terça-feira, 28 de abril de 2009

Os Bons e os Maus - Mário Crespo

Já há mais jornalistas a contas com a justiça por causa do Freeport do que houve acusados por causa da queda da ponte de Entre-os-Rios.

Isto diz muito sobre a escala de valores de quem nos governa. Chegar aos 35 anos do 25 de Abril com nove jornalistas processados por notícias ou comentários com que o Chefe do Governo não concorda é um péssimo sinal.

O Primeiro-ministro chegou ao absurdo de tentar processar um operador de câmara mostrando que, mais do que tudo, o objectivo deste frenesim litigante é intimidar todos os que trabalham na comunicação social independentemente das suas funções, para que não toquem na matéria proibida.

Mas pode haver indícios ainda piores. Se os processos contra jornalistas avançarem mais depressa do que as investigações do Freeport, a mensagem será muito clara. O Estado dá o sinal de que a suspeita de haver membros de um governo passíveis de serem corrompidos tem menos importância do que questões de forma referentes a notícias sobre graves indícios de corrupção.
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2 comentários:

Leonoreta disse...

Neste país do mete-nojo já nem vale a pena gritar "o rei vai nu". Muitos de nós têm essa percepção, mas quase todos ficamos sem saber para onde nos virarmos porque, na realidade, não é apenas o rei que exibe a sua nudez mas toda uma côrte.

A imprensa há muito que é controlada por poderes ocultos. Além de soberanias menores, quase sem importância, em que os clientes pagantes da publicidade definem o que querem ler ao lado das suas marcas, há questões muito mais profundas e perigosas.
Não esqueço a dispensa do último director da Grande Reportagem (semanal), de quem se me escapa o nome, nunca bem explicado mas, dando ouvidos aos sussurros, motivada pelo ataque frontal a uma orca velha, por acaso também socialista-diamanteira-marfineira, entre outras coisas, ao que consta.

Não sei o que se passa no caso Freeport. Como leitora e telespectadora, os órgãos de comunicação que começaram a mexer no aparente penico não me merecem qualquer credibilidade; não sou socialista e menos ainda uma socrática, e neste momento temo efectivamente pela liberdade de expressão de um povo e de um país – sim, porque muitas outras já as perdemos pelo simples facto de estarmos absolutamente depauperados em questões tão essenciais como a sobrevivência, a educação e a saúde. Temo por outra maioria absoluta que pode vir a ser manipulada nas urnas; temo porque nos distanciámos, desmotivados por tanta mentira e corrupção; temo porque o povo português não é, nunca foi, lutador, dificilmente criando e mantendo ideais de cariz social; temo porque estamos a vivenciar uma ditadura encapuçada de democracia; temo porque, ao que julgo saber, o polvo é enorme e os seus tentáculos abraçam uma infinidade de gente e de sectores e temo, finalmente, porque não vejo alternativas credíveis.

Thaypan disse...

Prosa a preceito.Quem escreve assim, deveria, ser sempre, primeira página.