um declara a sua pertença presente e passada e o porquê: mas que isso suceda nos jornais, nos tribunais, na política, nas organizações religiosas. Quanto a mim o que havia para saber sabe-se e soube-se pela minha boca.
 
Mas, já agora, porque quando o Sol nasce é para todos e o de hoje teimou em chegar, há horas com este texto que arranco às entranhas da alma, não só ser maçon: que nada escape. Que se faça um varejo de alto a baixo da influência e penetração que tiveram outras organizações, essas à pala da religião, na vida portuguesa. 
 
Basta de hipocrisia, chega de velhacaria! 
 
A certos e determinados que estão silenciosos quais fantasmas, lembro-lhes, para incutir ânimo, o que o seu Jose Maria Escrivà de Ballaguer escreveu: «Vira as costas ao infame, quando sussurra aos teus ouvidos: "Para que te hás-de meter em complicações?"».  Venham esses também, para a praça pública, que agora é que isto está bom e sobretudo apetitoso e é a oportunidade sacrificial da mortificação. 
 
Querem portanto discutir os organismos de influência em Portugal e no Mundo? Embora, vamos a isso! Até por uma questão de higiene moral e cívica.
 
É pois hora de barrela!  Hora de arregaçar mangas, pôr a água a correr, venha a sabonária e a lixívia. 
Que este Pais, que mete nojo e cheira mal, está a precisar de uma boa esfrega!
 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O País desistiu de Alexandre Soares dos Santos

Tive o privilégio de trabalhar com Alexandre Soares dos Santos (ASS), numa altura em que o Pingo Doce era um pequeno negócio pertencente a um accionista de base industrial, numa sólida parceria com a Unilever. Conheci um homem austero, discreto. 

Não me recordo dele por ser um homem afável ou particularmente próximo. Lembro-me no entanto, de um empresário particularmente cuidadoso e ponderado nas suas decisões, um empreendedor que arriscava o capital e os seus activos. Foi assim que comprou as lojas ao Pão de Açúcar, o Recheio, o Cash & Carry Arminho, o Feira Nova, os Supermercados Inô e a cadeia Biedronka e Eurocash na Polónia ou o investimento falhado no Brasil.

Recordo-me também de um empresário justo e com uma enorme preocupação social. Na altura, a Lever, joint venture entre a JM e Unilever, era uma das melhores escolas de gestão do País, um dos melhores ambientes de trabalho que conheci, onde o mérito era reconhecido e premiado com justiça e equidade.

A mesma política continuou ASS na distribuição e retalho. Em 2009 distribuiu 240 € a todos os cargos não dirigentes. Em 2010 foram 250 €, distribuídos a mais de 50.000 empregados, ou seja cerca de 12,5 milhões de Euros. Isto sem contabilizar o valor para aumentos salariais e outras regalias.

Acresce ainda, que hoje a JM é uma sociedade cuja maioria das receitas e margem tem origem fora de Portugal, valor que irá crescer com os investimentos superiores em 2 mil milhões de Euros previstos para a Polónia e Colômbia

Tenho realmente pena que ASS tenha desistido do País. Mas mais lamentável ainda, é que o País tenha desistido, hà muito, de empresários com o nível de empreendedorismo e dinamismo de Alexandre Soares dos Santos. As empresas não são dos Países onde vivem os seus accionistas, nem tão pouco dos Países onde nasceram. As empresas estão onde lhes proporcionam condições para investir e que permitem crescimento e rentabilidade aos seus accionistas.

Esta é a triste consequência de um País que durante os últimos 30 anos andou a engordar com aumentos consecutivos de impostos para empresas e cidadãos. Perdeu a competitividade. O peso da maquina fiscal, da burocracia, dos aumentos da mão de obra sem a correspondente aumento da produtividade e a conhecida rigidez laboral. 

Portugal tornou-se num monstro devorador alicerçado em direitos insustentáveis, de investimentos dificilmente justificáveis, ou modelos de gestão facilmente criticáveis Com isto, o Pais não cresceu, antes engordou. Tornou-se balofo e deixou de acompanhar o ritmo. ASS e a JM apenas fizeram aquilo que os seus accionistas, trabalhadores e clientes lhe pedem diariamente – que continuem a crescer, a criar emprego e a remunerar os seus accionistas e pagar salários aos seus trabalhadores.

E já agora, parafraseando o meu amigo Pedro, no Facebook: “Todos os que rasgam as vestes com a notícia de que Soares dos Santos transmitiu acções da Jerónimo Martins para uma sociedade com sede na Holanda, não se esqueçam de não encher o depósito em Badajoz. “
 
Por Manuel Castelo Branco, In 31 da Armada

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Europeu de 2012 - Portugal a seleção que mais gasta.

Cristiano Ronaldo, Pepe, Coentrão e companhia vão pagar 33.174 € por noite, no Opalenica hotel, durante o Campeonato Europeu a realizar na Polónia e Ucrânia no próximo verão.

Perto destes números está a Rússia, que vai pagar 30.400 € por diária no seu hotel em Varsóvia.

O valor pago pela Federação Portuguesa de Futebol, e consequentemente pago pelos contribuintes Portugueses, é sete vezes superior ao que paga a Espanha, que será a seleção que menos pagará por pernoita, de todas as selecções nacionais envolvidas nesta competição. 

 A seleção espanhola, que vai ficar no Hotel Mistral Gniewino, a poucos quilómetros de Gdansk, a sua base durante os seus três primeiros jogos, paga 4.700 € . Este preço, é comum aos jogadores, treinadores, dirigentes e outros membros da expedição, ou seja, cerca de 40 elementos.

A Dinamarca, que vai ficar em Kolobrzeg, será o segundo com menos despesa, 7.700 €, e a Croácia, cuja sede será em Warka, completa este pódio particular, com 8.300 € por dia.

Pelo contrário, a seleção que mais paga pela a sua estadia é Portugal, próprio de um país rico e desenvolvido... Será ?!?!? 

Vejam a lista completa das seleções, e das suas despesas em acomodação, durante o próximo Campeonato Europeu.

1. Portugal - Opalenica       - 33.174 €
2. Rússia - Varsóvia            - 30.400 €
3. Polônia - Varsóvia           - 24.000 €
4. Irlanda - Sopot                 - 23.000 €
5. Alemanha - Gdansk         - 22.500 €
6. R.  Checa - Wroclaw        - 22.200 €
7. Inglaterra - Cracóvia         -19.000 €
8. Holanda - Cracóvia           -16.200 €
9. Itália - Wieliczka               -10.500 €
10. Croácia - Warka                -8.300 €
11. Dinamarca - Kolobrzeg   - 7.700 €
12.Espanha  - Gniewino        - 4.700 €

Há que rectificar este País, por Julio Seabra

A Dra. Manuela Ferreira Leite, em plena AR, afirmou que seria prudente suspender a nossa democracoia por 6 meses. Foi ferozmente atacada, principalmente pela esquerda radical . Não estou a eleger culpados, porque estes não precisam de ser "eleitos", precisam é de serem julgados e condenados exemplarmente. 

É noticia corrente e actual, que em Espanha estão mais de 300 autarcas presos por corrupção. 

No Brasil, Inglaterra e noutros paises as "figuras públicas, governantes, politicos, autarcas, banqueiros e outros oligarcas, que se meteram em esquemas corruptos, foram julgados, e estão a cumprir penas de prisão.

Em Portugal, os corruptos, os mentirosos, são protegidos, e muitos deles têm lugar na AR e em lugares chave da economia portuguesa. 

À medida que vão sendo conhecidos mais casos de podridão, mais a revolta se instala no meu espirito, porque não posso de forma alguma pactuar com este estado desvairado em que uma revolução feita por quem já estava governado, colocou, sem escrúpulos de qualquer espécie, o nosso País, na bancarrota, no desespero, á beira de uma guerra civil. 

Se tivessemos um Presidente da República com "tomates", apoiado pelas forças armadas, que dissolvesse a AR e assumisse os destinos da Nação, estariam reunidas as condições para se salvar o País, fazendo-se simultâneamente uma revolução cultural, pois de revolução cultural é que o País necessita, para que se ensine o que é verdadeiramente a democracia, e quais são os valores morais duma família e duma sociedade, e para que se aprenda, que a nossa liberdade acaba quando a do nosso vizinho começa... 

O 25 de Abril contribuiu de forma terrível para o descambar da equidade social, para o nascimento de um exército de poderosos, para a eliminação da classe média e para o aumento dos pobres. 

E não foi este o País que o meu pai desejou para mim e eu não desejo para os meus filhos e para os meus netos. 

Ainda vamos a tempo de RECTIFICAR este país ...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mário Soares: o perfume barato do contar...Por José António Barreiros

Sabia que me iria irritar. Que o livro "Um Político Assume-se", seria uma forma de se justificar perante a História, já que não perante a sua consciência. Mesmo assim insisti em querer vê-lo. Foi esta noite. 

Fui directo à página onde, na obra que diz ser de memórias políticas, Mário Soares trata do que eu conheço de perto, por ter vivido na pele parte da trama:a história da sua ligação, enquanto Presidente da República, ao território de Macau. 

Detive-me nas linhas que dedica ao caso Emaudio/TDM. Poucas linhas, esclarecedoras linhas. Diz que foi afinal uma campanha lançada «pela extrema direita» contra ele, para o envolver na história. Mente, por contrariar a verdade. A questão não tem a ver com políticos de qualquer quadrante que se tenham mobilizado contra si, mas com os factos que não se conseguem iludir. 

Acrescenta que na origem da campanha esteve o Rui Mateus. Mente por sobre-simplificar a verdade. O papel de Rui Mateus é prévio na próxima ligação à sua pessoa, contemporâneo com todo o caso e posterior com maior intensidade no que se refere ao caso da Weidelplan/Aeroporto de Macau, mas o assunto transcende-o e em muito. Para enxovalhar Rui Mateus, Soares diz que o conheceu empregado de um restaurante e que teve uma ambição tal que quis ser ministro dos Negócios Estrangeiros do seu Governo. Mente por omissão da verdade. A ligação entre os dois é muitíssimo mais vasta, próxima, e, é só ler o livro que aquele escreveu, para concluir que em matéria de "comedorias" o conhecimento não se limitou a restaurantes. 

Remata, enfim, dizendo que envolveram no assunto o então Governador de Macau, Carlos Montez Melancia, que seria absolvido judicialmente. Mente por adulteração da verdade. A história do processo judicial ainda está para ser contada, como a história dos processos judiciais que nunca existiram em torno do caso. E como é que a absolvição do Governador neste processo deu em condenação em outro, o "caso do fax". 

No momento em que escrevo estas linhas hesito se contarei ou não toda a história desse aproveitamento político, económico e pessoal da televisão de Macau que o livro tenta branquear. Confesso que o descaramento do livro me incendeia um sentido de revolta pessoal. 

Que a "reconstrução" da História me repugna como cidadão, como o faz tanta historiografia oficial arregimentada que tem andado a ser escrita em relação ao que nem regime político chegou sequer a ser e hoje está em estilhaços, o estado cadaveroso do País. 

Sei que se o fizer, contando o que sei, serei sujeito aos efeitos da difamação e do enxovalho, porque ele e este estilo de obra são o rosto de um modo de ser que define a actual Situação, o verso dos que a criaram, o anverso dos que a consentiram. Talvez haja um direito à tranquilidade, minha e dos meus, que eu deveria saber preservar. 

Por outro lado estou perante uma figura pública idolatrada a quem tantos perdoaram tudo, à direita e à esquerda, com quem tantos se arranjaram para tanto. Ficarei isolado e à mercê.Talvez haja, enfim, o respeito devido à idade, se não houvesse o respeito devido à Nação de todos nós. Apodar-me-ão de desapiedado, logo quanto a um livro em que o seu autor se fez cercar, no lançamento, da imagem inocente dos seus netos. 

Vou tentar tranquilizar o espírito e logo verei. Até passar o hálito da sordidez do caso e do perfume barato com que agora o vejo contado. 

José António Barreiros,15.12.2011